Ricardo Robles renuncia ao mandato depois da polémica com imóvel em Alfama
Apanhado numa polémica relacionada com um imóvel em Lisboa, Ricardo Robles decidiu renunciar aos mandatos de vereador na Câmara Municipal de Lisboa e coordenador na concelhia do BE em Lisboa.
Ricardo Robles renunciou aos mandatos de vereador na Câmara Municipal de Lisboa e de membro da comissão coordenadora concelhia de Lisboa do Bloco de Esquerda. A informação foi avançada pelo site Esquerda.net. Na sexta-feira, Ricardo Robles tinha garantido que não tencionava demitir-se, na sequência da polémica que se gerou em torno do imóvel que detém em Alfama.
“Informei ontem, domingo, a coordenadora da Comissão Política do Bloco de Esquerda da minha intenção de renunciar aos cargos de vereador na Câmara Municipal de Lisboa e de membro da comissão coordenadora concelhia de Lisboa do Bloco de Esquerda”, escreveu Ricardo Robles na declaração de renúncia.
Esta sexta-feira, o Jornal Económico revelou que Ricardo Robles, um dos principais críticos da especulação imobiliária em Lisboa, comprou com a irmã um prédio em Alfama em 2014, em hasta pública, por 347 mil euros. O imóvel foi alvo de obras e esteve à venda durante seis meses, por 5,7 milhões de euros. Contas feitas, Ricardo Robles poderia vir a encaixar uma mais-valia na ordem dos 4,7 milhões de euros.
Na declaração de renúncia, publicada esta segunda-feira, Ricardo Robles reconhece não ter condições para continuar a ocupar o mandato na Câmara Municipal de Lisboa. “Uma opção privada, forçada por constrangimentos familiares que expliquei e no respeito pelas regras legais, revelou-se um problema político real e criou um enorme constrangimento à minha intervenção como vereador”, refere o bloquista. “Esta é uma decisão pessoal que tomo com o objetivo de criar as melhores condições para o prosseguimento da luta do Bloco pelo direito à cidade”, conclui.
A renúncia de Ricardo Robles surge depois de o PSD Lisboa ter exigido a saída do vereador, na sequência da polémica. No sábado, a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, saiu em defesa do bloquista, acusando a imprensa de publicar “notícias falsas”. “As notícias são falsas, isto é um absurdo”, disse.
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Em sentido inverso, Luís Fazenda, cofundador do partido, condenou a atuação de Ricardo Robles, em declarações ao jornal i, publicadas esta segunda-feira: “São circunstâncias que, no Bloco de Esquerda, nós condenamos e que levam à gentrificação”, afirmou. No entanto, criticou a atenção mediática dada a este caso: “Achei muito interessante este movimento que se estendeu a todo o país. Consegui perceber que teve mais eco do que as bravatas de Manuel Pinho [ex-ministro da Economia, que esteve a ser ouvido no Parlamento esta semana]”, referiu.
Uma opção privada (…) revelou-se um problema político real e criou um enorme constrangimento à minha intervenção como vereador.
Ricardo Robles tem vindo a criticar a especulação imobiliária em Lisboa e o fenómeno da gentrificação, o que lhe valeu acusações de “hipocrisia” depois de conhecido este caso. Na sexta-feira, o agora ex-vereador tinha garantido que não tencionava demitir-se e explicou a sua versão dos factos quanto à tentativa de venda milionária do imóvel.
Segundo o bloquista, o prédio estava em mau estado quando foi comprado em 2014. O imóvel foi adquirido para ser a habitação da irmã e para que as restantes frações fossem colocadas no mercado do arrendamento. Na altura, o prédio em Alfama, junto ao Museu do Fado, tinha cinco inquilinos.
No entanto, a irmã de Ricardo Robles casou com um cidadão alemão e ambos foram viver para a Bélgica, explicou o ex-vereador. “A minha irmã teve de refazer o seu quadro de compromissos financeiros, para além de, estando no estrangeiro, ficar indisponível para a gestão dos futuros arrendamentos. Foi nesse contexto que aceitei colocar este imóvel à venda, ao contrário do plano inicial”, disse Ricardo Robles numa conferência de imprensa na sede do partido.
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Avaliado o imóvel por uma agência, o mesmo acabou por ser posto à venda por 5,7 milhões de euros, um valor muito superior ao preço da aquisição e às despesas com as obras. Ricardo Robles não só terá acrescentado um piso ao edifício como, segundo a imprensa, o anúncio da venda indicava que as frações do prédio estavam preparadas para serem postas no mercado do alojamento local.
Nessa conferência de imprensa, Ricardo Robles assumiu que vai colocar o prédio em propriedade horizontal, em copropriedade com a irmã. Nesse sentido, prometeu não pôr à venda as suas frações do prédio e disse que as vai colocar no mercado de arrendamento. Atualmente, o prédio terá apenas um inquilino, que paga 170 euros mensais de renda, um preço abaixo do valor de mercado para aquela zona da capital.
(Notícia atualizada pela última vez às 12h35 com mais informações)
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