“Bancos centrais foram determinantes” após a queda do Lehman Brothers, diz Carlos Costa
O sentimento público e político mostrou-se crescentemente avesso ao resgate público e impôs-se o modelo de defesa da absorção das perdas pelos ‘stakeholders’ das instituições, diz Carlos Costa.
O governador do Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa, destacou esta quinta-feira à Lusa a importância do papel dos bancos centrais ao longo da crise iniciada pela queda do Lehman Brothers em 15 de setembro de 2008.
“Ao longo deste processo, os bancos centrais foram determinantes: forneceram aos bancos a liquidez que os mercados não renovaram, intervieram nos mercados primário ou secundário (caso do Sistema Europeu de Bancos Centrais) e, assim, garantiram que uma crise da mesma escala da Grande Crise de 1929 não tivesse tido o impacto negativo dos anos trinta”, sinalizou.
"Ao longo deste processo, os bancos centrais foram determinantes: forneceram aos bancos a liquidez que os mercados não renovaram, intervieram nos mercados primário ou secundário (caso do Sistema Europeu de Bancos Centrais) e, assim, garantiram que uma crise da mesma escala da Grande Crise de 1929 não tivesse tido o impacto negativo dos anos 30.”
Para Carlos Costa, a crise iniciada em 2008 foi um abalo comparável à Grande Depressão, com vagas sucessivas de crises potenciadas pela exposição ao crédito imobiliário dos Estados Unidos e pela acumulação de endividamento público.
Também pelo grau de endividamento do setor privado em alguns países europeus.
“Com o colapso do Lehman Brothers, as ondas de choque foram afetando, sucessivamente, instituições financeiras que tinham investido em títulos representativos de crédito de elevado risco, entidades que participaram ativamente na alimentação da bolha de crédito imobiliário de determinados países e, por fim, instituições que tinham financiado a expansão da sua carteira de crédito com recurso ao mercado financeiro internacional”, recordou.
Gerou-se então uma crescente aversão ao risco por parte dos investidores, que acabou por se focar nos países com fracos crescimentos e elevado endividamento, dando origem à crise da dívida soberana, continuou.
“No início da crise, as autoridades avançaram com intervenções públicas, sobretudo nos bancos de dimensão internacional. Depois, o sentimento público e político mostrou-se crescentemente avesso ao resgate público e impôs-se o modelo de defesa da absorção das perdas pelos stakeholders das instituições e criaram-se esquemas de mutualização das perdas pelo conjunto do sistema bancário, em nome do interesse comum de salvaguarda da estabilidade do sistema financeiro”, acrescentou.
Dez anos depois da queda do Lehman Brothers houve melhorias no sistema financeiro mas ainda insuficientes e a Europa e Portugal vivem uma recuperação incerta e com problemas, que servem de combustível a populismos, segundo economistas contactados pela Lusa.
A crise financeira não eclodiu em 15 de setembro de 2008, mas o dia em que nos Estados Unidos o banco de investimento Lehman Brothers declarou falência tornou-se um marco, já não era possível ignorar uma crise alimentada pela desregulação financeira e pela bolha imobiliária, que rapidamente se alastrou à Europa, onde era evidente o elevado endividamento das famílias, empresas e Estados e a fragilidade bancária perante uma supervisão ineficaz.
Uma década passada, economistas e académicos consideram que houve evoluções significativas, a maior solidez dos bancos (que foram obrigados a recapitalizar-se), a melhor regulação, a supervisão de nível comunitário, e o facto de se ter conseguido que a recessão económica fosse menos desastrosa do que se perspetivava. Contudo, avisam, há muito por fazer.
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