Alcochete, Cashball, capitais próprios negativos e outros 21 riscos da emissão do Sporting
De Alcochete e Cashball aos capitais próprios negativos, passando pela dependência de "sucessos de natureza desportiva", o Sporting elenca 24 riscos associados ao empréstimo obrigacionista.
O Sporting lançou, esta sexta-feira, uma emissão de obrigações para obter 30 milhões de euros, montante que servirá para fazer o reembolso de uma outra emissão que vence este mês. A SAD leonina propõe pagar uma juro de 5,25% ao ano e reembolsar os investidores no prazo de três anos. A operação arranca já na segunda-feira, 12 de novembro, e decorre até dia 22 do mesmo mês.
Aos investidores que pretendam participar nesta operação, o Sporting dá a conhecer os riscos que lhe estão associados. Dos casos de Alcochete ou do Cashball aos capitais próprios negativos, passando pela dependência de “sucessos de natureza desportiva”, o Sporting elenca um total de 24 “principais riscos específicos do emitente”.
- Capitais próprios negativos ou próximos de zero. O capital próprio da Sporting SAD, a 30 de junho de 2018, era de 13.323.556 milhões de euros negativos. Já no primeiro trimestre do exercício de 2018/2019, o capital próprio da instituição passou a ser de 549.361 euros. “Existe um desequilíbrio financeiro e económico, sendo o passivo corrente superior ao ativo corrente em cerca de 137 milhões de euros a 30 de setembro de 2019, o que pode condicionar a atividade da Sporting SAD e o cumprimento dos compromissos financeiros assumidos”, pode ler-se no prospeto da operação. E salienta: “historicamente, o capital próprio da Sporting SAD registou valores negativos, tendo no exercício de 2016/2017 evoluído para uma situação líquida positiva, decorrente em larga medida da implementação de um processo de reestruturação financeira (…), mas ainda insuficiente para ser superior a metade do capital social”.
- Incerteza material relacionada com a continuidade na Certificação Legal das Contas Anuais do exercício 2016/2017, na Certificação Legal das Contas e Relatório de Auditoria de 30 de junho de 2017.
- Incerteza material relacionada com a continuidade na Certificação Legal das Contas Anuais do exercício 2017/2018, na Certificação Legal das Contas e Relatório de Auditoria de 30 de junho de 2018.
- Ênfase no Relatório de Revisão Limitada relativo às contas do primeiro trimestre de 2018/2019.
- O emitente tem responsabilidade pelos contratos de financiamento com empresas do Grupo Sporting, pelo que o incumprimento das obrigações das entidades do Grupo Sporting ao abrigo dos respetivos contratos de financiamento poderá ter um impacto financeiro adverso no emitente.
- A atividade da SAD está subordinada a sucessos de natureza desportiva. Como é referido no prospeto, a SAD “depende da existência de competições desportivas nacionais e internacionais de futebol profissional, da manutenção dos seus direitos de participação e da performance desportiva alcançada pela sua equipa de futebol, nomeadamente da possibilidade de apuramento para as competições europeias, principalmente na UEFA Champions League.
- A SAD está também dependente da projeção mediática e desportiva do clube. “Parte significativa dos proveitos de exploração da Sporting SAD resulta de contratos de cedência dos direitos de transmissão televisiva dos jogos de futebol e de contratos publicitários, os quais ascendem a 38,5 milhões de euros no exercício de 2017/22018 e a 9,6 milhões de euros no final do primeiro trimestre de 2018/2019, os quais representaram, respetivamente, cerca de 31,2% e 20,5% dos proveitos operacionais do emitente”.
- O emitente está sujeito à execução do contrato de cessão dos direitos de transmissão televisiva dos jogos.
- O emitente está sujeito às regras e diretrizes de Financial Fair Play emitidas pela UEFA, um regulamento que implica, entre outras obrigações, a “inexistência de dívidas vencidas e não pagas a outros clubes ou sociedades desportivas no âmbito de transferências de direitos desportivos de jogadores, bem como aos seus trabalhadores, incluindo aos jogadores, às autoridades tributárias e à Segurança Social.
- O emitente está dependente dos rendimentos e gastos com transações de jogadores de futebol devido à sua relevância. No último exercício, os rendimentos com estas transações ascenderam a 31,4 milhões de euros, o que representou 25,5% dos proveitos operacionais da SAD.
- Incerteza na apreciação da justa causa no despedimento dos jogadores do Sporting e quantificação da respetiva indemnização. Em causa está a o caso de violência em Alcochete, que levou à resolução do contrato, invocando justa causa, por parte de nove jogadores: Rui Patrício, Daniel Podence, Gelson Martins, Bruno Fernandes, William Carvalho, Bas Dost, Rodrigo Battaglia, Ruben Ribeiro e Rafael Leão. Bruno Fernandes, Bas Dost e Rodrigo Battaglia recuaram na intenção de se desvincular do Sporting e foram reintegrados no plantel.
- A atividade da SAD pressupõe a manutenção de uma relação privilegiada com o Sporting Clube de Portugal e qualquer alteração desta situação poderá afetar significativamente a atividade da SAD.
- A alienação de passes dos jogadores está sujeita a variações nas tendências do mercado de transferências.
- O emitente está sujeito a riscos conjunturais de âmbito nacional e internacional.
- Risco de incumprimento das obrigações. “O pagamento de juros e o reembolso do capital relativo às obrigações encontra-se sujeito à capacidade financeira do emitente. Assim, caso o emitente não disponha de capacidade ou meios financeiros, não será reembolsado o capital investido e não serão efetuados pagamentos dos juros”, alerta a SAD.
- Risco de liquidez. “O risco de liquidez é definido como sendo o risco da falta de capacidade para liquidar ou cumprir as obrigações no prazo estipulado e a um preço razoável. A 30 de setembro de 2018, o passivo corrente é superior ao ativo corrente em cerca de 137 milhões”, pode ler-se no prospeto.
- Risco de financiamento. Caso a procura nesta emissão não responda ao objetivo do Sporting, de captar 30 milhões de euros, existe o risco de o empréstimo que vence este mês não poder ser reembolsado.
- O emitente encontra-se exposto ao desempenho financeiro de entidades do Grupo Sporting.
- Risco da taxa de juro de financiamento a taxa variável. A Sporting SAD está exposta “ao risco de variabilidade dos fluxos de caixa resultante da alteração das taxas de mercado”.
- Risco de taxa de câmbio em operações de compra e venda de passes de jogadores.
- Risco de créditos concedidos e perdas por imparidade.
- Ausência de notação de risco. “A Sporting SAD não dispõe de notação de risco (rating), não tendo também sido solicitada notação de risco para a presente emissão de obrigações. Tal situação poderá dificultar a avaliação, por parte dos investidores, do risco do investimento nas obrigações”.
- Alcochete. O caso da invasão da Academia Sporting, em Alcochete, é um dos dois processos judiciais destacadas pela Sporting SAD. “O procedimento criminal encontra-se na fase de inquérito, tendo cerca de quatro dezenas de indivíduos sido indiciados pela prática dos crimes de terrorismo, ofensa à integridade física qualificada, ameaça agravada, sequestro e dano com violência e sujeitos à medida de coação mais gravosa – a prisão preventiva”. A SAD diz não ser “possível antecipar os impactos desportivos ou económicos que este processo possa provocar no emitente”.
- Cashball. Também este processo está em fase de inquérito, não sendo também possível antecipar os impactos deste caso.
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