Like & Dislike: Congratulations, Mr President Centeno
No dia em que completa um ano como presidente do Eurogrupo, Centeno recebeu o presente que mais desejava e mais falta lhe fazia: peso e currículo europeu.
Há precisamente um ano Mário Centeno era eleito pelos seus pares presidente do Eurogrupo. A decisão tinha tanto de histórica, como de insólita e bizarra. Quem ia ser o guardião das regras orçamentais do euro seria o representante de um país recentemente alvo de um resgate e, além disso, a chave do Tratado Orçamental seria entregue a um ministro cujo Governo é apoiado por dois partidos que contestam as políticas do Eurogrupo e da Zona Euro.
O Mário Centeno que chegou ao Eurogrupo há um ano era um ministro com problemas de comunicação, pouco à vontade, desconfortável, tímido, nervoso, características que contrastavam com a exuberância, desenvoltura e a mestria na comunicação de Jeroen Dijsselbloem. Centeno era o “nice guy”, que não aquecia, nem arrefecia, e não tinha peso político. Colocou como prioridade do mandato completar a reforma da Zona Euro, ou seja, dar corpo àquilo que Merkel e Macron acordaram no palácio barroco de Meseberg, a 65 quilómetros de Berlim.
Centeno encontrou vários obstáculos pelo caminho. Até março, os alemães andaram às voltas para tentar formar Governo e sem a Alemanha nada se decide na Europa. A cimeira de junho, logo a seguir aos populistas terem tomado o poder em Itália, acabou por se centrar apenas na migração, relegando a reforma da Zona Euro para a cimeira de 14 de dezembro.
Mário Centeno recebeu na altura um mandato para tentar apresentar aos líderes europeus um projeto de reforma da Zona Euro. Não era fácil consegui-lo. Merkel e Macron já não são os mesmos dois líderes que apertaram as mãos no palácio de Meseberg. A chanceler alemã está de saída e Macron está fragilizado internamente pelos milhares de “coletes amarelos” que invadiram as ruas de Paris.
Apesar disto, o ministro das Finanças português conseguiu esta madrugada um acordo. Depois de 18 horas de negociações, 17 homens e duas mulheres saíram da sala do Eurogrupo com grandes olheiras e com um draft para reformar a Zona Euro.
“We made it”. Foi um Mário Centeno triunfante que saiu da reunião do Eurogrupo. Foi a primeira grande vitória do português à frente daquela instituição. Muitos dirão que Mário Centeno já tinha conseguido uma vitória ao fechar o programa de assistência à Grécia e ao gerir o dossier do Orçamento italiano. Quem tem acesso aos bastidores dá o mérito de desbloqueador destes impasses a Bruno Le Maire e a Pierre Moscovici, e não propriamente a Centeno que se limitou a ser um corta-fitas.
Mas o acordo desta madrugada tem o dedo de Mário Centeno e tem o simbolismo de acontecer numa altura em que os 19 se preparam para comemorar os 20 anos do euro. Espremendo o acordo, o que de relevante saiu da reunião do Eurogrupo?
O Politico, citando um economista alemão, fala num “reförmchen”, ou seja, numa mini-reforma. Terá alguma razão: o Sistema Europeu de Garantia de Depósitos, isto é, o terceiro pilar da União Bancária, bem como a criação de um orçamento único para a Zona Euro foram atirados para as calendas gregas, para junho de 2019.
Do acordo dos 19 saíram dois instrumentos importantes para salvar bancos e salvar os países do euro. O Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) vai ganhar novas competências, sendo a mais importante a de funcionar como mecanismo de último recurso (backstop) do Mecanismo Único de Resolução. Além disso, o Fundo de Resgate passará a poder emprestar dinheiro aos estados-membros com economias saudáveis, mas que tenham sido alvo de um choque externo. Ou seja, o Mecanismo Europeu de Estabilidade deixará de servir meramente como instrumento de bailout e ganha um caráter e uma função profilática e preventiva.
Resumindo, há acordo para profissionalizar e desdramatizar os instrumentos para salvar bancos e países. Ainda não há acordo para partilhar o risco bancário (que seria o Sistema Único de Garantia de Depósitos) e o risco soberano (criação de um orçamento da Zona Euro). Lá para os lados da Liga Hanseática, o moral hazard ainda é um tema. Os Salvini e os Di Maio são a prova de que a Europa ainda não está preparada para uma maior integração e partilha de riscos.
É pouco o acordo, dirão. Mas hão de convir que na história do euro nunca se fizeram reformas relevantes que não fossem com a corda no pescoço ou à beira do precipício. Por isso é que esta ‘reförmchen’, feita numa altura de relativa prosperidade económica e à beira de eleições europeias, merece o nosso aplauso. Mário Centeno, que é a cara do Eurogrupo, merece grande parte do crédito.
Centeno, que há precisamente um ano era escolhido pelos seus pares para liderar o Eurogrupo, ganha currículo e peso político na Europa. E está bem lançado para ser vice da Comissão com a pasta das Finanças no pós-europeias de 2019. Por isso merece um Like.
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