Londres em “Brexit Fatigue”
“A confusão é tanta, as opções são tantas e a berraria dos media é tal que, grande parte das pessoas, já só quer saber o resultado final”, diz Pedro Pina, ex-presidente da McCann em Portugal.
Na televisão, nos jornais, nas paredes ou em conversas, o Brexit é o tema do momento em Londres. Há os Bremains, os Brexiteers e quem esteja em Brexit Fatigue nestes Brexciting Times. E a verdade é que esta última semana era decisiva para o futuro da Europa e do Reino Unido. Era. Porque o único avanço foi mais uma extensão do prazo, conseguido por Theresa May, em Bruxelas.
Megan Gibson é editora na secção de Internacional da Revista Monocle e, em entrevista ao ECO, diz que todos estes adiamentos não a surpreendem: “Para deixar a União Europeia (UE), o Reino Unido precisa resolver décadas de políticas comercial, jurídica e externa, e as red lines que Theresa May impôs dificultam muito mais. É absurdo pensar que a saída da UE seria um processo fácil ou limpo — e qualquer um que sugerisse o contrário ou não entendia ou ignorava a realidade da situação”.
Pedro Pina, ex-presidente da McCann em Portugal, mudou-se há quase uma década para Londres, cidade onde a maioria votou pela permanência e onde os sentimentos têm sido, como descreve na conversa com o ECO “uma mistura de negação do que estava a acontecer (uma esperança escondida de que o problema iria desaparecer) com culpa pela abstenção alta (por muita gente ter assumido que o resultado nunca seria o que foi)”. “Mas, nestes últimos dias, sinto as pessoas meio adormecidas: a multiplicidade de opções e suas consequências é tão grande, que a maioria das pessoas, eu incluído, que estiverem muito envolvidas nos primeiros anos da negociação, começam agora a sentir os efeitos de ‘Brexit Fatigue’. A confusão é tanta, as opções são tantas e a berraria dos media é tal que grande parte das pessoas já só quer saber o resultado final“, explica o executivo.
Megan Gibson, habituada a escrever sobre a atualidade internacional, diz que nestes tempos de incerteza ainda não consegue medir o impacto no caso o Brexit avançar. A acontecer, acredita que se vão perder “as oportunidades e a prosperidade de viver num país da União”, por isso defende a realização de um segundo referendo. “Os sentimentos das pessoas, em geral, estão muito divididos, mas considero que deveria haver um segundo referendo. O primeiro referendo foi realizado há três anos num cenário político muito diferente. Muita coisa mudou, desde então, e dar às pessoas propostas concretas para votar — ao invés de ideias vagas baseadas em falsas promessas — daria ao governo um verdadeiro mandato” acrescenta. Até agora, “poucos políticos agiram admiravelmente neste processo”.
De Theresa May a Boris Johnson e Jeremy Corbyn, aparentemente não há políticos que trabalhem em prol do Reino Unido. Em vez disso, vemos petty politics e oportunismo de carreira em diferentes momentos. Sadiq Khan tem-se feito ouvir sobre manter Londres aberta aos negócios e aos cidadãos da UE que vivem na capital, mas infelizmente a sua voz não tem muito peso no processo formal.
Pedro Pina, que hoje tem dupla nacionalidade, também defende um segundo referendo, alegando que “uma democracia pode enganar-se” e que todo o processo dos consecutivos adiamentos revela “uma falência generalizada da elite política inglesa”. “Se há consenso entre votantes de ambos os lados é que os atuais líderes não servem. O desespero é muito grande neste momento”, acrescenta.
Não conheço ninguém que não pensasse que o que se pretendia era não só difícil, como impossível. O Reino Unido quer todos os benefícios da UE sem ser parte do grupo. A promessa dos ‘leavers’ era uma quimera populista, sem qualquer plano associado, sem adesão a nenhuma realidade económica, financeira ou legal e sem pernas para andar. O voto ‘leave’ ganhou sem esperar e, por isso, viu-se obrigado a governar sem saber como. Muito semelhante ao que aconteceu na Casa Branca.
Uma escolha histórica em que Pedro Pina defende que os britânicos deveriam ter a oportunidade de reconfirmar o seu voto ou modificá-lo, sabendo hoje a magnitude da escolha que fazem, considerando uma saída abrupta da Europa uma “calamidade de proporções geracionais para o Reino Unido”. O gestor sublinha que os sucessivos adiamentos do prazo para o Brexit devem ser visto à luz de que “pela primeira vez na historia da mais antiga democracia do mundo, o que o povo expressou em votos não é o que os deputados que o representa querem”. Por um lado, os britânicos votaram por uma saída, “mas os seus representantes, no fundo, sabem que essa é uma péssima decisão determinada por um referendo não vinculativo, mal organizado por quem queria ficar e horrivelmente manipulado por quem defendia sair”.
Pedro Pina assume-se um apaixonado pelo projeto europeu “como projeto de paz e estabilidade”, ainda que com os seus defeitos, e revela que sempre teve no Reino Unido uma força reformadora importante. “Uma Europa centrada na Franca e na Alemanha cederá sempre a tiques legalistas e reguladores. A perspetiva empreendedora e liberal do Reino Unido, como forca de inovação, fará muita falta” diz, caso o Brexit se confirme.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Londres em “Brexit Fatigue”
{{ noCommentsLabel }}