Britânicos votam para a Europa com May “por um fio” em Londres
Os britânicos não pensavam que seriam convocados às urnas para o Parlamento Europeu, muito menos teriam pensado há um ano que o processo do Brexit se estenderia para lá de 29 de março. É dia de votar.
O sol tímido desta manhã de 23 de maio antecipa a expectativa de mais um dia longo, agitado e imprevisível em Londres, com eleições europeias a decorrerem nas mais de 50.000 estações de voto espalhadas pelo Reino Unido. São 12 as regiões que elegerão os 73 deputados europeus reservados ao país que em 2016 indicou por referendo a vontade de sair da União Europeia.
Mas nem tudo é matemático nestas eleições. Se os britânicos não pensavam que seriam convocados às urnas para o Parlamento Europeu nesta quinta-feira, muito menos teriam pensado há um ano que o processo do Brexit se estenderia para lá da data inicialmente acordada para a saída, 29 de março, e que Theresa May sobreviveria ao vários chumbos do seu plano e à crescente erosão do seu capital político dentro do Partido Conservador e junto do público.
Neste contexto, ainda mais surpreendente fora o regresso de Nigel Farage com o seu novo partido, Brexit Party, que nas mais recentes sondagens se assume como o putativo vencedor destas eleições de 23 de maio. Apesar das receções menos amigáveis, com arremessos de batidos e ovos à mistura, o antigo líder do UKIP e ainda deputado europeu, rosto incontestável do euroceticismo e daqueles que defendem um “hard Brexit” (saída imediata e sem acordo), lidera as intenções de voto com 32,97%, o que equivaleria a 35 dos 73 assentos no Parlamento Europeu.
Esta tendência é “demonstrativa de como o Brexit ainda domina a política britânica”, diz o investigador associado do Dahrendorf Forum e sediado na London School of Economics, Benjamin Martill, ao ECO. O fracasso na condução tanto das negociações como na gestão política do próprio acordo por parte de Theresa May fez “com que o Partido de Farage – que não tem manifesto e que centra a sua campanha num só assunto (o Brexit) – florescesse”.
O Partido Conservador de May estima-se que não conseguirá eleger mais do que 7 eurodeputados, com apenas 9,59% dos votos, pesando a agravante de nas últimas horas a primeira-ministra ter equacionado um segundo referendo no caso de o seu acordo ser novamente rejeitado em junho. Este recuo fez ressoar os alarmes da fação conservadora que quer sair da União Europeia e a mais recente baixa política fora a líder da bancada dos Conservadores na Câmara dos Comuns, Andreas Leadsom, que afirmou que o novo plano “(…) continha elementos que não poderia apoiar, que não eram Brexit.”
Os trabalhistas de Jeremy Corbyn vêm em segundo lugar, com 15 eurodeputados e 18,12%, nas mais recentes sondagens, atrás do novo Partido de Farage, não conseguindo angariar com sucesso o voto daqueles que não querem que o Reino Unido saída da União Europeia e que pedem um novo referendo. Deste conjunto de eleitores, é o Partido Liberal Democrata liderado por Sir Vince Cable, antigo Secretário de Estado para o Comércio e Indústria no governo de coligação de Cameron, que tem conseguido capitalizar o voto dos “remainers” tanto nas sondagens como nas últimas eleições locais. Estima-se que conseguirá eleger 12 eurodeputados com 15,52% dos votos.
Existe, no entanto, a possibilidade de os liberais democratas ultrapassarem os trabalhistas na contagem dos votos, o que para Benjamin Martill é resultado da “reticência dos trabalhistas em apoiarem um segundo referendo”. Para o investigador do Dahrendorf Forum, “o problema fundamental da política britânica permanece, não havendo solução política para a grande questão que foi deixada em aberto pelo resultado do referendo.” Martill refere que o facto de o referendo não ter sido conclusivo sobre qual o modelo a adotar para essa mesma saída, o que originou grande parte do imbróglio político que assistimos.
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