Draghi admite “estímulos adicionais”. Está pronto para cortar juros caso a economia não acelere
Em Sintra, o presidente do BCE colocou todas as hipóteses em cima da mesa, incluíndo corta juros novamente, e confrontou os críticos: as medidas resultaram e o BCE continuará a fazer o que for preciso
O presidente do Banco Central Europeu, Marido Draghi, disse esta terça-feira em Sintra que caso a situação económica da Zona Euro não melhore o suficiente “serão necessários estímulos adicionais”, e que o BCE está pronto para usar todos os instrumentos que tem disponíveis, incluindo mais cortes nas taxas de juro.
Num discurso em que defendeu todas as medidas não convencionais que foram adotadas durante o seu mandato enquanto presidente do BCE — mandato esse que termina no final de outubro –, e que foram alvo de grande resistência pelos membros mais conservadores e até disputas no Tribunal de Justiça da União Europeia, Mario Draghi disse que as medidas estão de acordo com o mandato dado ao BCE e que a instituição usará toda a flexibilidade de que dispõe para atuar novamente, caso seja necessário.
“Na ausência de melhorias, de tal forma que o regresso sustentado da inflação para a nossa meta é ameaçado, serão necessários estímulos adicionais”, disse o presidente do Banco Central Europeu.
Mas Mario Draghi não se ficou por aqui, e foi mais além dos sinais já dados após a reunião do conselho de governadores do BCE no início deste mês.
Segundo o presidente do BCE, “tal como o nosso enquadramento de política evoluiu no passado para responder a novos desafios, pode fazê-lo novamente” e que nas próximas semanas o conselho de governadores irá ter essa discussão, sobre com os instrumentos que o BCE tem à sua disposição podem ser adaptados na mesma magnitude que a do risco para a estabilidade de preços.
"Na ausência de melhorias, de tal forma que o regresso sustentado da inflação para a nossa meta é ameaçado, serão necessários estímulos adicionais.”
Isto quer dizer, desde logo, que o forward guidance do BCE (orientação sobre o futuro da política monetária) pode ser ajustado para ser mais eficaz e que “continuam a fazer parte do nosso leque de instrumentos mais cortes nas taxas de juro e outras medidas para mitigar” os efeitos da atual conjuntura sobre os preços.
Mario Draghi disse ainda que até o programa de compra de dívida do BCE “tem uma margem de manobra considerável”.
“O tratado obriga a que as nossas ações sejam tanto necessárias como proporcionais para cumprir o nosso mandato e atingir o nosso objetivo, o que implica que os limites que estabelecemos às nossas ferramentas são específicos das contingências que enfrentamos. Se a crise nos mostrou alguma coisa, é que usaremos toda a flexibilidade dentro do nosso mandato para cumprir o nosso mandato — e voltaremos a fazê-lo para responder a quaisquer desafios à estabilidade de preços no futuro. Todas estas opções foram levantadas e discutidas na nossa última reunião”, disse.
Sobre a meta de perto, mas abaixo, de 2% para a taxa de inflação, Mario Draghi explicou que o importante é que essa seja a tendência estrutural e não apenas um valor fixo. Ou seja, para que a inflação seja de perto de 2% no futuro, “a inflação terá de ser superior a esse nível em algum ponto no futuro”, para depois convergir para os 2%.
‘Ja zu allem’, Mr. Weidmann
No seu último Fórum enquanto presidente do BCE, Mario Draghi deixou uma mensagem inequívoca a quem está a seguir o processo de sucessão — e àquele que que é apontado com um dos seus mais prováveis sucessores — sobre como será o futuro da política monetária na Zona Euro.
Jens Weidmann, o governador do Banco Central da Alemanha, tem sido um dos maiores críticos das medidas não convencionais adotadas pelo BCE durante a crise, numa abordagem que foi caracterizada como ‘nein zu allem’ (em português ‘não a tudo’). Mario Draghi, que antes deste discurso vinha acompanhado de Jens Weidmann, desviou-se de governador do Bundesbank no discurso, tal como o fez na passadeira antes de os fotógrafos terem a oportunidade de fotografarem o atual e o potencial futuro presidente do BCE juntos.
Não só Mario Draghi garantiu que o BCE está disponível e pronto para ir além nas medidas para garantir que a inflação regressa ao nível que consideram essencial para a estabilidade de preços, como defendeu as medidas não convencionais que foram tomadas durante a crise, questionando até os seus detratores.
“Alguns até questionaram, e ainda questionam, a legalidade da compra de ativos na Europa e a sua eficácia numa economia ancorada no sistema bancário como a nossa. (…) A nossa capacidade para reagir desta forma foi tornada possível pela flexibilidade que está incluída no nosso mandato, uma flexibilidade que foi confirmada pela decisão recente do Tribunal de Justiça da União Europeia. Essa decisão não só afirmou que a compra de ativos é um instrumento de política monetária legal na Zona Euro, como sublinhou a ampla margem de manobra do BCE no uso de todos os instrumentos que temos à nossa disposição, de forma necessária e apropriada para atingir o nosso objetivo”, disse.
Mas os recados para os mais conservadores não se ficaram por aqui. Mario Draghi garantiu ainda que “não há nada institucionalmente ou legalmente especial na Zona Euro que proíba a política monetária de acrescentar mais flexibilização” quando as taxas de juro não puderem descer mais.
Sobre as medidas já tomadas, garante, “há provas crescentes que estes instrumentos foram eficazes”, e que até as taxas de juro negativas — uma das medidas que mais tem sido criticada pelos países mais conservadores dentro do conselho de governadores — “provaram ser uma ferramenta importante para a Zona Euro, mais do que teriam sido numa economia como a dos Estados Unidos”.
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