A diesel, com 16 anos e 227 mil km. São assim o carros do Estado
O Estado aumentou a frota de automóveis pela primeira vez numa década. Comprou carros novos, muitos deles elétricos, mas são ainda uma "gota no oceano" de um parque velho e poluente.
“Vende-se carro usado, com motor a gasóleo. De 2003, com 227 mil quilómetros”. Este poderia muito bem ser o descritivo de um qualquer anúncio de venda de um automóvel, publicado num qualquer site de automóveis usados. Dificilmente teria muitas visualizações. Praticamente ninguém quer um carro tão velho, nem com tantos quilómetros, mesmo sendo a diesel. Não quer, mas é o que o Estado tem “em casa”. Este é o retrato-robô da extensa frota de automóveis com que todos os dias milhares de funcionários, representantes e governantes se deslocam de norte a sul do país.
A realidade da frota do Estado não é nova, mas a cada ano que passa vai ficando cada vez mais grave. Os anos passam, mas o carros continuam a trabalhar, elevando a idade média dos veículos estatais para uns quase proibitivos 16,6 anos. De 2017 para 2018, a idade média aumentou em mais de um ano (estava em 15,30 anos).
Se a urgência da substituição não for pela idade, sê-lo-á pelas centenas de milhares de quilómetros já percorridos por cada um destes veículos. De acordo com o relatório do Parque de Viaturas do Estado (PVE) de 2018, agora revelado, a média de quilómetros é de 227 mil, com muitos dos carros a superarem a barreira dos 300.000 quilómetros.
Carros velhos, com quilómetros e quilómetros, sendo que a grande maioria destes tem um impacto nefasto no meio ambiente. 74% dos carros do Estado são a gasóleo. Não têm os motores diesel atuais, que teoricamente cumprem com normas antipoluição apertadas. São motores com cilindradas altas, sem filtros de partículas, muitos deles, que emitem elevadas quantidades de CO2.
Conheça aqui, em detalhe, a frota do Estado.
25.802 carros. Frota aumentou pela 1.ª vez numa década
A frota do Estado cresceu em 162 veículos em 2018, para 25.802 automóveis, um aumento de 0,6% que não encontra paralelo no histórico do relatório do PVE. Nos últimos anos, com a política de abate, o parque foi encolhendo de forma progressiva, sendo que mesmo com a compra de novos automóveis, o total está 2.500 aquém do nível registado em 2010.
Renault lidera. Japoneses na luta pelo segundo lugar
Dez marcas são responsáveis por 71% dos veículos do Estado, mas há uma que representa quase 12,5% do total. 3.206 dos carros da frota pública são da Renault, a fabricante que mais vende em Portugal há 22 anos consecutivos. Logo atrás vêm duas marcas nipónicas, a Nissan e a Toyota, em segundo e terceiro lugares, mas separadas por muito poucas unidades: 21. São 2.392 da Nissan contra 2.371 da Toyota, com a Volkswagen a ficar-se pelas 1.828 unidades.
Maioria está paga. Mas já 1.096 alugados
O Estado comprou muitos dos carros que utiliza. 88% dos 25.802 foram, de facto, pagos, havendo depois algumas unidades (cerca de 1.500) que estão a serviço dos funcionários públicos depois de terem sido apreendidos. Há também carros que foram doados, bem como veículos que foram abandonados e aproveitados pelo Estado. E está a crescer o peso dos veículos que são alugados. O Aluguer Operacional de Viaturas (AOV) já representa 4% do total, cerca de 1.100 unidades.
45% dos carros são do Ministério da Administração Interna
O Estado tem muitos carros, sendo que o Ministério da Administração Interna o responsável por tantas viaturas na estrada. É que estão sob a tutela deste as forças de segurança, nomeadamente GNR e PSP, que fazem com que dos 25.802 veículos, 11.555 sejam da responsabilidade do ministério de Eduardo Cabrita.
Carros “verdes”? 6.150 são da GNR
Carros “verdes”, no sentido ambiental do termo, há ainda poucos no parque do Estado. Os verdes dominam, mas só porque 6.150 veículos estão a serviço da Guarda Nacional Republicana, a entidade que mais carros tem. Fica à frente da PSP, que conta com 4.321, e do Exército, em terceiro no ranking, com 2.806 unidades.
Carros quase na maioridade
De acordo com os dados do PVE, no final de 2018 a idade média atingiu um máximo: 16,6 anos, contra 15,30 anos no final de 2017. Mais de metade dos veículos (52%) tem mais de 16 anos, sendo que 16% tem entre 13 e 16 anos. Semi-novos? São apenas 9% do parque total, ou seja, menos de 2.500 veículos.
Conta quilómetros às voltas
Além de velhos, os carros do Estado têm muitos quilómetros, o que o PVE assume que se traduz em custos avultados não só ambientais mas também de manutenção. Carros com 300.000 quilómetros há muitos no Estado. Os dados mostram que 26% já passou desta barreira, sendo que 18% têm entre 200 e 300 mil quilómetros. Menos de um quarto tem menos de 100 mil.
Diesel, diesel e mais diesel
Matos Fernandes não vê com bons olhos os carros a diesel. É crítico destes motores poluentes, sendo que no Estado não faltam exemplares. Entre “TF”, “TDI” ou “dCi”, o Estado conta com 18.993 unidades que utilizam este combustível para andar, o equivalente a 74% do total. De 2017 para 2018, o peso destes até aumentou (era 73%), apesar de outras energias alternativas terem começado a entrar no “mix”. A gasolina representa 24% do total.
Frota elétrica começa a acelerar
As restantes formas de mobilidade têm um peso residual no parque de veículos do Estado, mas cresceram substancialmente em 2018. O Estado tinha, no final de 2018, 219 elétricos e 25 híbridos, contra 55 e 17, respetivamente, um ano antes. Mas continua muito longe aquém da meta do Ministério do Ambiente de ter metade da frota do Estado elétrica.
3.065 carros são para abater
Dos 25.802 carros do Estado, há muitos que já têm destino traçado: são para abater. O relatório do PVE revela que no final de 2018 havia um total de 3.065 veículos com “abate pendente”, permitindo ao Estado renovar a frota. A grande maioria dos carros para abate pertencem ao MAI (por causa das forças de segurança), seguido da Defesa. O Governo também tem alguns para abater. Dos 58 veículos que tinha ao dispor — o gabinete do primeiro-ministro utiliza 26 –, nove são para abater.
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