Quantas toneladas de CO2 emite a energia consumida na sua casa? A ERSE tem a resposta
O novo simulador de rotulagem de energia "vai ao encontro das preocupações crescentes da sociedade em matéria de sustentabilidade ambiental". Os portugueses querem energia mais barata e mais verde.
Depois do simulador de preços de energia e do simulador de potência contratada, a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) lançou agora uma nova ferramenta no seu portal que permite aos consumidores conhecer ao pormenor as fontes de energia (fósseis ou renováveis) usadas na produção da eletricidade consumida lá em casa, e os respetivos impactos ambientais de todas as ofertas comerciais do mercado elétrico (livre e regulado) em Portugal.
Garante o regulador que este recém-estreado simulador de rotulagem de energia “vai ao encontro das preocupações crescentes da sociedade em matéria de sustentabilidade ambiental“. Ou seja, os portugueses não só querem optar pela energia mais barata, mas também pela mais verde possível. Mas serão estes dois objetivos compatíveis?
Começando pelo preço da eletricidade, para um consumidor residencial tipo II — casal com dois filhos –, com uma potência contratada de 6,9 kVA, contagem bi-horária e um consumo de 5000 kWh (3000 kWh fora de vazio e 2000 kWh vazio), a oferta mais barata é o Plano Muon Top, da comercializadora Muon Electric, por 1023,31 euros por ano, o que equivale a 85,28 euros por mês.
Apesar da poupança monetária no orçamento familiar, será esta também a oferta menos poluente? Consultando o simulador de rotulagem de energia para o mesmo consumidor-tipo, a mesma comercializadora e a mesma oferta, descobrimos que a energia elétrica fornecida a esta família foi produzida a partir das seguintes fontes de energia primária: 14% eólica, 13% hídrica, 45% outras renováveis (energia solar, das ondas, das marés, biomassa e biogás); 11% gás natural, 8% carvão, 4% cogeração fóssil e 1% cogeração renovável.
Isto equivale, num ano, a emissões poluentes de 677 kg de dióxido de carbono (56 kg por mês), o equivalente a andar 5419 Km de carro, 1992 Km de avião e 11291 Km de comboio, ao longo de 12 meses.
Comparando com a “oferta mais verde do mercado” apurada pela ERSE — o Plano Negócios Pré-Pago 12 meses, também da Muon Electric — a diferença é brutal, já que neste caso as emissões anuais de CO2 não ultrapassam os 22kg e a eletricidade provém em 82,53% de outras renováveis (solar, entre outras), 15,14% de energia hídrica, 1,47% de energia eólica, 0,38% de gás natural, 0,26% de carvão e 0,14% de cogeração fóssil.
Já no caso da tarifa regulada, apenas disponível no comercializador de último recurso SU Eletricidade (antiga EDP Serviço Universal), para a mesma família da simulação anterior o preço da energia por ano sobe para os 1124,41 euros (93,70 euros/mês) e a pegada carbónica também aumenta.
Aliás, quase que duplica, para mais de uma tonelada: 1256 Kg de CO2 emitidos (105 kg por mês). Olhando ao pormenor, a eletricidade da tarifa regulada provém em 25% da energia eólica, 17% da hídrica, 3% cogeração renovável, 8% outras renováveis, 8% cogeração fóssil, 21% gás natural e 14% carvão.
Além de dar a conhecer as fontes de energia usadas na produção da eletricidade consumida, adicionalmente o novo simulador permite também comparar as ofertas comerciais pelas suas emissões totais associadas ao consumo faturado (com a oferta mais verde do mercado, com a oferta base do mercado, com a oferta mais verde do mesmo comercializador ou ainda com o mix do comercializador).
O objetivo é que o consumidor possa verificar quais as ofertas menos impactantes em termos de emissão de dióxido de carbono (CO2), refere ainda o regulador.
Ou seja, para saber qual é a pegada carbónica da atual oferta de eletricidade que tem contratada para a sua casa basta aceder ao novo simulador da ERSE, indicar o período de faturação (mensal, bimestral ou anual), escolher um agregado de família “tipo” ou inserir o consumo da sua fatura, indicar a região de atuação do comercializador e, por fim, selecionar o seu comercializador de energia elétrica (ordenados de A a Z). Apuradas as emissões da sua atual fatura de energia, poderá então compará-la com a oferta menos poluente em Portugal.
“O simulador de rotulagem de energia elétrica contribui ainda para a promoção da concorrência entre comercializadores, através da criação de estratégias comerciais baseadas na diferenciação das ofertas em função dos impactos ambientais da eletricidade que comercializam, de modo mais transparente”, refere a ERSE em comunicado, sublinhando que esta ferramenta contará com “todas as ofertas comerciais existentes no mercado, incluindo os comercializadores de último recurso que atuam no mercado regulado e as concessionárias de transporte e distribuição das regiões autónomas dos Açores e da Madeira”.
No caso da Goldenergy, por exemplo, a comercializadora informou recentemente a criação de um “rótulo verde”, a incluir nas faturas, com a indicação de qual a origem da energia que os consumidores estão a contratar. “Neste primeiro trimestre de 2020, a eletricidade comercializada pela Goldenergy é 100% de origem eólica, pelo que as faturas irão incluir rotulagem verde com essa indicação”, informou a empresa em comunicado.
Até à data, o simulador de preços de energia da ERSE já foi utilizado por 156 mil consumidores, tendo sido realizadas 3 milhões de simulações. A ERSE alerta ainda para a necessidade de os consumidores utilizarem, pelo menos uma vez por ano, o simulador de preços da ERSE, sugerindo-se o final do mês de janeiro, para a eletricidade, e o final de outubro, para o gás natural, em linha com o calendário de aprovação de tarifas do regulador.
Outra ferramenta útil ao consumidor é o simulador de potência contratada que permite ajustar a potência contratada ao seu consumo específico. Relembra-se que a redução de potência pode traduzir-se em poupanças a partir de 22 euros anuais por cada escalão de potência contratada. Até ao momento, esta ferramenta atingiu um total de 28 mil utilizadores e de 100 mil simulações.
O novo simulador da ERSE foi cofinanciado por fundos do Compete 2020, Portugal 2020 e do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional da União Europeia.
O que é a rotulagem de energia elétrica?
Explica a ERSE que a rotulagem de energia elétrica, consiste na apresentação de informação aos consumidores sobre as ofertas comerciais de fornecimento de energia ativas, através das contribuições percentuais (mix) dos recursos energéticos primários utilizados na produção de energia elétrica que consomem e respetivos impactes ambientais e tem os seguintes objetivos: diferenciação dos comercializadores e das suas ofertas comerciais; responsabilização dos consumidores pelas suas escolhas de consumo.
Quais são as origens da energia elétrica?
Eólica – produção de energia elétrica utilizando o recurso eólico, designadamente através de aerogeradores;
Hídrica – produção de energia elétrica utilizando o caudal ou a diferença de nível em cursos de água, independente da dimensão e do regime de remuneração;
Cogeração renovável – produção combinada de energia térmica e elétrica, nos termos da legislação em vigor, utilizando recursos não fósseis como combustível;
Geotermia – produção de energia elétrica recorrendo a recursos geotérmicos;
Outras renováveis – produção de electricidade baseada em fontes de energia renováveis, com exceção da eólica, hídrica e cogeração renovável. Inclui a energia solar, das ondas, das marés, biomassa e biogás;
Resíduos sólidos e urbanos – produção de energia elétrica tendo resíduos sólidos urbanos como combustível, nos termos da legislação em vigor;
Cogeração fóssil – produção combinada de energia térmica e elétrica, nos termos da legislação em vigor, utilizando recursos fósseis como combustível;
Gás natural – produção de energia elétrica utilizando gás natural como combustível em centrais de ciclos combinados (turbinas a vapor e turbinas a gás);
Carvão – produção de energia elétrica utilizando carvão como combustível em centrais de ciclo a vapor;
Diesel – produção de energia elétrica utilizando gasóleo ou fuelóleo como combustível em motores de ciclo diesel;
Fuelóleo – produção de energia elétrica utilizando fuelóleo como combustível em centrais de ciclo a vapor;
Nuclear – produção de energia elétrica recorrendo a fissão nuclear.
Onde posso encontrar informação sobre a rotulagem da eletricidade que consumo?
Os comercializadores devem informar os consumidores sobre a rotulagem de energia elétrica utilizando os seguintes suportes:
- Fatura enviada ao cliente;
- Página na internet do comercializador com uma área sobre rotulagem;
- Ficha contratual padronizada respeitante a cada oferta comercial enviada ao cliente;
- Folheto anual enviado ao cliente.
Quem está obrigado a apresentar informação sobre rotulagem de energia elétrica?
A informação deve ser apresentada por cada comercializador aos seus clientes e potenciais clientes.
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