Carris vai ter carreira 100% elétrica entre Marquês de Pombal e Baixa Chiado. Cada km custará 5 vezes menos face ao diesel
Novo percurso da Carris terá início antes da limitação da circulação rodoviária na Avenida da Liberdade, Baixa e Chiado. A carreira 706 já tem ao serviço 11 veículos 100% elétricos.
Apesar das críticas que chovem de todos os quadrantes, o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, continua firme na intenção de tirar os carros da Avenida da Liberdade e da Baixa de Lisboa e criar uma nova Zona de Emissões Reduzidas (ZER) na cidade. Para isso, a Carris, enquanto empresa de transportes públicos detida pela autarquia, vai estrear em breve uma segunda carreira 100% elétrica que vai circular entre a zona do Marquês de Pombal e a Baixa Chiado.
O anúncio foi feito esta quarta-feira pelo próprio Medina na cerimónia de lançamento da primeira carreira da Carris com autocarros elétricos. A escolhida para esta estreia foi a 706 (Cais Sodré – Santa Apolónia), que a partir de agora terá ao serviço, em exclusivo, 11 dos 15 autocarros elétricos que a Carris já comprou à CaetanoBus, num investimento total de 7,5 milhões de euros (com o apoio do POSEUR) que engloba também toda a infraestrutura de carregamento instalada na central da Pontinha.
Em breve, os restantes quatro novos autocarros elétricos da Carris serão afetados ao novo circuito urbano Marquês de Pombal – Baixa Chiado, que não se inclui no entanto no lote de carreiras de bairro criadas pela Carris. Este novo percurso da Carris poderá começar a rolar antes mesmo da limitação da circulação rodoviária de parte da Avenida da Liberdade, Baixa e Chiado a residentes e transportes públicos, já a partir de junho, das 06h30 às 00h00.
Contas feitas por Medina e pela Carris, cada um destes novos autocarros elétricos custa, em média, 25 euros por dia para circular 180 km pelas ruas de Lisboa, isto tendo em conta um total de 200 KWh a custar 11/12 cêntimos por KWh. Comparando com um autocarro a gasóleo, e olhando apenas para os custos operacionais, de circulação, trata-se de um valor por quilómetro cerca cinco vezes inferior, para percorrer a mesma distância. Isto porque o mesmo veículo a diesel gasta num dia 93 litros de combustível (55 litros ao 100km/h, 180 km por dia), o que dá uma fatura de mais de 120 euros de gasóleo.
Apesar do menor gasto em combustível, os autocarros elétricos custam mais do dobro (500 mil euros ou mais) dos que os a diesel (cerca de 200 mil euros) e ocupam mais 20% de espaço nos terminais da Carris. Quanto às baterias dos autocarros, têm uma vida média de 5 a 7 anos, estando já previsto no contrato inicial a sua substituição ao fim desse tempo.
Este ano a Carris vai ainda lançar um novo concurso para comprar mais 30 autocarros elétricos e ainda outros 70 a gás natural, tendo em vista alargar a frota para cerca de 700 veículos. A próxima aposta, garante a Carris, poderá passar pelo hidrogénio, com a empresa “aberta a testar e experimentar” esta nova tecnologia que a CaetanoBus já tem em testes e se prepara para exportar para a Alemanha. Quando a Carris passou para as mãos da Câmara de Lisboa detinha apenas 600 veículos, muitos deles já em fim de vida.
Com os 16 postos de carregamento normal de 50KWh novinhos em folha, da Siemens, já instalados no terminal da Pontinha, neste momento toda a eletricidade comprada pela Carris para a mobilidade elétrica (tanto autocarros como elétricos) é fornecida pela elétrica espanhola Endesa, revelou fonte da empresa municipal de transportes públicos.
De acordo com a empresa, cada autocarro elétrico da frota municipal demora neste momento, em média, quatro a cinco horas a carregar a totalidade de cada bateria com uma capacidade de 285 KW. Por norma o carregamento é feito de noite, para apanhar as tarifas mais reduzidas (vazio e super vazio). A autonomia é de 180 a 220 km, o que equivale a um mínimo de 10 viagens de ida e volta da carreira 706.
Na visão do presidente do Conselho de Administração da Carris, Tiago Farias, a carreira 706 é um “case study excelente para testar a mobilidade elétrica nos autocarros urbanos”, por se tratar de um percurso com 18km, ida e volta, com muitas subidas e descidas, e passagem por várias áreas residenciais
“Os elétricos que são autocarros”
Este foi o mote da viagem inaugural do primeiro autocarro 100% elétrico, que teve lugar esta quarta-feira entre o terminal da Pontinha e o Cais do Sodré, com vários passageiros “especiais” a bordo, a começar por Fernando Medina, acompanhado pelo presidente do Conselho de Administração da Carris, Tiago Farias, e pelo CEO da CaetanoBus, Jorge Pinto.
“É um momento irreversível em que a Carris se eletrifica, até acabar de vez com os autocarros movidos a combustíveis fósseis. Em 2019 foram colocados mais de dois milhões de quilómetros adicionais ao serviço da cidade de Lisboa, o que permitiu inaugurar mais de 10 carreiras, alargar percursos, reforçar horários. E com isso o número de passageiros aumentou em 10 milhões, para os 140 milhões na rede. Começámos nos últimos dois anos um processo de requalificar, renovar e ampliar a nossa frota. Já estão concursados 250 novos autocarros, dos quais 15 são os elétricos das novas carreiras. Neste momento temos a decorrer a compra de mais 100 este ano, dos quais 70 a gás natural e mais 30 elétricos. Quando a Carris passou para as mãos da CML eram apenas 600 autocarros”, frisou o presidente do Conselho de Administração da Carris.
E acrescentou: “O caminho da descarbonização e eletrificação é incontornável. Temos hoje mais frota e uma frota mais limpa”.
Com emissões zero e uma pegada carbónica muito mais sustentável do que uma frota convencional a gasóleo, por cada quilómetro percorrido num autocarro elétrico a Carris poupa 1,5 kg de emissões de CO2. “Sabendo que uma carreira como a 706 faz meio milhão de kms por ano, podemos ter uma noção do impacto cada vez que introduzimos mais um autocarro elétrico”, frisou ainda Tiago Farias.
Já Medina garantiu que os utilizarem vão sentir uma enorme diferença, tendo em conta a quase ausência de ruído destes autocarros, uma realidade que pôde ser comprovada por todos na viagem inaugural.
“Esta mudança, de um sistema assente no carbono e nos combustíveis fósseis, para um sistema elétrico, é essencial. Conseguimos com a CaetanoBus fazer este casamento tão feliz. E ainda por cima com uma empresa nacional. Foi uma alegria quando a CaetanoBus ganhou o concurso público internacional, que teve a participação de várias empresas estrangeiras. É positivo que estejamos a dar este passo com uma empresa nacional, com vista ao desenvolvimento da indústria nacional. Lisboa está também a contribuir para que a CaetanoBus seja cada vez mais eficiente na produção destes autocarros”, reforçou o presidente da Câmara Municipal.
E atirou ao CEO da CaetanoBus: “Esperemos que possam ser mais baratos para daqui a algum tempo comprarmos mais”.
“É o primeiro passo na passagem de uma frota que ainda tem autocarros a combustíveis fósseis, para uma frota elétrica, dado em parceria com empresas portuguesas. É o primeiro passo de vários que se vão seguir até termos uma frota 100% sem emissões”, rematou Medina. A Carris ambiciona chegar a 2035 com uma frota livre de qualquer veículo a diesel.
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