Hidrogénio verde em Setúbal? “Não posso excluir esse cenário”, diz presidente da EDP Produção
Rui Teixeira, presidente EDP Produção, revelou que na linha da frente para Setúbal estão projetos de energia solar e/ou eólica, mas o hidrogénio verde também está em análise. Depende dos leilões.
Há 42 anos a marcar a paisagem do estuário do Sado, as históricas chaminés da antiga central termoelétrica de Setúbal continuam de pé, depois da mega operação de derrube ter sido “abortada” no passado sábado devido a um “problema técnico”. Certo é que, mais cedo ou mais tarde, as enormes estruturas de betão que marcaram a era dos combustíveis fósseis virão abaixo e a EDP já tem planos definidos para os enormes terrenos livres na península da Mitrena.
Maria das Dores Meira, presidente da Câmara de Setúbal, saudou a decisão do fim de vida da central de Setúbal, “em prol de outras soluções energéticas mais limpas. Nos terrenos da central, que já deverão estar mais arejados no próximo ano, esperamos que possam surgir novos empreendimentos que favoreçam o desenvolvimento ambientalmente sustentável”, disse a autarca, deixando o recado à EDP.
Em entrevista ao ECO/Capital Verde, Rui Teixeira, presidente EDP Produção, revelou que na linha da frente estão projetos de energias renováveis, com destaque para a tecnologia solar fotovoltaica e/ou eólica, dependendo “do leilão que for promovido pelo Governo português”. Mas estes “não são os únicos projetos sustentáveis que podem vir a ser desenvolvidos e que vão ser analisados”, sublinha o responsável. Na mira para Setúbal poderá estar mais um polo de produção de hidrogénio verde da EDP, além de Sines e do Ribatejo. “Não posso excluir esse cenário à cabeça. Mantemos todas as opções em aberto”, disse Rui Teixeira.
Os terrenos da antiga central termoelétrica de Setúbal da EDP poderão albergar no futuro uma grande central fotovoltaica?
Com o final do desmantelamento da central termoelétrica de Setúbal o que queremos é preparar este terreno para poder ser utilizado para projetos sustentáveis, que se enquadrem na nossa visão de liderar a transição energética. Este terreno tem características particulares, pela sua proximidade a infraestruturas rodoviárias, ferroviárias e portuárias, mas acima de tudo pela ligação à rede nacional de transporte de eletricidade, por onde era escoada toda a energia que antigamente se produzia nesta central. O que queremos é ter todas as condições preparadas para, existindo em Portugal leilões de energias renováveis, podermos participar e sermos competitivos. A nossa obrigação é preparar o terreno e sermos tão competitivos quanto possível na participação nesses leilões.
Mas já está definida a nova tecnologia renovável que ocupará os terrenos da central?
Para este tipo de área o mais normal seria uma tecnologia solar fotovoltaica e/ou eólica. Isso dependerá do leilão que for promovido pelo Governo português. Nessa altura podemos analisar qual a melhor tecnologia. Dito isso, não são os únicos projetos sustentáveis que podem vir a ser desenvolvidos e que vão ser analisados.
Como por exemplo?
Hoje estudamos tecnologias inovadoras como o hidrogénio verde na central do Ribatejo, estamos a participar na construção de um consórcio para desenvolver um grande projeto de hidrogénio em Sines. Estudamos também tecnologias como armazenamento de energia através de baterias de iões de lítio, há todo um conjunto de projetos em desenvolvimento no grupo EDP e não vamos excluir nenhum.
Setúbal poderá ver nascer um polo de hidrogénio verde?
Não é hoje o que está definido como prioridade. Mas não posso excluir esse cenário à cabeça. Mantemos todas as opções em aberto.
Portugal tem ainda várias centrais termoelétricas, a carvão e a gás natural, a produzir eletricidade, na sua maioria da EDP. Ainda se justifica a sua existência?
No total, a operação de desmantelamento da central de Setúbal custa-nos 18 milhões de euros e teve de ser contabilizada no momento em que ainda estávamos a operar a central, para não termos surpresas. A EDP tem uma central a carvão e duas a gás, em Portugal, e em Espanha são duas a carvão e duas a gás natural. As centrais a carvão, atualmente, pelas condições de mercado e pela combinação de preços de gás, carvão e CO2, são centrais cujo custo de produção é mais elevado do que as centrais a gás. E por isso elas estão paradas. No final do ano passado já reconhecemos uma provisão, ou seja, uma perda de valor, porque entendemos que o valor de mercado destas centrais é inferior ao valor contabilístico e foi reconhecida essa provisão que ficou registada nas contas de 2019. O encerramento das centrais a carvão na Península Ibérica será feito quando entendermos que as condições do mercado não geraram uma margem que pague o custo de manter as centrais abertas. Não tomámos ainda nenhuma decisão de encerramento e o que estamos a fazer é a acompanhar a evolução do mercado.
Ainda é preferível tê-las em funcionamento, ainda que paradas, do que desmantelar?
É essa a análise que fazemos todos os dias. Para perceber a evolução no curto prazo e a evolução esperada no médio e longo prazo. Em função disso, temos uma expectativa que as centrais vão ou não gerar margem que cubra os custos de operação. É uma análise efetuada e atualizada todos os dias. As centrais a carvão estão paradas porque o preço de mercado não justifica. Mas o mesmo não acontece com o gás. Ao ficar mais barato que as centrais a carvão, o gás passou a funcionar muito mais na base do sistema. O que fica claro é que as centrais a gás terão um papel muito importante na transição energética, porque serão necessárias para garantir a segurança de abastecimento nos momentos em que não haja nem vento nem sol. Por essa razão é importante que estas centrais sejam encaradas como backup do sistema. Em 2050, acreditamos que não teremos necessidade de ter toda esta capacidade instalada de gás, mas daqui até lá, estas centrais a gás vão continuar a trabalhar, cada vez mais de forma intermitente, sendo remuneradas pelo seu papel de backup.
Virá dinheiro de Bruxelas para pagar o encerramento de Sines?
Independentemente de existirem ou não apoios, do Fundo de Transição Justa, a forma de olharmos para as nossas centrais a carvão é perceber a evolução do mercado, se vai criar oportunidades para funcionarem e se a margem gerada compensa mantê-las abertas e o custo da operação. É desse ponto de vista que estamos a analisar. O que conhecemos dos cerca de 80 milhões de euros do Fundo de Transição Justa que virão para Portugal é que serão distribuídos entre Sines, Pego e Matosinhos. Há um conjunto de projetos identificados para serem apoiados por este programa europeu, mas não temos mais informações sobre como será atribuído o dinheiro na prática. Existe o mérito de estar definido pela Comissão Europeia que esta transição gera impacto e têm de ser criadas condições para ajudar na mesma.
Daqui a quanto tempo poderemos estar em Sines a assistir ao derrube das chaminés da central a carvão?
As chaminés podem ser derrubadas ou mantidas como património industrial. Cada caso é um caso e em devido tempo será discutido.
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