Rendimento dos portugueses cai em média 5,3% com pandemia. Jovens são os mais afetados
A redução do rendimento dos portugueses está a ser amparada pelas ajudas do Estado. A redução média não é maior uma vez que os pensionistas, por exemplo, não foram afetados pela pandemia.
Após as medidas de apoio implementadas pelo Governo, o rendimento disponível das famílias regista uma redução de 5,3% no curto prazo. A conclusão consta da análise ao impacto da pandemia nos portugueses feita pelo Banco de Portugal no boletim económico de maio, que foi divulgado esta quarta-feira.
Em média, o rendimento disponível antes da pandemia era de 1.566 euros por agregado familiar, em Portugal. Após o início da pandemia, mas considerando as medidas de apoio do Governo, esse valor terá baixado para 1.482 euros, menos 84 euros. No caso do rendimento do trabalho, a queda é de 71 euros, passando de 871 euros para 800 euros.
A amparar a queda do rendimento dos portugueses está o lay-off simplificado e o apoio extraordinário à redução da atividade económica do trabalhador independente. Ainda assim, é de referir que a redução do rendimento do trabalho (-8%) é superior à redução do rendimento disponível.
Esta diferença é explicada pela fatia da população que, neste momento, não está a ser diretamente afetada por não ter rendimentos de trabalho (mais de 30% das famílias) ou por trabalharem em setores resistentes à pandemia. É o caso dos pensionistas e dos funcionários públicos, por exemplo, assim como dos trabalhadores dos setores pouco (ou nada) afetados (do ponto de vista económico) pela crise como é o caso da saúde.
“A pandemia não tem qualquer impacto no rendimento para uma percentagem considerável de famílias“, escreve o Banco de Portugal, assinalando que esse “é principalmente o caso das famílias que não têm rendimentos do trabalho e daquelas em que todos membros trabalham em setores não afetados pela pandemia, que representam cerca de 50% do total de famílias“.
Esta simulação, à semelhança da que foi feita para o impacto da pandemia nas empresas, recorre a “várias hipóteses simplificadoras” e aos dados do Inquérito à Situação Financeira das Famílias (ISFF) de 2017. Para calcular o impacto sobre o rendimento, uma das hipóteses assumidas pelo banco central é que nas empresas afetadas pela pandemia “apenas recebem rendimento os trabalhadores elegíveis para o lay-off simplificado ou para o apoio extraordinário à redução da atividade económica do trabalhador independente”.
“Na análise dos resultados é importante ter presente que o exercício tem uma natureza de curto prazo e que não incorpora efeitos de equilíbrio geral”, ressalva o BdP, esclarecendo que “as simulações não levam, nomeadamente, em consideração o impacto da pandemia no valor da riqueza das famílias, nos níveis de endividamento e, em outro tipo de rendimentos, que não os do trabalho”.
Jovens são dos mais afetados
Se os mais idosos são os que mais morrem desta doença, esta franja da população é a menos afetada em termos económicos. “Por escalão etário, como seria de esperar, a redução de rendimento disponível é bastante mais significativa nas famílias em que o indivíduo de referência está em idade ativa do que nas restantes“, esclarece o BdP. Assim, nas pessoas com mais de 65 anos não há alteração nenhuma no rendimento, o que compara com uma queda de superior a 10% nos rendimentos de trabalho da faixa dos 35 aos 44 anos.
Esta simulação concluiu ainda que são os agregados familiares com mais rendimentos que registam maiores quebras por causa do vírus: “No grupo de 20% de famílias com rendimento mais baixo o rendimento disponível médio reduz-se 2,4%, o que compara com uma redução de 7,8% no grupo de 10% de famílias com rendimento mais elevado”, escreve o BdP.
Tal também se explica pela maior preponderância dos rendimentos de trabalho — caso estejam em lay-off há um limite máximo de três vezes o salário mínimo para a remuneração a receber — entre os mais ricos ao passo que nas faixas mais pobres as pensões de reforma e outras transferências públicas, as quais não foram afetadas pela pandemia, têm maior importância.
Porém, é de notar que olhando apenas para os rendimentos de trabalho há um maior impacto nos agregados com menos rendimentos face à média, o que sugere que “os indivíduos que trabalham estão relativamente concentrados em setores mais afetados pela pandemia ou em segmentos que não beneficiam das medidas de apoio ao rendimento”. Exemplo desses setores podem ser os ligados ao turismo como o alojamento e restauração.
Moratórias dão “balão de oxigénio” às famílias
A simulação do banco central também avaliou o impacto da pandemia na capacidade das famílias pagarem as despesas. A conclusão é que a maior parte das famílias tem riqueza acumulada suficiente para financiar as suas despesas no curto prazo em caso de redução do rendimento em virtude da crise pandémica, já contabilizando com o “balão de oxigénio” da moratória sobre o crédito à habitação.
“No conjunto das famílias, o valor mediano do rácio entre riqueza disponível no curto prazo e a despesa situa-se em 3,5, o que significa que metade das famílias podem financiar no máximo três meses e meio das despesas associadas a consumo de bens não duradouros e serviços e a encargos com dívida e rendas na ausência de qualquer rendimento”, concretiza o boletim económico de maio.
Contudo, é de notar que existe muita divergência dentro da sociedade portuguesa uma vez que esse rácio sobre “de forma muito significativa” à medida que o rendimento aumenta e “apresenta uma elevada heterogeneidade dentro de cada classe de rendimento, como é ilustrado pela diferença entre os seus valores medianos e médios”.
Esta estimativa também já incorpora as medidas de apoio do Estado, nomeadamente a suspensão do pagamento das rendas, que tem um impacto diminuto (mais expressivo nos mais jovens), e a moratória sobre as prestações do crédito à habitação, que tem um “impacto mais significativo”.
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