Portugueses querem teletrabalho, mas saúde física pode estar em risco
Apesar de mais horas laborais, o teletrabalho traz mais flexibilidade e autonomia. Contudo, há poucas condições em casa e as empresas devem repensar apoios, revela barómetro.
A pandemia obrigou milhares de empresas a adotar o teletrabalho. Com o fim do estado de emergência, o balanço global é positivo. Em Portugal, quase metade das empresas parece querer continuar com esta modalidade após a pandemia e, por outro lado, os trabalhadores gostariam de continuar a trabalhar a partir de casa dois a três dias por semana, indicam os estudos mais recentes.
O questionário sobre Teletrabalho e Saúde Ocupacional, do Barómetro Covid-19 da Escola Nacional de Saúde Pública, reuniu 1.082 respostas para medir o impacto do teletrabalho no equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, a autonomia, a flexibilidade, a confiança das chefias e ainda o impacto do ambiente de trabalho na saúde.
Mais horas extra, menos descanso, mais satisfação
Quase 60% dos inquiridos confirmou que gostaria de continuar em teletrabalho e, desses, 59% preferia continuar em teletrabalho de forma parcial. Mais de metade está satisfeito com o trabalho à distância, apesar de 40% continuar a considerar que as funções são mais exigentes à distância. No total, quase 60% trabalha horas extra.
O teletrabalho parece aliciante, mas a maioria dos inquiridos ainda não conseguiu encontrar um equilíbrio entre o teletrabalho e a vida pessoal. O inquérito revela que apenas 37% dos inquiridos está satisfeito com a gestão entre a vida pessoal e o teletrabalho, sendo que mais de 40% diz não conseguir “desligar”.
No entanto, quase 70% dos inquiridos diz ter total autonomia e flexibilidade para decidir como e quando termina o trabalho.
Empresas confiam, mas não dão apoio necessário
1,5%. É a percentagem de inquiridos que diz ter uma secretária cedida pela empresa que permita trabalhar de forma eficaz através de casa. A maioria (73%) sente que as chefias confiam no seu bom desempenho, mas aponta falta de investimento no que diz respeito a material de escritório e formação sobre competências em teletrabalho.
Atendendo a que se perspetiva a possibilidade de teletrabalho não como uma opção esclarecida e voluntária, mas como uma modalidade de trabalho ‘imposta’, exige-se que as estratégias de prevenção dos riscos profissionais e de promoção da saúde e qualidade de vida dos colaboradores sejam repensadas, no sentido de minimizar os efeitos negativos que a falta de apoio poderá causar.
Pouco mais de 30% inquiridos confirma ter as condições e recursos necessários para poder trabalhar através de casa. Já 45% não recebe qualquer tipo de formação, e apenas 2,3% dos inquiridos diz ter tido acesso a equipamentos adequados para o trabalho remoto, como computador, monitor, teclado, rato, cadeira, secretária. Em relação à internet, 95% não tem qualquer tipo de comparticipação da empresa.
Metade dos inquiridos compraria uma “cadeira e secretária adequadas” e 62% dos inquiridos utiliza um equipamento mobiliário que não é adequado, como a cadeira da sala, da sala de jantar, da cozinha ou outra do mobiliário da casa.
A Escola Nacional de Saúde Pública revela que as condições de trabalho podem ter efeitos reais na saúde física. De acordo com o estudo, o painel de interface (mousepad) é a opção para 44% dos casos e por longos períodos de tempo, o que não é aconselhado.
A falta de apoio dado por parte das empresas quer ao nível da saúde e segurança do trabalho, quer ao nível de comparticipação de equipamentos e meios de trabalho, indispensáveis para o desenvolvimento do teletrabalho, é inquestionável.
“Analogamente para o monitor, 62% dos inquiridos trabalha sentado com o topo do monitor do portátil, relativamente à horizontal, abaixo da altura dos olhos o que poderá ser um fator de desconforto (ou mesmo dor) cervical“, alerta o barómetro. O ideal seria estar exatamente à altura dos olhos.
Apenas 9% dos inquiridos utilizam computador (torre), monitor, teclado e rato e, nestes casos, 33% afirma que a altura do teclado é diferente da altura do cotovelo e, em 47% dos casos, o topo do monitor está acima ou abaixo da altura dos olhos.
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