CTT passam de lucros a prejuízo de dois milhões de euros no semestre

Os CTT viram o resultado líquido afundar para terreno negativo no semestre, tendo perdido dois milhões de euros entre janeiro e junho deste ano.

Num período marcado pelo “forte crescimento” do negócio das encomendas, os CTT passaram de lucros a prejuízos no primeiro semestre. Depois de terem registado um lucro de nove milhões de euros na primeira metade do ano passado, a empresa liderada por João Bento viu o resultado líquido afundar para terreno negativo, perdendo dois milhões de euros entre janeiro e junho deste ano, uma queda homóloga de 122,1%, segundo um relatório enviado à CMVM.

Apesar da evolução positiva resultante do comércio eletrónico, os CTT foram penalizados pelo efeito da pandemia no correio. “A área de negócio de correio foi muito afetada a partir da segunda metade do mês de março e até maio pelo confinamento”, justifica o grupo num comunicado. “Esta situação implicou o encerramento ou redução do horário de funcionamento das lojas dos CTT que se traduziu numa menor procura de serviços B2C, bem como a redução da atividade dos clientes do segmento B2B, com particular destaque para os setores da banca e utilities e da Administração Pública”, acrescenta a empresa.

No período, o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) recuou 28% e fixou-se em 33,4 milhões de euros, enquanto os rendimentos operacionais caíram 1,6%, para 349,2 milhões de euros. O principal negócio, do correio e outros, acabou por ceder 14%, para 204,2 milhões, num período em que o tráfego de correio endereçado caiu 18% e o correio publicitário não endereçado cedeu quase 23%.

Tráfego de correio dos CTT

Fonte: CTT

Receitas com encomendas crescem 17%

A queda das receitas dos CTT, contudo, não foi maior devido ao crescimento do segmento de Expresso e Encomendas. Com os portugueses fechados em casa, o comércio eletrónico ganhou novo fôlego e os CTT foram-se posicionando para levar as encomendas até às casas. As receitas neste negócio subiram 16,9%, para 85,1 milhões de euros no semestre. Para a empresa, este resultado “evidencia o forte crescimento conseguido neste período, em que a empresa cresceu de forma consistente e significativa nas entregas B2C”.

Concretamente no segundo trimestre, o crescimento deste segmento evidenciado pelos CTT foi ainda maior e alcançou os 32,5% em termos homólogos, com as receitas a atingirem 47,8 milhões de euros entre abril e junho. “A performance obtida neste trimestre evidencia um valor de receita sem precedente e o melhor valor de EBITDA dos últimos 17 trimestres”, sublinham os CTT no comunicado remetido aos mercados.

A contribuir para esta evolução positiva estiveram os vários produtos e serviços que os CTT lançaram durante a fase mais acentuada da pandemia. Um deles, o Criar Lojas Online, permite às pequenas e médias empresas criarem lojas virtuais para venderem os respetivos produtos. Segundo os CTT, “estão registadas 1.020 lojas online e operacionais no final de junho de 2020 estavam 297 lojas, de diversos setores de atividade, com ênfase nos produtos alimentares, vestuário e calçado”.

Analisando este negócio das encomendas por mercado, “os rendimentos em Portugal situaram-se em 51,8 milhões de euros” no semestre, um aumento de 12,8% em termos homólogos, “verificando-se uma aceleração” no segundo trimestre, com um crescimento de 19,1%, para 27,4 milhões. Em Espanha, os rendimentos do negócio das encomendas cresceram 23,2% face aos mesmos seis meses de 2019, para 31,9 milhões de euros.

Rendimentos do Banco CTT sobem 63%. Houve 2,9 mil pedidos de moratórias

Os rendimentos do Banco CTT subiram 63% no primeiro semestre, face a igual período de 2019, para 38,4 milhões de euros.

“Os rendimentos do Banco CTT atingiram 38,4 milhões de euros no primeiro semestre de 2020, um crescimento de 14,8 milhões de euros (mais 63%) face a igual período do ano anterior, sendo 11,2 milhões de euros provenientes da 321 Crédito, adquirida em maio de 2019”, adiantam os CTT nos resultados comunicados esta quarta-feira.

“Excluindo esse efeito inorgânico, os rendimentos ascenderiam a 22,1 milhões de euros, mais 3,7 milhões de euros (+19,8%)” do que nos primeiros seis meses de 2019. “O crescimento dos rendimentos contou com a ‘performance’ positiva da margem financeira no primeiro semestre deste ano, 12,3 milhões de euros (+135,3%) acima do mesmo período de 2019, crescimento esse que teria sido de 3,2 milhões de euros (+63,2%) sem o referido contributo não-orgânico”, prossegue a empresa.

O desempenho comercial do Banco CTT “continuou a permitir o crescimento dos depósitos de clientes para 1.512 milhões de euros (mais 42,1% do que no primeiro semestre de 2019 e mais 17,8% do que no final do ano de 2019) e do número de contas, para 489 mil contas (mais 81 mil do que no primeiro semestre de 2019 e mais 28 mil que no final do ano de 2019)”, acrescentam os CTT.

As comissões recebidas aumentaram 62,5%, ou 2,2 milhões de euros, “sobretudo pelo aumento da transacionalidade dos clientes (+20,7%) e das contas e cartões, impulsionadas a partir do início no mês de abril pela introdução de um modelo de comissionamento do cartão de débito”, adiantam. “Esta cobrança de anuidades contribuiu para um crescimento das comissões no segundo trimestre face” a igual período de 2019 de “612,9%”, salientam os CTT.

O banco registou ainda 2,9 mil pedidos de moratórias no primeiro semestre, com uma exposição total de 66,6 milhões de euros. “Os pedidos de moratórias (públicas e privadas) formalizados atingiram os 2,9 mil, com uma exposição total de 66,6 milhões de euros, representando cerca de 7% do total da carteira bruta de crédito” do Banco CTT, referem os CTT.

Despesas do grupo sobem 2,3%

No plano das despesas, o grupo CTT viu os gastos operacionais aumentarem 2,3%, para 315,8 milhões de euros. Em causa está “um impacto de seis milhões de euros da 321 Crédito”, explica o grupo.

“Os gastos com pessoal aumentaram 900 mil euros no primeiro semestre”, continuam os CTT, num período em que o número de trabalhadores caiu 4,3%, menos 546 postos de trabalho no total. A empresa fechou junho com 12.015 trabalhadores, num período em que comunicou à imprensa ter recrutado 800 pessoas entre abril e julho, a maioria para as funções de carteiro em substituição de férias ou para suprir o absentismo provocado pela pandemia.

Ao mesmo tempo que os gastos com fornecimentos e serviços externos subiram 3,8%, para 3,8 milhões de euros, enquanto “os outros gastos cresceram 2,5 milhões de euros (+18,5%)” em termos homólogos.

Por fim, o passivo do grupo “aumentou 128,4 milhões de euros, destacando-se o acréscimo dos depósitos de clientes bancários e outros empréstimos (+190,5 milhões de euros), parcialmente compensados pelo decréscimo das contas a pagar (60,5 milhões de euros), consequência direta da significativa redução de subscrições de Certificados do Tesouro, e pela diminuição da rubrica de outros passivos financeiros bancários (-10,9 milhões de euros)”.

Na expectativa dos resultados, as ações dos CTT têm estado em alta na bolsa de Lisboa. Os títulos da empresa ganharam quase 10% nas duas últimas sessões, depois de somarem 3,21% esta quarta-feira, para 2,57 euros cada título.

Ações dos CTT na bolsa de Lisboa

(Notícia atualizada pela última vez às 17h36)

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