Portugal chegou mais rápido a juros negativos que Espanha, Itália e Grécia
Ministério das Finanças assinala o feito de, pela primeira vez, Portugal registar juros negativos na dívida a dez anos. Tendência será para manter, permitindo baixar o custo do elevado endividamento.
Longe vão os tempos em que os juros da dívida atingiam recorde, forçando o país ao pedido de ajuda externa. Agora, os recordes são outros: há cada vez mais dívida com juros negativos, tendo Portugal conseguido alcançar taxas abaixo de zero na dívida com o prazo de dez anos mais rapidamente que outros países do euro, entre eles Espanha.
Depois de semanas em queda, que colocaram as taxas até aos nove anos com sinal negativo, a yield das Obrigações do Tesouro a dez anos acabaram por atingir o nível mais baixo de sempre. Caíram de 0%, passando para “terreno” negativo, ainda que apenas por breves instantes. Estão, atualmente, nos 0,011%.
João Leão atribui o recorde “à contínua melhoria da qualidade creditícia da República e da credibilidade junto dos investidores”. “Esta visão que os investidores têm sobre o nosso país foi conseguida através da implementação de medidas e políticas que permitiram, nos últimos anos, reduzir o rácio de dívida pública sobre o PIB, melhorar os saldos orçamentais, sendo de destacar o superavit alcançado em 2019, e ainda melhorar a avaliação pelas agências de notação financeira mais importantes”, refere o Ministério das Finanças em resposta a questões colocadas pelo ECO.
Benefício [dos juros negativos] poderá materializar-se em todas as emissões de dívida de empresas portuguesas junto dos mercados internacionais, os quais utilizam o nível de juros da República em mercado secundário como referencial para a definição do valor dos juros para essas empresas.
“Este movimento de descida das taxas de juro tem-se verificado também na generalidade das dívidas soberanas europeias, devido à atuação do Banco Central Europeu“, reconhecem as Finanças, numa alusão à “bazuca” utilizada por Christine Lagarde para ajudar os países do euro a responderem à crise provocada pela pandemia de Covid-19.
“Contudo, é preciso salientar que Portugal conseguiu alcançar taxas de juro negativas (na dívida com o prazo de dez anos) mais rapidamente do que Espanha e muito mais rapidamente do que Itália e Grécia”, diz. Ou seja, o BCE tem sido fundamental no movimento, mas Leão aponta o mérito do país em alcançar este feito.
Custo da dívida toca novo mínimo
O Ministério das Finanças diz que o “Governo continuará a desenvolver o seu trabalho com o mesmo rigor, cumprindo os compromissos assumidos, como sempre tem feito, e tudo fará para continuar a melhorar a imagem de Portugal“. Ou seja, prosseguirá o caminho da sustentabilidade das contas públicas no contexto de pandemia, acreditando que isso se traduzirá em juros ainda mais baixos nos mercados.
Esta taxa negativa a dez anos ainda não teve qualquer impacto no custo de financiamento do país, mas a perspetiva é que venha, em breve, a fazer-se sentir. “Benefício poderá materializar-se em todas as emissões de dívida de empresas portuguesas junto dos mercados internacionais, os quais utilizam o nível de juros da República em mercado secundário como referencial para a definição do valor dos juros para essas empresas”, diz.
A pandemia agravou, no pico desta crise, o custo de financiamento do país, algo que rapidamente foi revertido. E apesar dos encargos com a nova dívida terem aumentado face ao momento anterior à chegada da Covid-19, para 0,6% até outubro, o custo total da dívida vai voltar a baixar este ano.
De acordo com as Finanças, “o custo médio da dívida (stock) em 2020 é de 2,2% (estimativa), que compara com 2,5% em 2019″, sendo o mais baixo desde que há registos, ou seja, desde 2010, isto apesar do endividamento do país continuar a aumentar, batendo recordes tanto em termos absolutos como em função do PIB. A dívida portuguesa ascendeu a 267.114 milhões de euros em setembro, devendo chegar a 134,8% do PIB no final de 2020.
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