BRANDS' ECO “Com ou sem pandemia, o ensino superior do futuro terá de ser uma mistura entre ensino-presencial e digital”
Foram muitos os setores impactados pela pandemia da Covid-19, e o da educação não foi exceção. Pedro Costa, presidente da Coimbra Business School, fala dos maiores desafios da instituição e do futuro.
Uma das primeiras medidas impostas pelo Governo português para tentar evitar a propagação do vírus passou pelo encerramento das escolas. A China tomou a decisão em fevereiro e, passado um mês, todos os países membros e parceiros da OCDE optaram pela mesma solução.
Escolas fechadas e milhares de alunos com aulas online
Em Portugal, as escolas fecharam todas a 16 de março e a grande maioria manteve-se assim até ao final do ano letivo. Apenas os alunos dos 11º e 12º tiveram aulas presenciais e só em algumas disciplinas.
A adaptação a uma nova realidade, que deixou todos assustados, não foi fácil para as escolas e universidades que, de um momento para outro, se viram obrigadas a readaptar o sistema de ensino e a adotar as aulas à distância. O rendimento das aulas, a atenção dos alunos e a organização de horários foram alguns dos maiores desafios sentidos por professores e diretores.
Para perceber melhor como esta mudança foi vivida no setor da educação, o ECO conversou com Pedro Costa, presidente da Coimbra Business School (ISCAC), que começou por dizer que a maior dificuldade desta nova realidade foi “adaptar rapidamente conteúdos para o modelo de ensino à distância que, de raiz, não tinham sido concebidos para isso”.
Apesar de existir o estigma de que as aulas à distância são de menor qualidade, Pedro Costa considera-o infundado. “O feedback dos estudantes e a sua colaboração foram muito bons. E verificou-se uma maior comparência às aulas nos sistemas não presenciais, quando comparados com o sistema presencial comum”, explicou ao ECO.
O facto de muitos dos alunos da Coimbra Business School encontrarem emprego antes de concluírem os estudos é apontado como um dos fatores da maior “presença” nas aulas online. “Com o ensino à distância, conseguiram compatibilizar mais facilmente a frequência do ensino superior com a atividade profissional que já desenvolvem”, deduziu o presidente do ISCAC.
Pedro Costa acrescentou ainda que “os docentes incluíram na programação letiva formas síncronas e assíncronas de interação com os estudantes, nomeadamente para transmissão e discussão de conteúdos, orientação e/ou avaliação, sempre num modelo de ensino-aprendizagem e avaliação à distância”. As aulas podiam ser gravadas, editadas e publicadas, fator que facilitava o acesso dos alunos ao conteúdo lecionado, principalmente nos casos em que não conseguissem assistir em direto.
Reabertura das instituições de ensino e regime b-learning
Após uma rápida adaptação ao ensino online, que durou vários meses, eis que começa o novo ano letivo com aulas presenciais, numa altura em que o país estava em desconfinamento.
Se, por um lado, foi um desafio difícil mudar todo um método de ensino presencial para o meio digital, por outro lado, voltar a abrir as portas das escolas e universidades não foi mais fácil, pela enorme preocupação ao nível da saúde. Era necessário assegurar que todos os alunos, professores e funcionários não-docentes cumpriam as regras de higiene e que as instituições dispunham de todas as condições para tal.
“Ou seja: a preocupação nº 1 é a segurança sanitária de toda a comunidade académica, a preocupação nº 2 é a qualidade do nosso ensino e da nossa investigação”, esclareceu o presidente da Coimbra Business School.
"Estamos a jogar em dois tabuleiros: por um lado, temos um mix de aulas presenciais e à distância para maximizar os benefícios pedagógicos e científicos da digitalização, com conteúdos nativos digitais; por outro lado, temos preparado e afinado um modelo de ensino à distância, construído de raiz, sistematizado e robusto, para o caso de haver novo confinamento.”
Apesar de considerar que o ensino online não põe em causa o rendimento dos alunos, Pedro Costa ressalvou a importância das aulas presenciais: “a experiência académica presencial é mais do que os conteúdos a lecionar e muito mais do que relação aluno-professor. Para ensinar e produzir ciência, o contacto entre pessoas, a socialização e a interação académica presencial são indispensáveis e insubstituíveis”.
No entanto, mesmo querendo “proporcionar aos estudantes – em condições de segurança sanitária – o máximo de aulas presenciais possíveis” no ano letivo 2020-21, o presidente do ISCAC admitiu estar a construir e a praticar na Coimbra Business School um novo modelo de ensino, que junta o melhor do ensino presencial com o melhor do ensino nas plataformas digitais.
Para já, as escolas e universidades continuam abertas, salvo algumas exceções em localidades com números elevados de casos de infeção. No entanto, a preocupação de voltarem a fechar as instituições levou o ISCAC a criar métodos de ensino facilmente adaptáveis às duas realidades: com ou sem confinamento. Ou seja, em vez de pensar numa solução temporária, a Coimbra Business School percebeu que esta era uma situação que podia repetir-se e, por isso, adaptou o sistema de ensino à imprevisibilidade do contexto pandémico.
“Estamos a jogar em dois tabuleiros: por um lado, temos um mix de aulas presenciais e à distância para maximizar os benefícios pedagógicos e científicos da digitalização, com conteúdos nativos digitais; por outro lado, temos preparado e afinado um modelo de ensino à distância, construído de raiz, sistematizado e robusto, para o caso de haver novo confinamento.”
"Com ou sem pandemia – seja em que doses for, o ensino superior do futuro terá de ser uma mistura entre ensino-presencial e ensino-digital.”
Pedro Costa indicou ainda que, logo a partir de março, começaram a “construir conteúdos em todas as áreas científicas” para, caso fosse necessário, passarem – de um dia para o outro – para o ensino à distância. Só dessa forma conseguiu garantir que a qualidade científica e pedagógica estaria assegurada em toda a oferta do ISCAC. “Estamos totalmente preparados para o ensino à distância nas licenciaturas, nos mestrados e nas pós-graduações/MBA´s (Master in Business Administration)”, garantiu o presidente.
No entanto, Pedro Costa acredita que nem todas as universidades têm a mesma preparação. “A minha perceção é que nem todas as instituições do ensino superior têm, hoje, o mesmo grau de preparação para a eventualidade de um segundo confinamento”, confessou.
Futuro: voltar ao ensino tradicional ou manter métodos adotados na pandemia?
Apesar dos meios digitais já terem vindo a adquirir muito valor ao longo dos últimos anos, a pandemia veio mostrar que, sem eles, seria muito mais difícil arranjar soluções quer para a economia, quer para o ensino, quer para o défice de socialização consequente do distanciamento físico.
“Quando se vive uma experiência intensa de digitalização, ela torna-se estrutural. Ninguém ficou, e ainda bem, imune a isso: seja no ensino superior, seja nos hábitos de consumo, seja nos estilos de vida, nada vai voltar a ser como dantes”, disse o presidente do ISCAC.
Ainda assim, Pedro Costa voltou a referir que, apesar de a mudança ser necessária, as aulas presenciais não devem ser descuradas. “O ensino nas plataformas digitais tem muitas vantagens e tornou-se estrutural e indispensável, mas não consegue ser uma experiência académica integral e, por isso, não substitui o ensino presencial”, alertou.
No entanto, ressalvou ainda que esse crescimento passa por perceber que a mudança de paradigma imposta pela pandemia não deve ser esquecida quando ela passar. “Com ou sem pandemia, seja em que doses for, o ensino superior do futuro terá de ser uma mistura entre ensino-presencial e ensino-digital”, concluiu.
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