Estudo serológico estima 1,9% da população infetada na primeira vaga de Covid-19
Resultados “permitem fazer um retrato da primeira vaga de Covid-19 e mostram que o país conseguiu achatar a curva na primeira onda da pandemia".
Um estudo serológico nacional, com o objetivo de aferir a prevalência de anticorpos contra o vírus que causa a Covid-19, estima que 1,9% da população portuguesa tenha sido infetada com o SARS-CoV-2 na primeira vaga da pandemia.
“Os resultados agora apresentados permitem estimar em 1,9% a seropositividade global da população ao vírus SARS-CoV-2 até setembro de 2020”, o que equivale a cerca de 195 mil pessoas, anunciou hoje o Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM) que desenvolveu este estudo, financiado em dois milhões de euros pela Sociedade Francisco Manuel dos Santos e pelo grupo Jerónimo Martins.
O Painel Serológico Nacional Covid-19 (PSN), que decorreu entre 08 de setembro e 14 de outubro em 102 municípios de Portugal continental e das ilhas, incluiu uma amostra de cerca de 13 mil voluntários, distribuídos por nove estratos que cruzaram a densidade populacional e o grupo etário de forma quase proporcional à população portuguesa.
Segundo o instituto de investigação privado, o PSN permitiu “fazer um retrato da primeira vaga da Covid-19, através da proporção da população que, mediante avaliação serológica, desenvolveu anticorpos específicos contra o vírus SARS-CoV-2”.
Relativamente aos resultados por grupo etário, o estudo indica que a prevalência estimada da Covid-19 era mais elevada nos jovens com menos de 18 anos, mas “sem significado estatístico à escala nacional”.
No grupo de menores de idade a prevalência foi estimada em 2,2%, face aos 2,0% verificada no grupo de voluntários entre os 18 e 54 anos e aos 1,7% com mais de 54 anos.
“A prevalência estimada aumenta com a densidade populacional, assumindo um valor estatisticamente superior nas regiões de alta densidade: 2,5% nas regiões de alta densidade populacional, face a 1,4% nas regiões de média densidade e 1,2 nas regiões de baixa densidade”, refere ainda o estudo.
As conclusões apontam também para uma seroprevalência “significativamente superior”, estimada em 3,2%, nos jovens com menos de 18 anos de zonas de elevada densidade populacional, enquanto que a proporção de seropositivos é também “muito superior” (27%) entre os voluntários que tiveram alguém da sua família com Covid-19.
O estudo, que foi aprovado pela Comissão de Ética do Centro Académico de Lisboa, não detetou diferenças de seroprevalência entre homens e mulheres.
Segundo Bruno Silva-Santos, investigador principal do estudo, os resultados “permitem fazer um retrato da primeira vaga de Covid-19 e mostram que o país conseguiu achatar a curva na primeira onda da pandemia, o que se traduz numa prevalência estimada da infeção por SARS-CoV-2 de apenas 1,9%” da população portuguesa.
“Estamos ainda a trabalhar os dados dos questionários de saúde, fatores associados com a sintomatologia da Covid-19 e outras doenças, o que nos permitirá fazer uma análise mais completa sobre este retrato da primeira vaga da pandemia”, referiu o vice-diretor do iMM.
A definição e caracterização da amostra contou com o contributo de especialistas da Pordata, base de dados organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, e da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, à qual está agregada o iMM.
A pandemia de Covid-19 provocou pelo menos 1.649.927 mortos resultantes de mais de 74,1 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 5.902 pessoas dos 362.616 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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