Da realidade virtual às teleconsultas. Como a Santa Casa faz o caminho para a digitalização
Levar a realidade virtual aos utentes em lares, teleconsultas e telereabilitação. Na SCML continuam a acreditar na presença, mas acreditam que com o digital vão chegar a mais pessoas.
Nas vésperas de Natal, dia 23 em bom rigor, uma equipa da Santa Casa levou quatro pares de óculos de realidade virtual aos utentes que vivem na estrutura residencial para idosos (ERPI) da Quinta Alegre, em Lisboa. Um presente antecipado que, com a orientação das terapeutas, será usado por todos os que aqui vivem e, de forma lúdica, poderá em breve ser usado como ferramenta para acompanhar a saúde dos pacientes sempre numa lógica “preventiva”. Esse é o próximo passo. Quem o conta é Francisco Pessoa e Costa, diretor de Estudos e Planeamento Estratégico da SCML, a pessoa que tem a seu cargo o processo de digitalização da Santa Casa, uma instituição com 500 anos.
Na ERPi da Quinta Alegre, onde vivem 60 pessoas, o confinamento obrigou a parar visitas e as saídas também deixaram de se fazer. Era a candidata perfeita a esta ideia do provedor da Santa Casa, Edmundo Martinho, de levar o mundo à casa. “Para lá do acompanhamento das terapeutas, achou-se que poderia ser interessante mostrar realidade virtual”. E, assim, estes óculos de realidade virtual, usados com fins terapêuticos, tornaram-se mais uma das atividades que podem oferecer aos utentes para ver um concerto, fazer uma viagem, ir a um museu…
Uma atividade como esta (ainda que de curta duração como será o caso) pode ser mais um instrumento para “para analisarmos as reações cognitivas dos nossos residentes e antecipar situações de demência ou Alzheimer ou quando reflexos ou a força já não são o que eram”, considera Francisca Pessoa e Costa.
Teleconsultas, telereabilitação, telemonitorização
Francisco Pessoa e Costa será um dos poucos que pode dizer que a pandemia de covid-19 trouxe algo de bom. “Diria que esta situação tornou mais fácil o nosso trabalho de sensibilização”, afirma em declarações ao ECO. “Hoje conseguimos uma maior aceitação de que realmente o digital é um caminho que as empresas e instituições têm de percorrer. Antes da pandemia era mais difícil”, completa. Isto porque, no início de 2020, e antes de o teletrabalho se ter tornado numa palavra tão usada, já Francisco Pessoa e Costa e a sua equipa estavam a desenvolver projetos nesta área.
Dois desses projetos que envolvem algum acompanhamento à distância estão no Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão (CMRA). “Vamos fazer consultas com múltiplos clínicos – terapeuta da fala, fisiatra, psicólogo, etc – que estão com um mesmo doente sem que precise de se deslocar a Alcoitão”. Por outro lado, conta, e acrescenta: “Mas também vamos apoiar após a alta hospitalar. Vai ser acompanhado em casa, através de sistemas de teleconsulta e telemonitorização para garantirmos que a recuperação está a ser desenvolvida, sem necessidade de visitas frequentes.”
A monitorização clínica “é uma tendência mundial”, diz Francisco Pessoa e Costa, mas a ideia não é deixar as consultas presenciais. “Não estamos a querer substituir as consultas presenciais, estamos a usar as novas tecnologias para fazer consultas sem deslocação”, explica. “O utente pode fazer a consulta em sua casa, onde quiser, sem o ónus de se deslocar”, nota. “Também na questão da telemonitorização conseguimos acompanhar mais eficazmente”, defende.
Uma das possibilidades que abre a telereabilitação é, por exemplo, introduzir uma componente de gaming, “em que a pessoa vai fazendo um jogo e ganhando pontuação”.
“O que procuramos saber agora é se os nossos profissionais de saúde estão disponíveis para esta mudança de modelo de acompanhamento”, explica Francisco Pessoa e Costa, há 4 anos na SCML. A capacitação digital anda em dois sentidos – o dos doentes que têm de se adaptar a estas ferramentas (ultrapassando obstáculos como, por exemplo, a ausência de dados móveis) e o de quem trabalha na Santa Casa.
Foi de um dos projetos que está em marcha, em parceria com a tecnológica IBM, que surgiu a certeza que era preciso capacitar digitalmente todos os envolvidos.
Saúde mental, à distância para estar mais próximo
Com o W+, um projeto da Santa Casa virado para a saúde mental, foi identificada uma start up que desenvolve uma aplicação que “permite aos terapeutas ter uma relação mais próxima com os seus doentes e utentes”, refere o responsável ao ECO. “As pessoas podem indicar qual é o seu estado anímico. Torna-se uma espécie de terapia de grupo com a criação de contactos em grupo”, explica.
Os projetos continuam e em janeiro a Santa Casa vai reunir-se pela primeira vez com a Universidade Nova de Lisboa para que as duas instituições ponham em marcha um “mecanismo que permita o acompanhamento contínuo dos utentes”. Francisco Pessoa e Costa explica a importância deste programa: “É muito importante para antecipar problemas e é um acompanhamento permanente”, diz. Ao receberem continuamente dados de um determinado local, podem tirar conclusões, defende.
O que tem vindo a interessar a esta equipa de Transformação Digital é “usar a tecnologia para melhorar os modelos”. “Passando de uma atuação corretiva para tentar uma atuação mais preventiva e menos curativa”. Tão-pouco defendem estas abordagens para poupar custos. “Ou melhor”, diz, “podemos poupar, mas para ajudar mais pessoas”.
Francisco Pessoa e Costa não tem dúvidas. “É um caminho irreversível, porque há um conjunto de situações que não vai desaparecer, é preciso manter as pessoas em casa mais tempo e as pessoas perceberam que há algumas vantagens em poder trabalhar e apostar no digital para melhorar processos de trabalho. Não é só o teletrabalho. É que pelo digital posso fazer de outra maneira que é mais benéfica para a instituição e para os utentes da instituição”
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