“Gases renováveis trazem mais oportunidades do que ameaças”, diz CEO da PRF
"Num futuro muito próximo, a grande maioria da atividade da PRF se centrará, na área dos gases renováveis”, afirmou Paulo Ferreira, CEO da PRF, numa conferência dedicada à transição energética.
Depois de 30 anos dedicados aos gases de origem fóssil, o futuro da empresa portuguesa PRF adivinha-se agora mais “verde” e totalmente alinhado com a transição energética em curso, que já nada nem ninguém pode travar. A garantia foi dada por Paulo Ferreira, CEO da PRF, na abertura da conferência online “Oportunidades e desafios que a transição energética vai trazer ao setor do gás”, que teve lugar esta quinta-feira.
“Esta fase da transição energética que estamos a começar a viver também traz à PRF um conjunto de oportunidades que acreditamos que soubemos aproveitar. Soubemos identificar as necessidades do mercado, soubemos identificar a oportunidade. Criamos a estrutura, criamos as competências. Há dois anos criamos uma área só dedicada aos projetos do hidrogénio, temos formado pessoas, temos criado capacitação dentro de casa para responder às necessidades do mercado e temos a certeza que, num futuro muito próximo, a grande maioria da atividade da PRF se centrará, com certeza absoluta, na área dos gases renováveis”, afirmou Paulo Ferreira.
Apesar de ter em conta que esta é uma fase de desafios, o CEO da PRF acredita que as oportunidades que trará vão superá-los: “Independentemente de os desafios serem grandes, achamos que as oportunidades que os gases renováveis vão trazer a esta indústria são bastante maiores do que eventuais ameaças que possam acontecer”.
No entanto, e porque o presente ainda se faz sobretudo de gás natural, Alexandre Neto, Project Manager Supervisor da PRF, apresentou o MOOV – Mobile Refuelling Station – um posto de abastecimento de Gás Natural Liquefeito (GNL) móvel, que liberta os clientes das questões burocráticas relativas a licenças de construção e a execução da obra civil, entre outros. Este posto de abastecimento, entre outras vantagens, dá para ser instalado em menos de duas horas.
“Empresas como a PRF desempenham um importante papel na nossa transição energética. Estiveram presentes no setor energético no passado e acreditamos que têm a capacidade e o know how e a capacidade para fazer parte do futuro dos gases renováveis. O Governo conta com todas as empresas portuguesas para chegarmos a um futuro neutro em carbono”, disse o secretário de Estado da Energia, João Galamba, que marcou presença na conferência.
De acordo com o governante, “ao Governo cabe criar as condições para que as empresas possam investir. Queremos ser early movers nos gases renováveis. E por isso vamos usar as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência para complementar o investimento privado nesta área”.
A conferência de aniversário da PRF ficou também marcada pelo painel de debate onde marcaram presença responsáveis nacionais e internacionais de sete empresas: Fernando Sarasola, CEO da Molgas, Gabriel Sousa, CEO da GALP Gás Natural Distribuição, Gordon Canning, Technical Director da Prima LNG, Laure-Anne Mounet, Deputy Sales Director da GNVERT, Moisés Ferreira, Business Developer da PRF, Nuno Moreira, CEO da Dourogás Renovável, Pedro Furtado, Gas Regulation e Tarifs Manager da REN.
Os sete convidados partilharem pontos de vista sobre a transição energética e levantaram o véu sobre alguns projetos-piloto nos quais já estão a trabalhar, tendo em vista a mudança e a otimização de recursos.
Na primeira parte do debate, os convidados começaram por apresentar as visões de cada empresa sobre a transição energética e o que cada uma tem vindo a fazer para contribuir para o futuro das energias renováveis.
Fernando Sarasola, CEO da Molgas, começou por dizer que agora, quando se fala em oportunidades e desafios referentes à transição energética, fala-se sobretudo sobre hidrogénio. “Toda a gente quer mostrar um sólido conhecimento em hidrogénio. Eu queria falar com maior conhecimento, com o conhecimento de empresário, que encara esta transição como uma grande oportunidade”.
O CEO da Molgas adiantou que imagina um futuro com uma vasta oferta de “energias limpas”, mas ressalvou: “O gás vai ser sempre importante neste ecossistema, mas temos de providenciar outras soluções de energia. Nós temos de estar presentes em toda a oferta dos combustíveis”.
Para Fernando Sarasola, há uma diferença entre o hidrogénio e o GNL que pode vir a fazer história. “A diferença entre o hidrogénio e o GNL é que o GNL produz-se no Extremo Oriente, em África, na América Latina ou nos EUA, enquanto o hidrogénio aproximou-nos da produção e, pela primeira vez na história, nós temos a oportunidade de fazer parte da produção”. Há, com isto, a oportunidade de até pequenas empresas poderem ser os próprios fornecedores de energia.
Já Gabriel Sousa, CEO da GALP Gás Natural Distribuição, destacou as infraestruturas modernas que Portugal dispõe como um ótimo aliado na descarbonização. “Nós temos uma rede muito adequada para fazer os ajustes, as mudanças que são necessárias para receber gases renováveis, nomeadamente, o hidrogénio. Estamos a falar de redes bastantes modernas. Isto dá-nos uma boa posição comparativamente a outros países europeus”.
O CEO da GALP Gás Natural Distribuição acrescentou ainda que a digitalização fará também parte da transição energética. “Isto pode ser equiparado aos desafios enfrentados para uma gestão inteligente das redes de gás. Ter vários pontos de injeção será um desafio – com diferentes injeções de biometano, hidrogénio – e construindo também a digitalização”.
Também a evolução do setor foi mencionada por Gabriel Sousa como um dos passos da transição. Para o CEO da GALP Gás Natural Distribuição, adaptar a atividade às mudanças e às necessidades dos consumidores é uma oportunidade de entregar o papel fundamental dos ativos de distribuição de gás no processo de descarbonização.
“Em relação aos projetos em que temos vindo a trabalhar, e como operadores chave da infraestrutura de energia, a GGND (Galp Gás Natural Distribuição) está empenhada em criar uma economia sustentável, que será neutra em carbono em 2050. Está clara, para nós, a descentralização e nós estamos a sentir a relevância de alguns projetos que estão a trazer para as nossas empresas, com potencial para injetar hidrogénio ou biometano na rede”.
Redução da “pegada de carbono” e os combustíveis alternativos
Ainda dentro das soluções criadas para a transição energética, Gordon Canning, Technical Director da Prima LNG, explicou que o objetivo da empresa é “criar ar limpo e reduzir drasticamente o impacto do carbono”. “O nosso negócio principal de Gás de Petróleo Liquefeito (GPL) e GNL oferece aos clientes uma fonte de energia relativamente limpa, tanto em termos de pegada de carbono quanto de qualidade do ar”, disse o Technical Director da Prima LNG. Ainda assim, acrescentou que planeiam aumentar os combustíveis de base biológica e renovável no portfólio.
“Na Europa, o nosso foco está no desenvolvimento de soluções de baixo carbono. O futuro da energia rural é uma área-chave de ação e estamos a ajudar os nossos clientes nessas localidades a fazer as mudanças necessárias. A capacidade do tanque da nossa frota movida a GNL está entre as maiores do mercado na Europa. Isso significa que podemos transportar cargas úteis máximas para minimizar os custos de logística dos clientes”, explicou.
De acordo com a visão de diminuir a “pegada de carbono” está também Laure-Anne Mounet, Deputy Sales Director da GNVERT, uma companhia do Grupo Engie, líder em combustíveis alternativos. O desenvolvimento comercial, a engenharia, a construção, a operação de manutenção e assistência 24/24, a logística e abastecimento e as funções de suporte são as competências da GNVERT que, segundo Laure-Anne Mounet, trabalha juntamente com a PRF em soluções de GNL. A GNVERT já tem, em conjunto com a PRF, cinco estações de reabastecimento de GNL em operação e cinco outras em construção, das quais três são estações móveis de reabastecimento.
Moisés Ferreira, Business Developer da PRF, ressalvou que são as relações de parceria com os clientes que levam ao sucesso da PRF. Disse ainda que alguns dos convidados da conferência já são parceiros da PRF há mais de 20 anos, outros são mais recentes, mas trabalham com o mesmo rigor e competência em ambas as situações.
“Nós começamos a criar a nossa unidade de negócio apenas focada no hidrogénio, criamos a equipa com algumas pessoas que já tínhamos na PRF e que já têm o conhecimento sobre GNL, gás e GPL, mas também contratamos novas pessoas. E o que nós estamos a fazer com o hidrogénio não é muito mais do que temos feito nos últimos 30 anos – nós começamos com GPL, há 30 anos, e, depois disso, tivemos as primeiras mudanças para o gás natural. Depois, há 20 anos, fizemos o mesmo com o GNL. Avançamos para GNL e, depois disso, talvez há cinco ou sete anos, fizemos o nosso primeiro projeto de biogás. Tivemos de melhorar, tivemos de arranjar recursos, tivemos de avançar e começamos a trabalhar com o biogás. E o que fizemos há dois anos foi o mesmo, mas com o hidrogénio”, explicou Moisés Ferreira.
Apesar de apostar em energias renováveis e ter em vista a transição energética, o Business Developer da PRF acrescentou que, além de hidrogénio, o futuro também terá outro tipo de gases. “Eu concordo com o Fernando Sarasola quando ele diz que no futuro irá haver hidrogénio, mas também vai haver GNL e gás natural, até GPL. Por um lado, nós estamos a crescer e estamos a pensar no futuro com hidrogénio, mas não nos esquecemos da outra energia que também trabalhamos”, rematou.
Visão global sobre mudanças, oportunidades e desafios
Nuno Moreira, CEO da Douro Gás Renovável, além de realçar a relação de parceria com a PRF, que dura há 25 anos, destacou também três passos que têm desenvolvido para criar uma energia livre de carbono e potenciar a mobilidade nesse sentido, nomeadamente redes de gás natural, postos de abastecimento de NGV (Natural Gas Vehicle), hidrogénio e energias renováveis.
“No último ano nós abrimos quatro novos postos de abastecimento de GNL e, novamente, com a PRF envolvida. As vendas de gás natural estão a ir bem. De 2018 para 2019, tivemos um aumento de 67%”, disse Nuno Moreira, que considerou este aumento como uma consequência direta de abastecerem mais de 600 veículos pesados ao dia.
“Eu acredito que esta é a forma certa para ajudar o setor da energia – gás natural para edifícios e, também, gás natural para camiões”, afirmou. O CEO da Douro Gás Renovável apresentou também o projeto em que estão a trabalhar: o Biogas Move, o primeiro projeto em energias renováveis (biometano). “Nós estamos a produzir biometano de uma Central de Valorização Orgânica, instalada em Mirandela. A estação está pronta para trabalhar e será a primeira de biometano em Portugal”, disse.
Do ponto de vista de uma operadora de rede de distribuição de gás natural, a REN, o futuro ao nível da energia passa pela eletricidade, pelo gás natural e pelo hidrogénio. Quanto a este último, Pedro Furtado, Gas Regulation e Tarifs Manager da REN, afirma estar alinhado com as metas nacionais e da União Europeia.
“Para avançarmos, temos de implementar um futuro com combustíveis de baixo carbono”, disse Pedro Furtado que, tal como Fernando Sarasola e Moisés Ferreira, concorda que o gás “é, definitivamente, uma solução num futuro com vista a descarbonização”.
“Nós temos que ter em mente a quantia de hidrogénio que vamos injetar antes e o que vamos injetar depois de funcionar. Tudo isto tem de ser coordenado e tem de seguir um caminho de forma a que seja possível a que a rede de combustíveis injete a maior quantia possível de hidrogénio e gases renováveis. E isto é um grande desafio”, afirmou o Gas Regulation e Tarifs Manager da REN. “Temos de estar preparados. Estamos a receber os primeiros projetos para injetar hidrogénio e isso é muito bom sinal”, concluiu.
Hidrogénio perto de ser injetado na rede, em projeto piloto no Seixal
Um dos projetos-piloto de injeção de hidrogénio na rede situa-se no Seixal. Depois de, no debate, surgir a questão sobre a possibilidade dos projetos de demonstração poderem escalar e se tornarem maiores, vários convidados não tiveram dúvidas em afirmar que, apesar de pequenos, são estes projetos que estão a trazer o conhecimento e as ferramentas necessárias para conseguirem enfrentar o futuro.
Pedro Furtado considera que estes projetos são muito necessários porque só assim conseguem testar soluções. “Temos de testar gerências, conexões, casos de negócio, coisas físicas e casos de negócio que precisam de ser desenvolvidos. Então, tudo tem de ser feito e testado e nós já estamos a fazer isso com os produtores que vêm ter connosco. Nós procuramos mais projetos-piloto para aprender com eles e tornar essa aprendizagem pública, isto porque toda a gente precisa conhecê-la e ter uma melhor forma de avançar”, explicou.
Mas Gabriel Sousa ainda deu mais pormenores sobre o projeto: “O projeto está completo em termos de conceito. Já foi apresentado às autoridades portuguesas – temos um feedback verde do regulador português. Tem 80 clientes, principalmente residenciais – mas, tal como o Pedro mencionou, isto vai testar o controlo dos procedimentos de injeção. Importa dizer que também inclui uma linha de 1.4 quilómetros de 100% de hidrogénio. Esta é a linha que liga o produtor de hidrogénio até ao ponto de mistura. Isto é muito positivo por podermos fazer todos estes testes”.
O CEO da GALP Gás Natural Distribuição adiantou também que os custos do projeto rondam meio milhão de euros para ser todo desenvolvido em dois anos. “A indústria está no Seixal, no parque industrial, que já construiu uma geração fotovoltaica. Aqui estamos a falar, principalmente, de hidrogénio verde com eletrolisadores”, acrescentou. Gabriel Sousa afirmou que, a partir do momento em que tivessem luz verde do governo, conseguiriam fazer, em 2 meses, a injeção de hidrogénio no Seixal.
Moisés Ferreira concordou e acrescentou: “Se só dependesse de nós, eu diria que podíamos fazer isso este ano. Nos dias de hoje, nós desenvolvemos soluções para os fornecedores, nós desenvolvemos a nossa própria solução em termos de engenharia e, sim, nós somos capazes e estamos a discutir com alguns clientes algumas soluções para construir postos de abastecimento aqui em Portugal, com diferentes operadores”.
“Estamos num momento muito bom”, começou por dizer Nuno Moreira. O CEO da Dourogás Renovável adiantou também que têm um “projeto especial” em Lisboa, onde vão produzir hidrogénio a partir do biogás. “Está aprovado, nós vamos começar a construção no próximo mês. A PRF também vai participar neste projeto. Nós apoiamo-nos uns aos outros, nós precisamos uns dos outros”, disse.
Quanto à possibilidade de estrear postos de abastecimento de hidrogénio em breve, confessou: “Eu espero que aconteça num futuro próximo. Se não no final deste ano, no princípio do próximo. A construção [do projeto de Lisboa] vai começar brevemente, nós já assinamos o contrato – isto é um projeto de investigação aprovado, por isso assinamos o contrato com a ANI, a Agência Nacional de Inovação.
Laure-Anne Mounet explicou que, em França, já é possível abastecer os veículos com hidrogénio (ao contrário do que acontece em Portugal que, como não tem postos, obriga os veículos que andam a hidrogénio a irem abastecer a Espanha). Ainda assim, apesar dos 80 postos de abastecimento de hidrogénio, a Deputy Sales Director da GNVERT explicou que só dois deles é que são grandes estações, os outros são pequenos.
“No meu ponto de vista, nós não conseguimos esperar cinco, dez ou 20 anos para tornar o hidrogénio capaz de limitar os gases de carbono emitidos pelos transportes, nós precisamos de agir agora e, para isso, o gás natural e o biometano são uma solução para o presente. Nós somos capazes de abastecer todos os nossos postos de abastecimento de biogás e tentamos conseguir o biogás de produtores locais para a economia circular, o que é uma das vantagens do biogás e do biometano. Por isso, hidrogénio, sim, mas, para hoje, o ponto está no gás natural e no biogás”, rematou.
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