“A minha disponibilidade é total para ir a aumento de capital”, diz acionista da Groundforce
Alfredo Casimiro diz ao ECO que está à espera do plano da TAP para avançar também com uma reestruturação. Já saíram mil trabalhadores e foram cortados custos no valor de 60 milhões de euros.
O acionista privado da Groundforce, Alfredo Casimiro, está disponível para reforçar o capital da empresa para fazer face às dificuldades financeiras. Defende que a empresa de handling estava de boa saúde antes da pandemia e que irá voltar a recompor o negócio, mas para isso será necessário um plano de reestruturação. Enquanto não avança, saíram mil trabalhadores e foram cortados 60 milhões de euros em custos.
“Quando as empresas não têm capital ou o perdem por alguma razão têm de haver reforços de capital. A minha disponibilidade é total para ir a um aumento de capital“, diz Alfredo Casimiro ao ECO, numa conversa durante a tarde, antes da conferência de imprensa do Governo. O presidente do conselho de administração da empresa é também dono da Parsogal, que detém 50,1% da Groundforce. Os restantes 49,9% do capital são da TAP, que não quis fazer comentários a uma eventual operação e que é simultaneamente o maior cliente, responsável por 70% do negócio da Groundforce.
Quando a TAP foi fortemente afetada pela pandemia, a Groundforce sofreu os efeitos em cadeia. Segundo números avançados por Casimiro ao ECO, a faturação caiu para 63 milhões de euros em 2020, menos 58% do que os 153 milhões de euros registados em 2019. De lucros de nove milhões de euros antes da pandemia, os resultados da empresa passaram para prejuízos de 25 milhões de euros no ano passado.
“Estamos com 10% do número de voos, é incomportável”, diz o empresário. Foi a quebra no negócio que causou uma situação de rutura na tesouraria e os atrasos no pagamento dos salários de fevereiro de quase 2.400 trabalhadores.
"Tenho um contrato com a TAP válido até dezembro de 2022 e não me compete a mim enquanto acionista individual fazer reforços de capital. Não tenho qualquer garantia. Nenhum empresário poria dinheiro seu sem garantias de renovação de um contrato por, pelo menos, cinco anos.”
Mas se Alfredo Casimiro tem dinheiro para reforçar o capital, porque não o usou para pagar os salários em atraso? “Tenho um contrato com a TAP válido até dezembro de 2022 e não me compete a mim enquanto acionista individual fazer reforços de capital. Não tenho qualquer garantia. Nenhum empresário poria dinheiro seu sem garantias de renovação de um contrato por, pelo menos, cinco anos“, justifica.
E discutiu com o outro acionista, a TAP, pagarem em conjunto os salários? “Foi um assunto nunca colocado”, disse ao ECO. Assim, a solução encontrada foi o adiantamento de faturas de serviços prestados à TAP, o que tem permitido manter a empresa à tona e deverá continuar a ser até que a Groundforce consiga fechar um empréstimo junto da banca na ordem dos 30 milhões de euros e que está à espera de ter aval do Estado.
Mil trabalhadores saíram da Groundforce na pandemia
Além do contrato com o maior cliente — cujo prazo a terminar dentro de menos de dois anos é visto como instabilidade –, a companhia aérea está prestes a arrancar com um processo de reestruturação. O plano (que continua à espera de aprovação da Comissão Europeia para ser executado) irá redimensionar a empresa e, consequentemente, a contratação de serviços à Groundforce.
“É preciso fazer um plano de reestruturação profundo, mas só pode ser feito depois de ser conhecido o plano de reestruturação da TAP. Do que sabemos, foi proposta uma redução da frota para 88 aviões. É preciso saber se Bruxelas aceita ou não”, explica Alfredo Casimiro. “Temos o plano feito e todo preparado, mas só o podemos ajustar depois de sabermos o que vai ser da TAP”.
"Criámos poupanças e reduzimos custos no valor de 60 milhões de euros. Aliviámos o quadro de funcionários em cerca de mil pessoas, recebemos cerca de 18 milhões de euros de apoios pelo lay-off, renegociámos contratos com uma série de fornecedores, rescindimos com alguns espaços. Estamos a tomar uma série de medidas.”
Enquanto não o pode fazer, a Groundforce já está ainda assim a ajustar o negócio às quebras da pandemia, tal como fez a própria TAP. “Criámos poupanças e reduzimos custos no valor de 60 milhões de euros. Aliviámos o quadro de funcionários em cerca de mil pessoas, recebemos cerca de 18 milhões de euros de apoios pelo lay-off, renegociámos contratos com uma série de fornecedores, rescindimos com alguns espaços. Estamos a tomar uma série de medidas”, enumera o gestor.
Um terço da força de trabalho foi reduzida neste processo e não há garantias de que não irão sair mais pessoas, apesar de Casimiro dizer que vai fazer “os possíveis” para evitar despedimentos. A administração está a negociar com Comissão de Trabalhadores e com os sindicatos para um plano de trabalho a tempo parcial que consiga diminuir o número de saídas.
Até porque “a qualquer momento, com a vacinação, acreditamos que, em junho ou julho, as coisas comecem a melhorar”, diz sobre a evolução da pandemia. “Não será possível voltarmos a viajar para os EUA ou Brasil de barco. Não é possível. O mundo vai voltar. A Groundforce era uma empresa de sucesso até vir a pandemia e acredito que vai voltar a ser”.
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