Da britânica à brasileira, até à L452R, que variantes há? E que riscos representam?
O INSA identificou, pelo menos, 12 variantes, sendo que 3,8% dos casos são categorizados como “outras variantes”. Algumas variantes preocupam por dificultarem o densenvolvimento de anticorpos.
São várias as variantes que estiveram – e estão – a circular em Portugal ao longo do último ano. No entanto, o aparecimento de novas variantes tem sido preocupante para vários governos, na Europa e no mundo, levando muitos líderes a questionar se podem, ou não, desconfinar.
Em Portugal, naturalmente, houve diversas variantes a circular: a variante espanhola (dada como causa da segunda vaga); a estirpe S477N (linhagem B.1.160), variante europeia; a estirpe S98F (linhagem B.1.221), variante belga/holandesa. Estas variantes circulam há muito tempo no país, mas agora não são as que preocupam, mas sim a variante britânica e outras. No total, o Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge (INSA) identificou no seu relatório de março, pelo menos, 12 variantes, sendo que 3,8% dos casos são categorizados como “outras variantes”.
Recentemente, foi descoberta uma nova variante em França (ainda sob investigação) que não parece afetar a severidade da doença ou a transmissibilidade. Porém, não parece ter ainda saído de território francês, apesar da proximidade com outros países europeus. O mesmo não aconteceu com a variante britânica, que rapidamente se espalhou pela Europa, e não só.
Atualmente, segundo indicou a ministra da Saúde, a variante britânica representa 65% dos novos casos em Portugal, o que preocupa as autoridades de saúde por ser mais contagiosa. Mas também o CDS já avisou para o facto de o país ser um dos destinos preferidos dos turistas britânicos, o que poderá agravar a situação. Então, como está a situação das novas variantes em Portugal?
Variante britânica
A variante que mais preocupa, por enquanto, é a britânica (N501Y.V1 – linhagem B.1.1.7). Foi detetada pela primeira vez em setembro, no Reino Unido, e espalhou-se por todo o mundo rapidamente. Representou quase 60% (58,2%) das amostras analisadas pelo INSA em fevereiro. Estes dados mostram um “incremento relativamente à frequência de 16% observada em janeiro”, indica o relatório. Mais recentemente, após a reunião dos especialistas no Infarmed, a ministra da Saúde destacou que esta variante representa “65% dos casos positivos no nosso país”.
A variante inclui uma alteração na proteína do pico, que é usada para se ligar ao recetor ACE2 humano (facilita a entrada no sistema). Tem 23 alterações, entre elas a mutação N501Y – é esta mutação que está ligada a uma maior transmissibilidade. Alguns estudos indicaram que poderá ser mais letal, mas é necessária mais pesquisa sobre o assunto.
Até ao momento, as vacinas a ser utilizadas na Europa mostraram ser eficazes contra esta estirpe.
Variante brasileira
A variante brasileira, especificamente a variante associada a Manaus (Amazónia), representa 0,4% das amostras colhidas em fevereiro pelo INSA. Segundo o Centro de Controlo de Doenças dos EUA, esta variante tem 17 mutações únicas. Em Portugal circulam as variantes brasileiras de linhagem P.1 e P.2 – esta última tem maior resistência aos anticorpos do que o vírus original – o que dificulta a criação de imunidade.
Na segunda-feira foi publicado um artigo no New England Journal of Medicine, a vacina da Pfizer/BioNTech neutralizou uma variante do vírus construída com as mesmas mutações da variante brasileira.
Segundo noticiou a agência Efe na passada sexta-feira, um grupo de investigadores do Brasil identificou uma possível nova mutação do SARS-CoV-2. Entre 195 amostras de 39 municípios diferentes, foram identificadas três com uma nova variante do Covid-19. Os cientistas pensam que esta mutação está associada a um maior contágio.
Variante sul-africana
Segundo o INSA, a circulação da variante sul-africana (N501Y.V2 + E484K – linhagem B.1.351) em Portugal é limitada (0,1% de acordo com os dados de fevereiro). Tal como acontece na variante britânica, esta tem uma mutação genética que facilita a chegada do vírus às células, havendo mais hipóteses de contágio.
Consoante alguns estudos já feitos, uma das mutações desta variante dificulta o desenvolvimento de anticorpos (como a estirpe brasileira), o que, consequentemente, dificulta a criação de imunidade. Ainda há muita incerteza sobre se as vacinas funcionam, ou não, com esta variante.
Variante “californiana”
A variante, antes nomeada como L452R e agora C.16, está associada a uma variante original da Califórnia, identificada no verão na Dinamarca, mas espalhou-se rapidamente na Califórnia em novembro. À semelhança das outras variantes, preocupa os especialistas pelo seu efeito neutralizador dos anticorpos.
Em janeiro, Portugal foi surpreendido por esta variante (agora C.16) e em fevereiro estava presente em mais de 5% das amostras recolhidas pelo INSA. Está presente em 11 distritos e nas duas regiões autónomas.
Mas além desta (C.16), há outras duas variantes “com a mutação de interesse L452R na proteína Spike (linhagens A.21 e A.2.4)”, ou seja também semelhantes à californiana. “A emergência independente desta mutação em diferentes variantes/linhagens corrobora a importância do seu papel biológico”, nota o INSA.
Quanto à mutação L452R os especialistas dividem-se: uns, como o virologista Celso Cunha disse ao Observador, consideram que não terá influência na eficácia das vacinas; pelo contrário, outros, como Pedro Esteves, investigador do Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), avisam que poderá pôr em causa o programa de vacinação.
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