Projetos de Investimento para o Interior com processos administrativos simplificados

  • ECO
  • 20 Março 2021

Candidaturas ao estatuto de PII terão procedimentos administrativos acelerados e simplificados, informou o Ministério da Coesão Territorial.

Os Projetos de Investimento para o Interior (PII) passam a estar abrangidos por um regime especial de procedimentos administrativos simplificados e as candidaturas podem ser apresentadas no Portal de Serviços Públicos ‘ePortugal’.

Uma nota do Ministério da Coesão Territorial informa este sábado que as candidaturas ao estatuto de PII terão procedimentos administrativos acelerados e simplificados, para que “a execução seja mais rápida dos investimentos, com prazos mais curtos para pareceres da competência da Administração central, um período único de consulta pública e pareceres tácitos positivos”.

Podem candidatar-se a soluções de investimento para os territórios do interior os projetos que apresentem um investimento global de, no mínimo, 10 milhões de euros, que criem pelo menos 25 postos de trabalho diretos, tenham comprovada viabilidade económica e sejam ambiental e territorialmente sustentáveis.

Os projetos candidatos a investimento devem ainda comprovar um impacto positivo no aproveitamento dos recursos endógenos, na valorização do património natural ou cultural da região, no enquadramento na estratégia de especialização da região e na produção de bens e serviços transacionáveis inovadores.

Devem, igualmente, utilizar processos tecnológicos inovadores ou desenvolvidos em colaboração com entidades do sistema científico e tecnológico regional, como universidades, politécnicos ou centros de investigação e interagir com as outras atividades da região, nomeadamente nas micro e pequenas empresas.

Os Projetos de Investimento para o Interior com valor inferior a 10 milhões de euros e criadores de menos de 25 postos de trabalho podem ser elegíveis quando são considerados de “reconhecimento do interesse municipal”, com pelo menos 5% do volume de negócios dedicado a atividades de investigação e desenvolvimento e com uma forte componente de inovação e introdução de tecnologia nos processos.

Os promotores dos projetos, segundo o ministério, terão um acompanhamento permanente e sistemático por parte da Comissão Permanente de Apoio ao Investidor.

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“Pandemia já fez perder 29 mil empregos no turismo e restauração”, diz Rita Marques

  • ECO
  • 20 Março 2021

A secretária de Estado do Turismo diz que Portugal tem de procurar "melhores turistas" e assegura que os apoios extraordinários estão a demorar "menos de 20 dias úteis" a chegar às empresas.

O turismo tem sido uma das atividades mais castigadas pela pandemia e pelas restrições impostas para conter a sua propagação. Daí que, por efeito dessa crise, este setor tenha perdido 29 mil empregos, bem mais do que a média nacional, sublinha a secretária de Estado do Turismo, em entrevista ao Dinheiro Vivo. Rita Marques revela que o receio de que a destruição do emprego levasse a uma redução da oferta no mesmo de reabrir “assaltou o Governo desde o primeiro dia” e, por isso, foi fixada como “prioridade a necessidade de preservar postos de trabalho e capacidade produtiva”. “Mas já perdemos trabalhadores”, frisa.

“No alojamento e restauração, em 2019, tínhamos 290 mil postos de trabalho e entretanto, segundo o Instituto Nacional de Estatística, desapareceram 29 mil. Estamos a falar de uma taxa de 9%, substancialmente superior à nacional que é de 2%. Mas tenho esperança de que possamos recuperar esses postos e estamos a fazer esse esforço de garantir que as nossas empresas podem retomar a atividade com todas as condições, servir e acolher bem e começar a contratar quando a tão desejada retoma acontecer”, salienta a responsável.

Rita Marques garante ainda que os apoios extraordinários estão a demorar “menos de 20 dias úteis” a chegar às empresas em crise e atira que Portugal tem de procurar “melhores turistas”. “Portugal não quer sobreviver mas liderar nesta pandemia. Portugal não pode constantemente ir atrás de mais turistas, mas sim de ir atrás de melhores turistas”, afirma, referindo que estão em causa turistas “mais abonados financeiramente”, mas que se preocupam “com o planeta, os territórios, as comunidades que visitam e querem deixar o planeta melhor para todos”.

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Travão aos despejos não é automático mesmo em pandemia

  • ECO
  • 20 Março 2021

A proteção dos inquilinos contra despejos não funciona de modo automático, mesmo durante a pandemia. A suspensão da ação tem de ser ditada pelo tribunal.

Mesmo durante a pandemia, o travão aos despejos só funciona quando os inquilinos conseguem provar que ficam em situação de fragilidade após saírem do imóvel e essa prova tem de ser feita em tribunal, avança o Público (acesso condicionado), este sábado.

Face à pandemia de coronavírus, foi preparado uma lei que determina a proteção dos inquilinos, suspendendo as ações de despejo e cessação de contratos de arrendamento, mas a sua aplicação não é automática. Ao Público, Miguel Marques, especialista em questões de arrendamento, explica que, no entendimento dos tribunais da Relação de Lisboa e Porto, a suspensão da acção de despejo “tem de ser precedida de uma avaliação do Tribunal” e só ele poderá definir “se o despejo pode ou não colocar o arrendatário em situação de fragilidade por falta de habitação própria ou por outra razão de natureza social imperiosa”.

Ou seja, a aplicação da proteção em causa implica sempre que um juiz oiça o arrendatário, demonstrando este que o prosseguimento do despejo colocá-lo-á em situação de fragilidade. Cabe ao juiz e só ao juiz determinar, depois, a suspensão ou não da ação. Apenas esta interpretação garante que “a norma poderá ser justa e realizar o seu propósito”, defende Miguel Marques.

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“Não sou balão de oxigénio de ninguém”, diz Carlos Moedas

  • ECO
  • 20 Março 2021

"Eu não pedi licença a ninguém para ser candidato à Câmara de Lisboa", sublinha Carlos Moedas, em entrevista ao Expresso. Diz que não será "balão de oxigénio" de ninguém.

Não sou balão de oxigénio de ninguém. As palavras são de Carlos Moedas, candidato do PSD a Lisboa, que recusa ser uma “alavanca” para Rui Rio e garante, além disso, não ter pedido autorização a Pedro Passos Coelho para avançar com entrada na corrida autárquica. Em entrevista ao Expresso (acesso pago), o social-democrata diz esperar que as autárquicas não abram uma crise política e deixa claro que exclui coligações pós-eleitorais com o Chega.

Eu não pedi licença a ninguém para ser candidato à Câmara de Lisboa. É o meu projeto. Esse projeto tem o apoio do meu partido, obviamente, mas é mais do que isso”, sublinha Carlos Moeda. Questionado sobre se a sua eventual vitória daria um novo fôlego a Rui Rio, o político atira: “Não penso que isso seja balão de oxigénio de ninguém, as pessoas vão votar num projeto liderado por mim para a Câmara de Lisboa”.

Sobre Lisboa e quando questionado sobre o futuro da Carris, Moedas defende “estabilidade nas políticas”. “Trabalhar com o que temos. Não vou ter posições ideológicas cegas“, assegura. Mostra-se favorável às ciclovias, mas com parques de estacionado, bem como à flexibilização do alojamento local. Assume também uma posição forte sobre o período da troika, dizendo que a lei das rendas e leis laborais não deviam ter sido revertidas.

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Bruxelas ameaça bloquear exportações da vacina AstraZeneca

  • Lusa
  • 20 Março 2021

"Esta é a mensagem que estamos a enviar à AstraZeneca: respeitem o vosso contrato com a Europa antes de começarem a entregar a outros países", disse Ursula von der Leyen.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ameaçou, este sábado, bloquear as exportações da vacina AstraZeneca se a União Europeia (UE) não recebesse primeiro as suas entregas.

Temos a opção de proibir quaisquer exportações planeadas. Esta é a mensagem que estamos a enviar à AstraZeneca: respeitem o vosso contrato com a Europa antes de começarem a entregar a outros países“, disse Ursula von der Leyen numa entrevista com o grupo de comunicação social alemão Funke.

“Todas as opções estão sobre a mesa”, acrescentou a ex-ministra da Defesa alemã num aviso claro, sublinhando que os líderes da UE iriam rever a questão da entrega na próxima semana.

A Comissão Europeia anunciou na quinta-feira que iria ativar um procedimento contratual para resolver o litígio com a AstraZeneca, cujas entregas de vacinas contra a covid-19 são significativamente inferiores às inicialmente previstas. Este procedimento está previsto nos contratos de fornecimento de vacinas da União Europeia (UE).

Cada parte tem a oportunidade de enviar uma carta à outra parte, convidando-a a participar num processo de resolução de litígios que terá lugar 20 dias mais tarde entre os dirigentes executivos da Comissão Europeia e a empresa.

A AstraZeneca deverá entregar 70 milhões de doses da sua vacina contra a Covid-19 – cuja utilização foi suspensa por vários países – no segundo trimestre, muito menos do que os 180 milhões prometidos no contrato assinado com a União Europeia. No primeiro trimestre, espera-se que a UE tenha recebido um total de cerca de 30 milhões de doses da AstraZeneca.

Embora a Pfizer, sediada nos EUA, tenha resolvido os seus problemas de produção de vacinas, “existe uma grande suspeita nos círculos europeus (de que o grupo Astrazeneca) tem vendido as mesmas doses várias vezes e não é capaz”, por isso, de entregar à União Europeia, disse um alto funcionário da UE.

O mecanismo de proibição da exportação de vacinas é primeiro decidido pelo Estado-membro onde a vacina é produzida e depois a Comissão dá a sua luz verde. O mecanismo só foi utilizado uma vez, tendo a Itália bloqueado a exportação de 250.000 doses de vacina AstraZeneca para a Austrália, citando uma “escassez persistente” e “atrasos nas entregas”.

Contudo, nem todos os Estados membros da UE são favoráveis a uma proibição de exportação, com países como a Holanda e a Bélgica – onde grande parte da vacina da AstraZeneca é produzida – a apelar à prudência.

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Crise causada pela Covid-19 provou que é preciso Estado Social forte, diz Farinha Rodrigues

  • Lusa e ECO
  • 20 Março 2021

Especialista em desigualdades e pobreza sublinha que crise pandémica mostrou que é preciso um Estado Social forte e alertou que o pior ainda poderá estar para vir.

O especialista em desigualdades e pobreza Carlos Farinha Rodrigues defendeu que a atual crise provocada pela pandemia da Covid-19 provou que é preciso um Estado Social forte e alertou que o pior ainda poderá estar para vir.

Em entrevista à agência Lusa, o professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), da Universidade de Lisboa, e investigador nas áreas da distribuição do rendimento ou da desigualdade e pobreza afirmou que se há alguma coisa que esta crise provou é que é preciso um Estado Social forte.

Deu como exemplo o caso de muitas famílias em Portugal que viviam da economia informal, “de setores com uma ligação muito ténue ou inexistente ao mercado formal de trabalho”. “Se isso no passado, em termos de crise, funcionava como um escape, como um amortecedor, quando tudo para, essas famílias ficam sem qualquer tipo de rendimento”, apontou, recordando que em março e abril do ano passado o “confinamento relativamente grande” levou a que “a atividade económica ficasse congelada”.

Farinha Rodrigues apontou que exatamente pelo facto de estas pessoas terem “uma ligação muito ténue com o mercado de trabalho”, elas estão também “excluídas dos mecanismos tradicionais de proteção social”. “A Segurança Social habitualmente não lida com aquelas pessoas e portanto, de repente, as políticas públicas foram colocadas perante a necessidade de ter de reinventar alguns dos nossos esquemas para apanhar estas pessoas”, explicou. Razão pela qual acredita que “este é um desafio do presente que ficará também para depois da pandemia”.

“Como é que nós fazemos para trazer estas pessoas para o mercado de trabalho formal, para lhes garantir direitos e deveres”, questionou, dando como exemplo o facto de as políticas públicas terem tido de se adaptar para que a segurança social conseguisse apanhar setores da população que não estavam abrangidos pelos mecanismos regulares de proteção social.

Na opinião do professor e investigador, é isso que justifica que algumas das medidas criadas de apoio às famílias e às empresas, por causa das consequências da pandemia, “tenham sido alteradas cinco, dez vezes”. Farinha Rodrigues acredita, por isso, que ”se alguma coisa esta crise provou foi a necessidade de [haver] um Estado Social forte”.

“Espero que a larga maioria dessas pessoas perceba os benefícios de estar enquadrado no Estado Social. Isso é um processo, não é uma decisão do momento, é algo que suponho, se tudo correr bem, vai demorar anos a concretizar-se, mas é importante alargar a abrangência do Estado Social, alargar a abrangência dos nossos mecanismos de proteção social”, defendeu.

Na comparação entre a atual crise e a crise económica que assolou o país entre 2010 e 2013, durante o período de vigência dos acordos com a troika, Caros Farinha Rodrigues destacou que “há uma diferença muito significativa”. “Há diferenças nas causas, há diferenças nos setores afetados, mas há uma diferença que eu acho muito importante, que foi o papel das políticas públicas”, apontou.

Na crise de 2010 a 2013 podemos dizer que grande parte das medidas de combate à pobreza praticamente não só não foram ativadas como inclusivamente diminuiu-se a eficácia de algumas dessas medidas. É isso que explica, por exemplo, que durante aquele período de crise enorme, com um aumento imenso da pobreza, os beneficiários do RSI [Rendimento Social de Inserção], por exemplo, tenham diminuído”, apontou. De acordo com o investigador, “desta vez aconteceu o contrário”, e as políticas públicas tentaram reduzir os efeitos da pandemia e da crise económica que lhe está subjacente.

No entanto, Carlos Farinha Rodrigues não consegue ainda dizer se as medidas agora aplicadas tiveram como consequência “um atenuar efetivo” da crise ou se foi apenas “um adiar para a frente de alguns dos seus efeitos”. Da sua análise, trata-se de algo que irá “depender muito das políticas que continuarem a ser seguidas ou não e da evolução da pandemia”.

Referiu que houve respostas inclusivamente para problemas novos que esta pandemia trouxe, como o caso das famílias dependentes da economia informal e fora do alcance da proteção social e para as quais as políticas públicas tiveram de se adaptar.

Para Farinha Rodrigues, “é expectável que haja algum retrocesso” nos indicadores de pobreza, mas refere que sem as medidas que o Governo foi implementando “possivelmente a situação seria muito pior”, dando como exemplo “a importância que teve o lay-off para milhares e milhares de pessoas em Portugal”.

“As medidas que foram tomadas permitem atenuar a crise, eventualmente não impedem que nós vamos registar um agravamento dos principais indicadores de pobreza, eu isso estou convencido que acontecerá, basta olharmos para o que acontece à nossa volta e vemos que há muitas famílias agora em situações com níveis de precariedade grandes”, sublinhou. Farinha Rodrigues diz mesmo que há outro aspeto que lhe motiva preocupação: “Eu não tenho a certeza se do ponto de vista social já atingimos o pior”.

“Muitas dessas medidas foram medidas de emergência que tentaram atenuar o agravamento da crise, mas deixaram várias espadas sobre a cabeça das pessoas, basta pensarmos nas moratórias”, apontou. Explicou, por isso, que não é ainda possível antecipar “com algum realismo” qual será o futuro, sublinhando que isso está dependente de fatores como a evolução da pandemia ou a recuperação pós pandemia, dois “fatores de incerteza muito grandes”.

No entanto, defendeu como essencial que seja feito um combate à pobreza com um mecanismo integrado que acabe com “as medidas avulsas, fragmentadas, segmentadas” e que traga “um conjunto de estabilizadores automáticos que reajam às várias crises que possam surgir”.

Temos que garantir que o nosso estado social, as nossas políticas públicas, no desenho e na implementação dessas medidas, têm a flexibilidade suficiente para se adaptar e garantir uma resposta pronta e eficiente a qualquer tipo de crise que surja”, rematou, defendendo que seja uma resposta sistémica aos problemas sem estar dependente de nenhum governo em concreto.

RSI deveria ser a chave numa estratégia contra a pobreza, diz especialista

O especialista em desigualdades sociais Carlos Farinha Rodrigues defendeu que é preciso repensar e reajustar o Rendimento Social de Inserção no âmbito de uma política de combate à pobreza, mas também rever grande parte dos mecanismos de proteção social.

Em entrevista à agência Lusa, o professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), da Universidade de Lisboa, e investigador nas áreas da distribuição do rendimento ou da desigualdade e pobreza disse que “claramente” é preciso “rever grande parte dos mecanismos de proteção social”, sublinhando que “as políticas sociais são essenciais para responder a situações de maior precariedade social e de pobreza”.

No entanto, ressalvou que “não serão nunca as políticas sociais só por si que resolvem o problema da pobreza”, defendendo que para isso é preciso que haja uma articulação entre políticas sociais e políticas económicas e lembrando que o que acontece no Ministério das Finanças “tem implicações óbvias na distribuição dos rendimentos, na pobreza e na desigualdade”. “Por isso, ponto um: a questão da pobreza não pode ser resolvida só pelas políticas sociais, ponto dois: as políticas sociais são indispensáveis para esse enquadramento”, defendeu.

Nesse sentido, apontou o Rendimento Social de Inserção (RSI), um apoio social destinado a pessoas que se encontrem em situação de pobreza extrema, como “uma das medidas que deveria ser chave numa estratégia de combate à pobreza”, admitindo que é preciso que seja repensada.

“Temos aqui uma medida que precisa de ser reajustada aos novos tempos, precisa de ser consensualizada e precisa de ser explicada”, defendeu Farinha Rodrigues, lembrando que esta prestação social completa 25 anos de existência e que, por isso, é preciso fazer um balanço do que correu bem e do que correu mal apesar de a ideia original ter sido “extremamente generosa e extremamente válida”.

De acordo com o professor e investigador, trata-se de uma medida que “é muito incompreendida por largos setores da população”, sobre a qual “existe um estigma muito grande”, nomeadamente de que é destinada a “quem não quer trabalhar”: “Ou pior ainda, é para os ciganos que não querem trabalhar”.

“Ambas as ideias são completamente falsas. Não é possível ver discriminação por etnia, mas não tenho dúvidas nenhumas que o número de beneficiários do RSI ciganos é menos de 5% do total”, defendeu.

Entende, por isso, que houve um “falhanço completo” por parte do Estado na sua obrigação de explicar a importância desta medida, razão pela qual defendeu que seja feita uma campanha de informação, apontando que “esta é a altura para o fazer”.

“Numa altura em que ao nível da União Europeia se estão a dar passos na implementação do pilar europeu dos direitos sociais, em que uma medida como o rendimento mínimo é estruturante desse pilar, acho que é necessário fazer uma rediscussão do que é o nosso RSI, o que é preciso fazer para o melhorar, o que é preciso fazer para lhe retirar esta capa negativa que muitos lhe puseram em cima e este é o momento para pensarmos nisso”, apontou.

Para isso, Carlos Farinha Rodrigues entende que é preciso aumentar a eficácia desta prestação social, que ela seja dirigida às pessoas que de facto necessitam e que tenha resultados, não só na parte da transferência de recursos, mas também no processo de inclusão na sociedade.

Defende igualmente que as alterações que venham a ser feitas sirvam para “dar consistência a um conjunto muito disperso de políticas sociais”, muitas com “montantes insignificantes”, mas que “geram ineficiências e perda de recursos”, sublinhando que a atual legislação permite acumular o RSI com outras 14 prestações sociais.

De acordo com o professor e investigador, é preciso também olhar para os próprios montantes do RSI, já que, com a atual legislação, e dependendo do tipo de família, o valor pago corresponde a entre 40% a 60% do limiar da pobreza, ou seja, valores entre os 216 euros e os 324 euros, já que o limiar da pobreza se situa nos 540 euros.

“Eu defendo que deveríamos caminhar, não de um dia para o outro, mas no horizonte temporal, por exemplo, durante esta década, para uma maior convergência entre os valores do RSI e os valores do limiar de pobreza”, disse Farinha Rodrigues, sublinhando que isso afetaria também o Indexante dos Apoios Sociais (IAS), o valor de referência para o cálculo das várias prestações sociais.

Esse aproximar progressivo ao valor do limiar da pobreza, implicaria necessariamente um aumento do valor, apesar de isso ser apenas “uma parte do que tem de ser mudado”. Farinha Rodrigues admitiu que esse processo não será fácil, uma vez que o limiar da pobreza não está muito distante do valor do salário mínimo nacional (665 euros) e este do salário médio (cerca de 1.220 euros), o que, na opinião do especialista, significa que são precisas ao mesmo tempo medidas de combate às desigualdades que promovam não só o aumento do salário mínimo, mas tragam também um crescimento efetivo do salário médio.

Claramente acho que o RSI é uma daquelas medidas que tem de ser repensada, os princípios básicos são exatamente os mesmos que estão desde o início, continuam válidos e estão consagrados no pilar europeu dos direitos sociais”, explicou.

Sublinhou, aliás, que a ideia original do RSI mantém-se, ou seja, é uma medida que é capaz de combinar transferências de recursos para as famílias em situação de grande precariedade e apoio na sua inclusão social, e defendeu que o RSI só faz sentido se tiver estas duas componentes.

Na opinião de Farinha Rodrigues, o RSI é “fundamental” para que os pobres deixem de ser pobres e faz “um balanço muito positivo” dos seus 25 anos de existência porque “permitiu de facto assegurar condições de sobrevivência, de recursos, de alguma dignidade e até da inclusão de algumas famílias”.

Como aspeto positivo mais importante destacou o papel que o RSI teve na diminuição do abandono escolar em Portugal, já que uma das condições para a atribuição era a obrigatoriedade da frequência escolar, enquanto como ponto negativo escolheu os fracos resultados ao nível da inclusão social, a parte mais fácil de cortar “quando se pretendia reduzir a eficácia e o efeito do RSI”.

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A pobreza cresceu e com ela o universo dos que dependem de apoios do Estado

  • Lusa
  • 20 Março 2021

Pandemia fez aumentar pobreza e, em consequência, os apoios sociais. Agravou-se também a dependência da ajuda alimentar do Governo.

Passado um ano do início da pandemia, o crescimento da pobreza em Portugal vai-se tornando visível no aumento de apoios sociais como as prestações pagas para atenuar a pobreza e na dependência da ajuda alimentar do Governo.

O total de prestações de Rendimento Social de Inserção (RSI) pagas em março de 2020, quando teve início a pandemia de covid-19 em Portugal, era de 199.918, mas em menos de um ano cresceu para as 212.045 prestações, segundo os dados mais atualizados do Instituto de Segurança Social (ISS).

O maior crescimento no total de beneficiários deu-se entre maio e junho do ano passado, com quase quatro mil novas prestações a somarem-se ao total em apenas um mês. O mês de agosto registou uma descida, logo invertida no mês seguinte.

De acordo com o ISS, em janeiro deste ano a prestação média por beneficiário foi de 119,19 euros e de 262,05 euros por família, valores acima do mês anterior e também em comparação com o mês homólogo, mas inferiores ao valor definido para o limiar de pobreza, que se fixa em 2021 nos 540 euros. O RSI foi criado para apoiar pessoas em situação de pobreza extrema, com o objetivo de garantir rendimentos para assegurar necessidades mínimas.

Também a crescer está o número de beneficiários da Prestação Social para a Inclusão (PSI), um apoio para pessoas com deficiência com uma incapacidade igual ou superior a 60%, a qual tem associada um complemento que visa combater a pobreza das pessoas nesta situação. Os 108.933 beneficiários em março de 2020 passaram a 111.522 em janeiro deste ano.

O Complemento Solidário para Idosos (CSI) regista um decréscimo no número de beneficiários, com 160.616 mil beneficiários em janeiro, cerca de menos quatro mil face a março de 2020. No entanto, dados relativos aos primeiros meses da pandemia mostram que o número de pedidos cresceu nesse período, com mais 10.292 idosos a requerê-lo entre março e setembro de 2020.

Significa isto que, em média, a Segurança Social recebeu todos os meses 1.470 pedidos de idosos para receber o CSI, ou seja, 49 pedidos a cada dia. Mais de metade (58,1%) dos pedidos foram feitos por mulheres idosas, com idades entre os 65 e os 74 anos (36,36%). Esta faixa etária é a que está mais representada, com um peso de mais de 61%.

No que diz respeito à ajuda alimentar, a pandemia obrigou a um reforço do Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas, um programa de emergência alimentar, que distribui cabazes alimentares a pessoas em situação de vulnerabilidade económica. O Governo está a avaliar a possibilidade de transformar este apoio na distribuição de cartões recarregáveis para utilizar nos supermercados, para reduzir o estigma sobre as pessoas que necessitam desta ajuda.

Devido à pandemia, o programa foi reforçado, duplicando a sua abrangência de 60 mil pessoas para 120 mil pessoas. Em dezembro, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, anunciou ainda um reforço das cantinas sociais, mas sem concretizar, referindo, no entanto, uma atenção especial à região do Algarve, uma onde este apoio se tornou mais necessário, por ter sido particularmente afetada pelo encerramento do setor hoteleiro e restauração pela ausência de turismo.

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Honda Crosstar híbrido, mas sem cabos

Importado do CR-V, o sistema i-MMD da Honda é algo complexo, mas inteligente. E garante consumos bem comedidos num automóvel compacto, com toques de monovolume, mas que pisca o olho aos SUV.

Há muito que a Honda junta motores a combustão com um outro, elétrico. Mas agora, fazê-lo está na moda, por isso massificam-se os modelos que recorrem a estes sistemas híbridos, amigos do ambiente e da carteira de que os compra. É por isso que a oferta da marca japonesa está a aumentar, chegando aos modelos mais compactos. É o caso do Jazz ou, neste caso, do Honda Crosstar.

A Honda trouxe para o Crosstar uma evolução do sistema i-MMD que tinha sido introduzido no CR-V Hybrid. Este sistema traduz-se num bloco de 1.5 litros a gasolina que tem acoplado um motor elétrico que, juntos, dotam este modelo de uma potência de 109 cv.

Mas como se não bastasse um motor elétrico, há ainda outro a funcionar debaixo do capot que faz a ligação entre os outros dois: é este outro motor que graças a energia do motor a combustão vai alimentar o elétrico, dispensando-se assim a existência de cabos para carregamento das baterias. Há sempre energia, sendo esta armazenadas em baterias que roubam algum espaço a bagageira.

Condução sem esforço

O sistema da Honda é algo complexo, mas inteligente. E prático, já que se dispensa aquelas horas com o carro ligado a um qualquer posto de carregamento — isto quando há um carregador livre, o que é raro. E permite-nos desfrutar das várias formas de propulsão com apenas um automóvel: elétrico, híbrido e a combustão, mediante o que se pretende ou o andamento o exige.

Em modo EV, temos um elétrico que nos permite sair da garagem sem fazer qualquer barulho, mas também dar as pequenas voltas do dia-a-dia sem consumir uma gota de gasolina. Contudo, acaba por ser o sistema híbrido aquele que mais vezes vamos sentir ao volante do Crosstar. Quando precisamos de mais potência, então temos os 1.5 em todo o seu “esplendor”.

O motor a combustão não é, contudo, particularmente silencioso, nem espere grandes velocidades — a velocidade máxima é de apenas 173 km/h. Mas é desenrascado quanto baste, permitindo uma condução sem esforço, seja do pé no acelerador, seja da carteira. Os consumos deste híbrido são bastante comedidos, facilmente apresentando-se valores em torno dos 4 litros/100 km no pequeno ecrã colocado por detrás do volante.

Design simples com aspirações de SUV

Tudo isto é feito com grande conforto num modelo pensado em ser prático, mas que tenta piscar o olho àqueles que gostam de um automóvel mais virado para a aventura. O interior é de design simples, com materiais nem sempre de tato agradável. Sentados em bancos que oferecem o devido conforto, o que salta à vista são os ecrãs, o primeiro, atrás do volante, de 7 polegadas, mas depois o que oferece as funções de infoentretenimento, colocando no centro do tabliê, com 9 polegadas.

Espaço não falta, seja à frente, seja para quem vai atrás, tanto para os ombros como para as cabeças dos mais altos, o que é resultado das dimensões generosas deste modelo compacto nipónico. Mais inchado que o seu antecessor, o Crosstar dá ares de monovolume em ponto pequeno, mas na versão Crosstar ganha alguns elementos que parecem querer posicionar o Honda no concorrido mercado dos SUV – destaque para os adornos estilísticos dos para-choques e embaladeiras, bem como as jantes de 16 polegadas de dois tons. Uma tarefa complicada à luz da forte concorrência, mas também do preço deste Hybrid… que começa nos 33 mil euros.

 

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Estes sete números mostram impacto da Covid-19 na economia

  • Lusa
  • 20 Março 2021

Da evolução do PIB à adesão ao lay-off simplificado, passando pela trajetória do desemprego, estes números mostram como a crise pandémica afetou a economia nacional.

O primeiro ano da pandemia de Covid-19 ficou marcado pela maior quebra de que há registo da economia nacional, levando o turismo a quase paralisar durante dois meses e ao lay-off de parte significativa da população.

Os dois primeiros casos de pessoas infetadas em Portugal com o novo coronavírus foram anunciados em 02 de março de 2020, enquanto a primeira morte foi comunicada ao país em 16 de março.

No dia 19, entrou em vigor o primeiro período de estado de emergência, que previa o confinamento obrigatório, restrições à circulação em Portugal continental e suspensão de atividade em diversas áreas.

A suspensão ou restrição de atividade em variados setores, como restauração, comércio, turismo e cultura, entre outros, elevou o número de falências em Portugal, agravou situações de precariedade e provocou o aumento do desemprego.

Eis alguns números acerca do impacto económico da pandemia de Covid-19 em Portugal:

  • Produto Interno Bruto

O segundo trimestre de 2020 observou a maior quebra do Produto Interno Bruto (PIB) desde que há registo em Portugal, devido à paralisação quase total da atividade económica durante a vigência do primeiro estado de emergência, entre 19 de março e 02 de maio, e às limitações impostas à maioria dos setores da sociedade.

Entre 01 de abril e 30 de junho de 2020, a economia portuguesa contraiu 16,3% face ao registado no mesmo período de 2019, e relativamente ao primeiro trimestre, o último sem pandemia de covid-19, a quebra do PIB foi de 13,9%, de acordo com números do Instituto Nacional de Estatística (INE).

No conjunto do ano, o PIB caiu 7,6% em 2020, registando a contração “mais intensa” da atual série de Contas Nacionais do INE, “refletindo o efeito negativo extraordinário da pandemia covid-19 na atividade económica”.

De acordo com o INE, “a procura interna foi particularmente afetada” em 2020, registando uma redução de 4,7% em termos reais (após ter aumentado 2,8% no ano anterior), passando de um contributo para a variação anual do PIB de +2,8 pontos percentuais em 2019 para -4,6 pontos percentuais em 2020”.

Também a procura externa líquida acentuou o contributo negativo em 2020 (-3,0 pontos percentuais, contra -0,3 pontos percentuais em 2019), “refletindo sobretudo a diminuição sem precedente das exportações de turismo”.

  • Atividade turística

De acordo com dados preliminares do INE, “os estabelecimentos de alojamento turístico registaram 10,5 milhões de hóspedes e 26,0 milhões de dormidas, -61,3% e -63,0%, respetivamente”, face a 2019, ano em que tinham registado subidas respetivas de 7,9% e 4,6%. As dormidas de residentes corresponderam a 13,6 milhões, o número mais baixo desde 2013, e 12,3 milhões de não residentes, o valor mais baixo desde 1984.

Em abril de 2020, segundo o INE, registou-se uma “expressão praticamente nula” da atividade turística, com variações homólogas de -97,4% e -97,0% em termos do número de hóspedes e dormidas. Registo similar ocorreu em maio, mês em que foram albergados 149,8 mil hóspedes e registadas 307,0 mil dormidas, variações de -94,2% e -95,3% face ao mesmo mês de 2019. Após uma recuperação a partir de junho, voltou a registar-se uma tendência inversa a partir de setembro até dezembro, mês em que se registou uma ligeira recuperação.

Em janeiro, segundo o INE, a contração acentuou-se, com os proveitos a registarem quebras superiores a 80% face ao mesmo mês de 2019.

  • Desemprego

A taxa de desemprego subiu de 6,5% em 2019 para 6,8% em 2020, de acordo com os números divulgados pelo INE.

A taxa de subutilização do trabalho para o conjunto do ano de 2020 – indicador que agrega a população desempregada, o subemprego de trabalhadores a tempo parcial, os inativos à procura de emprego, mas não disponíveis e os inativos disponíveis, mas que não procuram emprego – foi estimada em 13,9%, ou seja, 1,2 pontos percentuais acima da do ano anterior.

A população empregada, por sua vez, foi estimada em 4.814,1 mil pessoas, o que representa a redução de 99 mil empregos em relação ao ano anterior. Já a população desempregada, 350,9 mil pessoas, aumentou 3,4% (11,4 mil) em relação àquele período.

A taxa de desemprego de jovens (15 a 24 anos) no conjunto do ano situou-se em 22,6%, 4,3 pontos percentuais acima do estimado para o ano anterior. O INE também informou que “a evolução do emprego ocorreu num contexto em que foi instituído o regime simplificado de lay-off, limitando o impacto no número de trabalhadores desempregados provocado pelo encerramento de empresas, total ou parcialmente, de forma temporária”.

  • Lay-off

De acordo com um documento do Governo entregue aos parceiros sociais na reunião da Comissão Permanente de Concertação Social (CPCS) de 17 de fevereiro, o lay-off simplificado de 2020 abrangeu 897 mil trabalhadores e 110 mil empresas.

Na mesma ocasião, foi conhecido que a Segurança Social recebeu 261 mil pedidos de apoios sociais extraordinários em janeiro e fevereiro, período durante o qual foram pedidos apoios ao emprego que abrangeram 431 mil trabalhadores e 83 mil empresas.

Segundo disse a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, em 10 de março estavam a ser atribuídos apoios a 74.000 empresas com o objetivo de assegurar a manutenção do emprego, tanto através do lay-off simplificado como do apoio à retoma da atividade.

Quanto ao lay-off tradicional, previsto no Código do Trabalho, em janeiro, o número de empresas abrangidas era de 249, correspondendo a 4.758 trabalhadores, segundo estatísticas da Segurança Social. Comparando com janeiro de 2020, ainda antes da pandemia, houve um acréscimo de 406,5% no total de processamentos de lay-off tradicional, ou seja, mais 3.818 prestações.

  • Falências e insolvências

De acordo com estatísticas da Direção-Geral da Política de Justiça (DGPJ) sobre insolvências, os processos especiais de revitalização e os processos especiais para acordo de pagamento diminuíram em 2020.

No segundo trimestre de 2020, em que o primeiro confinamento se fez sentir de forma mais acentuada, os processos entrados de falência, insolvência e recuperação de empresas (2.072 no total) baixaram 36% face ao mesmo período de 2019, e as insolvências (1.722) diminuíram 34,7%.

Quanto ao terceiro trimestre de 2020, último período sobre o qual estão disponíveis dados, comparativamente com o período homólogo de 2019 os processos entrados foram de 2.456, menos 9,2%, e as insolvências decretadas foram 2.042, menos 12% face à mesma altura de 2019.

Várias associações patronais dos setores mais afetados, como o turismo, hotelaria, restauração, comércio e mesmo instituições como o Conselho das Finanças Públicas ou a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários alertaram para a possibilidade do aumento de falências durante e após a pandemia.

  • Vendas no comércio a retalho

O índice de volume de negócios no comércio a retalho, publicado pelo INE, diminuiu 4,3% no conjunto do ano de 2020, o que compara com o crescimento de 4,3% verificado em 2019. Em termos mensais, a maior quebra verificou-se em abril do ano passado, com uma descida de 21,6%, seguindo-se maio (-13,1%) e janeiro de 2021 (-10,9%).

  • Beneficiários de rendimento social de inserção

Em dezembro de 2020, existiam em Portugal 98.899 famílias e 211.540 beneficiários com processamento de rendimento social de inserção (RSI), de acordo com os números do Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

No mesmo mês de 2019, havia 94.627 famílias e 203.273 beneficiários com processamento de RSI. Em dezembro do ano passado, 68.411 dos beneficiários tinham menos de 18 anos, número que diminuiu para 65.792 no mesmo mês de 2020.

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Partidos preocupados, mas divergem na “receita” contra pobreza

  • Lusa e ECO
  • 20 Março 2021

Os partidos receiam que os problemas possam vir a agravar-se e estão preocupados com a pobreza causa pela crise pandémica, mas não se entendem na "receita" a adotar.

Os partidos políticos estão preocupados, não se entendem na “receita” contra a crise e a pobreza causada pela pandemia de Covid-19 e voltam a concordar que os problemas podem vir a agravar-se nos próximos meses.

À esquerda e à direita, a oposição parlamentar tem um olhar crítico sobre o que o Governo de António Costa está a fazer, ou fez no último ano, para combater a crise e a pobreza, ataca os atrasos com que os apoios chegaram às famílias e às empresas. O PS, partido do poder, é o único a olhar para a resposta como um “copo meio cheio”.

Todos reconhecem, embora com um tom de discurso diferente, que o problema das desigualdades sociais existia antes da pandemia, há um ano, agravou-se com ela, e recordam as estatísticas, de 2019, com 17,2% da população abaixo do limiar de pobreza em Portugal. Cada um tem a sua “receita” para fazer face à crise social e económica causada pela pandemia de covid-19, que paralisou parcialmente o país no último ano.

José Soeiro, do Bloco de Esquerda (BE), admite que “tem havido medidas sociais de emergência”, mas que “são claramente insuficientes”. “A grande tragédia é nos trabalhadores informais, precários de recibos verdes que não têm acesso a subsídios de desemprego e que foram empurrados para apoios que têm valores muito baixos. São os sócios-gerentes ou pequenos empresários, ‘emprecários’, empresas-pessoa” e sem “acesso aos mecanismos de proteção social”, disse.

Medidas que se impõem no combate à pobreza, a par da política económica, no imediato, são três, defendeu. A “prorrogação de todos os subsídios de desemprego e subsídios sociais de desemprego até o final do ano”, porque “não faz sentido haver desempregados que a meio de uma crise” fiquem sem esse apoio, e, em segundo, um aumento do Complemento Solidário para os Idosos (CSI), do Rendimento Social de Inserção, do subsídio social de desemprego, do subsídio de apoio aos cuidadores para mínimo do valor do “limiar da pobreza”, atualmente 502 euros.

Em terceiro lugar, criar um “rendimento social de cidadania que permitisse cobrir todos aqueles setores que hoje não cabem no subsídio de desemprego” para “abranger todos aqueles que hoje ficam de fora, seja por não terem essa relação mais formalizada com emprego, seja por não caberem nas medidas do tipo RSI”.

Ainda à esquerda, Duarte Alves, deputado do PCP, admitiu que as medidas são insuficientes e sublinhou “particular importância” a valorização dos salários em particular o salário mínimo nacional, mas também em todos os níveis salariais e o próprio acesso ao emprego”, no combate à pobreza. Além de ser preciso “ir mais longe”, realçou algumas “medidas importantes” do Orçamento do Estado de 2021, que tiveram o apoio do PCP, e é preciso garantir, “desde logo o prolongamento do subsídio de desemprego por mais seis meses” ou “ainda nova prestação social para as pessoas que não têm acesso a qualquer outro tipo de apoios”.

Alinhado neste argumento, José Luís Ferreira, deputado do Partido Ecologista “Os Verdes”, também sublinhou a necessidade de valorizar os salários para travar os riscos de pobreza, e de “mexer no Apoiar.pt” para que o programa “chegue a tempo às micro, pequenas e médias empresas” para “poderem sobreviver”. “Se encerrarem são postos de trabalho que se perdem”, disse, e os apoios “precisam de continuar além deste período pandémico” porque senão estas micro, pequenas e médias empresas (MPME) “não sobrevivem”.

O PS, partido do Governo, faz um discurso diferente e mais pela positiva. Ana Catarina Mendes, líder parlamentar socialista, elogia o executivo que “não deixou de dar resposta a todas as solicitações que lhe foram pedidas” desde o início da crise. “Entre moratórias e empréstimos ou dinheiro a fundo perdido, estamos a falar num montante de 29 mil milhões de euros a que se somam os sete mil milhões” anunciados há uma semana, argumentou.

Além do alargamento do subsídio de desemprego, citou ainda outras decisões para “estancar a perda de rendimentos”, como a “medida mais emblemática”, o “lay-off simplificado, primeiro a 66% e depois a 100%, de forma a que não fossem perdidos empregos”. E o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), sintetizou, “é um instrumento que dará os meios necessários” para se “combater algumas destas debilidades, desde logo a pobreza e a exclusão social”, mas também o desafio das qualificações, em tempos de transição digital e climática.

Inês de Sousa Real, líder parlamentar do PAN, afirmou que a crise sanitária, “a que sucedeu uma crise socioeconómica sem precedentes, veio pôr a nu” as “desigualdades sociais que têm persistido” e “não têm sido combatidas de forma mais eficaz”. E sugeriu que se aproveite este momento e o PRR, para “redesenhar” a aposta “noutros modelos de produção em Portugal” e na “chamada economia verde” ou valorizar “uma indústria mais sustentável e mais renovável e não tão devastadora dos recursos”.

À direita, as críticas são idênticas, mas a ênfase é diferente.

Pelo PSD, o economista Jorge Bravo, do Conselho Estratégico Nacional (CEN), apontou os atrasos na chegada dos apoios e sublinhou que a crise “criou um novo grupo muito numeroso de potenciais pobres ou pessoas com carências imediatas, carências na pobreza alimentar até às carências de rendimento para as despesas mais correntes”.

E apresentou duas ideias de resposta a esta situação, como a reativação da rede solidária de cantinas sociais, “implementado durante o período da troika” e ainda a utilização do fundo do socorro social, para auxiliar “situações de emergência, contingência ou calamidade” e “dar uma resposta mais imediata às atividades de cariz social em articulação com as instituições privadas de solidariedade social.

Pelo CDS-PP, que, através de João Almeida, criticou os atrasos nas ajudas mais imediatas nos últimos meses e apontou o dedo às opções do PRR, que privilegia o investimento público e menos. “Ao não apoiar as empresas, a reconversão profissional dos recursos humanos” correm-se “sérios riscos de ficar para trás” e “um país que não tem uma economia forte também não tem condições para depois ter uma resposta social suficientemente musculada” na resposta a problemas sociais, argumentou.

A Iniciativa Liberal (IL) é muito crítico com as medidas tomadas até ao momento e o deputado João Cotrim Figueiredo afirmou que “não vão à raiz do problema” porque “há décadas” não tem “um modelo de organização que permita crescer o suficiente para acabar com essas bolsas de pobreza”. Esses problemas, afirmou, “só podem ser atacados se houver uma economia dinâmica e se houver emprego de qualidade”, pelo que o PRR teria de ser virado “muito mais para a capitalização das empresas porque são elas que podem criar bom emprego para todos aqueles que estão necessitados de rendimento”.

Novo imposto contra pobreza não, taxa Tobin talvez, mas só à esquerda

O financiamento da resposta à pobreza divide esquerda e direita, com um menu de receitas que incluem um novo imposto, o debate da Taxa Tobin ou ainda deixar a economia funcionar e repensar a carga fiscal.

Do Bloco de Esquerda (BE) à Iniciativa Liberal (IL), os partidos, ouvidos pela Lusa, têm soluções muito diferentes para financiar o que é preciso para responder à crise e aos problemas da pobreza, que todos admitem poder virem a agravar-se.

À direita, rejeitam-se novos impostos, sejam solidários, temporários ou até a reedição do debate sobre a taxa Tobin, sobre transações financeiras especulativas.

Pela IL, João Cotrim Figueiredo afirmou que a criação de um novo imposto temporário ou solidário, para “financiar algo” é “uma visão de curto prazo” por limitar “a capacidade de investimento e de crescimento, que é mais necessária” ao país. “Temos, de uma vez por todas, perceber que o estímulo dado à capacidade de investimento das pessoas e das empresas através do sistema fiscal tem que estar orientado para o crescimento e a capacidade de correr riscos”, que devem ser “incentivados e não desvalorizados”, acrescentou.

No CDS-PP, o deputado João Almeida também é contra novos impostos ou da taxa Tobin. “Nem um nem outro. Entendemos que a sustentabilidade destas propostas sociais que fazemos virá não de uma maximização do Orçamento de Estado, mas de um crescimento maior da economia”, disse.

O economista Jorge Bravo, do Conselho Estratégico Nacional (CEN) do PSD, não concorda com mais impostos ou taxas, mas admite que a solução seja mexer na “política fiscal”. A “solução mais adequada é a fiscalidade geral”, olhar para a “matriz de impostos” que já hoje existem e, “eventualmente, atualizando temporariamente alguns impostos para fazer face algumas necessidades imediatas”, afirmou. “Será a retoma da atividade económica que será capaz de criar riqueza” para “reequilibrar os orçamentos do Estado e financiar aquilo que é o acumular de dívida e também, no fundo, estes programas de programas sociais”, disse.

À esquerda, o PS recusa a “receita” da anterior crise, com “cortes de rendimentos, aumento de impostos, desemprego e convites à emigração”, e diz ser “um absurdo” criar um novo imposto “com um nome muito bonito”, solidário, quando “cerca de 46% dos portugueses não têm salário que permita pagar impostos”. Ana Catarina Mendes, líder parlamentar socialista, afirmou que “um dos caminhos” é a valorização dos salários e “a revisão dos escalões do IRS” e retomar o debate da taxa sobre as transações bancárias, a taxa Tobin, e pelo “combate à fraude e evasão fiscal”, cujas receitas sejam “fonte de financiamento para os PRR de hoje, mas sobretudo para uma sustentabilidade financeira da União Europeia nos próximos anos”.

Pelo BE, José Soeiro, deputado, afirmou que “uma coisa é taxar o capital, as transações financeiras ou os lucros”, mas “outra coisa é um novo imposto sobre os rendimentos do trabalho que é completamente descabido e aumentaria as desigualdades”.

Voltar a discutir a taxa Tobin sim, mas o deputado do PCP Duarte Alves recusa um novo imposto, apelidado imposto sobre a “burguesia do teletrabalho”, porque se trata de taxar trabalhadores que também sofrem com a crise, e aponta alternativas.

A criação de uma contribuição extraordinária sobre as grandes seguradoras, “setor que saiu beneficiado com a pandemia”, tributar “os grandes grupos económicos” que “hoje estão isentos ou têm uma taxa de esforço fiscal muito inferior à da generalidade dos trabalhadores e das pequenas empresas”.

Os Verdes alinham na mesma linha de argumentação a favor da taxa Tobin, contra a ideia de “por remediados a resolver os problemas da pobreza” com um novo imposto e o deputado José Luís Ferreira deixou a alternativa de “quem acumulou à custa da pandemia é que deve ser chamado a pagar a crise.” O que é preciso, afirmou, é “impedir que as empresas que produzem os lucros em Portugal coloquem os lucros na Holanda ou noutro sítio qualquer onde vai não pagar impostos”.

Pelo partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), a líder parlamentar, Inês Sousa Real, disse que os problemas “não se resolvem com mais austeridade” e insistiu numa “revisão nos escalões de IRS” para “uma maior justiça fiscal sobre as famílias e também o mundo empresarial”. Sem se excluir do debate sobre uma taxa sobre as transações bancárias, a deputada do PAN alertou que devem ser repensados os “apoios fiscais à indústria do petróleo”, de mais 500 milhões de euros dos contribuintes, que podiam ter sido utilizados em políticas sociais.

Partidos temem “explosão social” e insistem em medidas para a evitar

Os partidos temem que se agrave a situação social do país até final do ano, com o fim das moratórias dos bancos ou um aumento de insolvências, mas admitem que o pior ainda poderá ser evitado.

O grau de preocupação com o agravamento da situação até final do ano, a ponto de causar uma “explosão social”, é diferente conforme os partidos, à esquerda e à direita, mas todos colocam o cenário de um outono ou inverno com mais problemas. Os mais otimistas são o PS, partido do Governo, e o CDS-PP, embora com argumentos diferentes.

O facto de Portugal ter passado por uma outra crise recentemente, afirmou João Almeida, deputado do CDS, “permite maior eficácia neste momento, não agravando tanto a situação social, pelo menos num primeiro momento”, com a ajuda da União Europeia. “Do ponto de vista europeu, há uma disponibilidade de fundos para que se consiga responder, evitando essa explosão social, que seria uma possibilidade neste contexto se não houvesse esse enquadramento”, acrescentou.

Pelo PSD, o economista Jorge Bravo, do Conselho Estratégico Nacional (CEN), disse que “há preocupações sérias sobre o que pode acontecer com o fim das medidas de apoio temporárias”, como as moratórias dos bancos, ou o lay-off, no final do ano, se forem cortadas de “forma abrupta”. E, por isso, aconselha ao Banco de Portugal e Banco Central Europeu um “mecanismo de desligamento suave destas medidas”, pela dificuldade de pessoas e empresas retomarem os seus compromissos bancários de um momento para o outro.

Ana Catarina Mendes, líder parlamentar do PS, prefere um “olhar positivo”, defendendo o “Estado social ao serviço das pessoas” na “procura de respostas” se as moratórias bancárias acabarem ou se “houver um aumento significativo de insolvências”.

Pelo PCP, o deputado Duarte Alves é comedido, admitiu um agravamento da situação “se não forem tomadas medidas”, mas espera que o sejam, com “reforço da proteção social dos trabalhadores, dos salários, do emprego e com mais investimento” público, “porque impulsiona o investimento privado”.

José Luís Ferreira, dos Verdes, afirmou que este é “um problema sério e o risco evidente” de uma “explosão social”, para o qual são necessárias “respostas imediatas”, estendendo as moratórias, impedir os despedimentos em empresas que receberam apoios do Estado.

Pouco descansado está o BE e o deputado José Soeiro confessou que “o que está colocado em cima da mesa” não “permite ficar descansado a achar que essa resposta vai existir” para evitar o agravamento do cenário de problemas. “Mas também estamos no início dessa discussão. Portanto, depende um pouco da evolução quer da pandemia quer das políticas públicas”, disse.

Também João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal (IL), reconhece o risco de agravamento dos problemas sociais no país, “especialmente se o sistema financeiro não tiver a capacidade de programar a tempo a forma como gere as moratórias”.

Do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), a líder parlamentar, Inês de Sousa Real, responde com “evidentemente que sim” sobre um cenário mais drástico a nível social, e advertiu que depois da “anestesia” das moratórias e da paragem da economia pessoas e empresas terão dificuldades em pagar. “Podemos estar aqui perante um escalar de uma situação que se torne ingovernável”, disse, insistindo numa “reflexão em torno do ordenado mínimo médio nacional e também de outros mecanismos que possam ajudar” as pessoas a terem “rendimentos básicos condignos”.

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Vistos gold: Investimento chinês recua 28% para 158,8 milhões

  • Lusa e ECO
  • 20 Março 2021

Em ano de pandemia, o investimento chinês captado por via dos vistos gold diminuiu 28%, totalizando 158 milhões de euros. Os dados são do SEF.

O investimento chinês captado por via dos vistos gold caiu 28% no ano passado, face a 2019, para 158 milhões de euros, de acordo com dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).

No âmbito do programa de Autorização de Residência para Investimento (ARI), foram concedidos no ano passado 296 vistos a cidadãos oriundos da China, totalizando 158 milhões de euros, em plena pandemia de Covid-19, o que representa uma quebra homóloga de 28%.

O montante investido pela China em 2020 é praticamente o mesmo valor investido pelo Brasil um ano antes. Em 2019, tinham sido concedidos 395 ARI à China, num investimento superior a 220 milhões de euros.

No segundo lugar do ‘top 5’ por origem do investimento está o Brasil, que investiu 83,9 milhões de euros (126 ARI) em 2020, uma queda de 47% face aos 158 milhões de euros (210) um ano antes. Em terceiro lugar estão os Estados Unidos, cujo investimento aumentou 13% no ano passado, face a 2019, para 49,3 milhões de euros, com 75 vistos gold concedidos, em pleno período da pandemia. O investimento norte-americano em 2019 tinha ascendido a 43,5 milhões de euros e um total de 65 ARI.

Comparativamente a 2019, o investimento turco ao abrigo deste instrumento caiu 19%, para 34 milhões de euros. No total, foram concedidos 72 ARI em 2020 (em 2019 investimento foi de 44,9 milhões de euros, tendo sido atribuídos 85 vistos gold).

A África do Sul, com um investimento de 36 milhões de euros no passado, num total de 74 ARI, completa a lista dos cinco países que mais investiram em 2020, através dos vistos gold. Em 2019, a Rússia integrava a lista, com um investimento de 35 milhões de euros, num total de 53 ARI.

O investimento captado através dos vistos gold subiu 13% em fevereiro, face a igual mês de 2020, para 52,3 milhões de euros, de acordo com contas feitas pela Lusa com base nas estatísticas do SEF.

O programa de concessão de ARI, lançado em outubro de 2012, registou até fevereiro deste ano – em termos acumulados – um investimento de 5.724.426.273,03 euros. Desde montante, a maior parte corresponde à compra de bens imóveis, que ao fim de oito anos de programa soma 5.177.461.049,15 euros, sendo que a compra para reabilitação urbana totaliza 288.856.120,15 euros. O investimento captado por via do critério de transferência de capitais ascende a 546.965.223,88 euros.

Investimento chinês totaliza mais de 2.700 ME em mais de oito anos

O investimento chinês captado através dos vistos gold somava em mais oito anos de programa, até final de fevereiro, mais de 2.700 milhões de euros, de acordo com dados do SEF.

Entre outubro de 2012, altura em que teve início o programa de Autorização de Residência para Investimento (ARI), foram captados 2.751.341.633,59 euros, com um total de 4.837 vistos gold atribuídos.

Em segundo lugar está o Brasil, com um investimento de mais de 785 milhões de euros e 1.001 vistos “dourados” atribuídos até ao mês passado. A Turquia ocupa o terceiro lugar por nacionalidade do investimento, com um total de 456 vistos atribuídos em todo o programa. No total, a ARI de origem turca totaliza 239,9 milhões de euros.

África do Sul e Rússia ocupam, respetivamente, o quarto e quinto lugares, no ‘top 5’ por nacionalidades. Em mais de oito anos, foram atribuídos 397 autorizações de residência para investimento a cidadãos sul-africanos, num total de 233,1 milhões de euros. A Rússia captou 366 vistos gold, num montante total de 244,1 milhões de euros.

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Compras de Portugal ao Reino Unido caíram 86% depois do Brexit

Os dados mostram uma queda abrupta das trocas comerciais entre o Reino Unido e a União Europeia no primeiro mês em que se aplicou a nova relação comercial. Em Portugal esse impacto foi ainda maior.

De um mês para o outro, o Reino Unido saiu do mercado único europeu e da união aduaneira, deixando de beneficiar do livre comércio de bens que beneficiava quando estava na União Europeia. Apesar de se ter evitado tarifas e quotas, há novas barreiras comerciais que estão a condicionar as trocas comerciais entre o Reino Unido e os países europeus, incluindo Portugal. Os dados de janeiro, o primeiro mês com as novas regras, começam a mostrar esse impacto.

Os número dos comércio internacional de bens de Portugal em janeiro mostram, sem dúvida, uma quebra acentuada da relação comercial com o Reino Unido, mais nas importações do que nas exportações. A compra de bens britânicos caiu 86% em termos homólogos ao passo que a venda de bens portugueses ao Reino Unido caiu 13,5%. Ambas as variações ficam acima dos valores registados no total das exportações (-9,8%) e importações (-17,2%) em janeiro de 2021, face a janeiro de 2020.

Esta foi a maior queda mensal das importações com origem do Reino Unido desde que o Instituto Nacional de Estatística (INE) tem registos e, na prática, significa que Portugal comprou menos 161 milhões de euros de bens britânicos face ao mesmo mês do ano passado (período ainda anterior à pandemia). No caso das exportações nacionais a queda foi de 40 milhões de euros.

Focando nas importações, todo o tipo de bens sofreu uma quebra, sem exceções, mas há algumas categorias com maior peso como é o caso dos produtos minerais, os químicos, o material de transporte (carros, por exemplo) e máquinas e aparelhos. Nestas quatro principais categorias de bens que Portugal comprava ao Reino Unido, a quebra foi superior a 80%.

Esta queda sem precedentes ocorreu de forma semelhante nos restantes países europeus. O Eurostat já divulgou os dados do comércio internacional de bens relativo a janeiro de 2021 e estes mostram uma redução das importações da UE com origem no Reino Unido de 59,5%, abaixo da registada em Portugal, passando de 15,8 mil milhões de euros em janeiro de 2020 para 6,4 mil milhões de euros em janeiro de 2021. As exportações europeias para o Reino Unido desceram 27,4%.

Também é possível ver os números pela perspetiva do Reino Unido. De acordo com o gabinete de estatísticas britânico, as exportações do Reino Unido para a União Europeia (que na ótica do Eurostat são as importações com origem no Reino Unido) caíram 40,7% em janeiro, a maior queda mensal de que há registo. As importações do Reino Unido (exportações da UE para território britânico) encolheram 28,8%. Em média, a queda foi metade da registada para Portugal.

Janeiro de 2021 marca um ponto de viragem com o fim do período de transição do Brexit e a entrada em vigor, após um acordo de última hora, de uma nova relação comercial entre o Reino Unido e a União Europeia. O país liderado por Boris Johnson deixou de fazer parte do mercado único e da união aduaneira e, apesar de não ter sido alvo de tarifas ou quotas, os bens britânicos (e os bens europeus quando vão para o Reino Unido) passaram a ter novas barreiras burocráticas e de controlo, o que levou a um aumento dos custos para empresas e autoridades nacionais e europeias.

Mas este não é o único fator a ter em conta na interpretação destes dados. Desde logo, há impactos estatísticos da saída com o gabinete de estatísticas britânico a explicar que mudou a fonte de informação. E, também por isso, diz que para se entender os impactos da saída da União Europeia não se pode analisar apenas os “movimentos dos dados do comércio de apenas um mês”, sendo necessário fazer uma “análise ao longo de período de tempo mais longo”.

Além disso, tanto Portugal como o Reino Unido começaram um confinamento severo em janeiro, o que terá influenciado as trocas comerciais entre os dois países. Acresce que não é de excluir o adiamento por parte das empresas de compras ao Reino Unido por dificuldades burocráticas ou processuais num momento inicial em que as regras mudam, com esse efeito a atenuar-se nos próximos meses.

Esse receio terá também levado muitas empresas a antecipar encomendas em dezembro, acumulando stocks para evitar possíveis problemas de abastecimento nos primeiros dias de aplicação do novo acordo comercial. Outro fator a ter em conta é o controlo efetuado no Canal da Mancha no final de dezembro por causa da nova variante britânica, o que também criou disrupções no comércio entre o Reino Unido e a UE com filas enormes de espera.

Do lado do Reino Unido, como relata este artigo do The Guardian, as empresas continuam a queixar-se da confusão e dos atrasos com o Governo britânico a falhar no recrutamento de 30 mil despachantes aduaneiros necessários para esta nova realidade. O ministro responsável pela relação com a UE, Lord Frost, explicou que houve uma “combinação única de fatores” que levou “inevitavelmente a números invulgares em janeiro”, mas garantiu que esse efeito irá começar a dissipar-se. A expectativa é que estas disrupções continuem pelo menos até ao verão.

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