OutSystems já recruta com “contrato remoto” e não quer desperdiçar talento
Tecnológica está a recrutar colaboradores com contrato de trabalho remoto: novidade está alinhada com política de recursos humanos e beneficia a atração de talento, independentemente da localização.
A OutSystems começou a contratar colaboradores para Portugal através de contratos remotos. A alternativa, que já conta com nove contratos com trabalhadores a nível nacional, segue um caminho que tem vindo a ser feito pela tecnológica para que a localização geográfica não determine o acesso e a contratação de talento, que foi acelerado durante a pandemia.
“Já tinha surgido, no passado, uma necessidade clara de não nos cingirmos aos sítios onde tínhamos escritórios porque sentíamos, mesmo antes da pandemia, que centros onde temos escritório — Braga, Lisboa e Proença-a-Nova — estavam completamente exaustos em termos de talento. Já não havia muito por onde explorar”, começa por contar Eduardo Andrade, People Success Manager da OutSystems.
Na tecnológica, que conta com 80% da força de trabalho da área da engenharia, a pandemia acelerou, entre outras coisas, as necessidades de contratar talento. A trabalhar remotamente desde a primeira vaga de coronavírus em Portugal, o unicórnio está a repensar as dinâmicas de trabalho e ponderar o regresso ao escritório em moldes diferentes do período pré-pandemia.
“Chegámos a um momento em que, em meados do ano passado, começámos a perceber que havia uma série de talento, no Algarve, no Porto, que começava a aparecer em pipeline. E sentimos que havia uma decisão a tomar, sobretudo no sentido de saber que estas pessoas não queriam nem iriam ficar anexadas a um escritório (…) Os contratos remote são só a efetivação de um conjunto de ideias e de abordagens a talento que já vinham a ser trabalhadas”, justifica Eduardo.
Em termos práticos, a grande diferença entre os contratos que implicam uma alocação a um escritório e os remotos é que os primeiros, mesmo trabalhando em equipas que permitem funcionar de modo remoto, cabe ao trabalhador assegurar os custos inerentes às deslocações à empresa sempre que necessário. “Quando tens o contrato remote, muda um bocadinho: existe, à partida, a flexibilidade para trabalhares de onde quiseres, genuinamente. Não tens de ir ao escritório e, se tiveres de ir, ou a outro sítio, para um team building, um brainstorming, etc., os custos são suportados pela empresa”, detalha Eduardo, em conversa com a Pessoas.
Decidimos começar a contratar pessoas remote mas, para já, não alterar os contratos existentes todos para remote, pelo menos até a pandemia estabilizar.
Ao mesmo tempo que as pessoas na OutSystems percebiam que “não precisavam de ir ao escritório”, outras houve a entrar na equipa que também tinham a mesma vontade. “Decidimos começar a contratar pessoas remote mas, para já, não alterar os contratos existentes, pelo menos até a pandemia estabilizar. Porquê? Porque a alteração legal total obriga ao tratamento de um volume grande de contratos, seguros de saúde, e até em termos de benefícios são precisas alterações. Decidimos contratar, sempre que existirem casos, para não perder talento por causa do sítio onde as pessoas estão, mas vamos manter para já as pessoas que estão na OutSystems com um contrato vinculado a um local de trabalho, até que seja tomada uma decisão da empresa sobre a abordagem a seguir”, diz o People Sucess Manager da OutSystems.
Gestão e flexibilidade
Uma das expressões que, segundo Eduardo, descreve os últimos meses, foi dita pelo próprio Paulo Rosado, CEO da OutSystems. “What works for you, works for OutSystems”, cita o responsável, afirmando que a frase detalha a flexibilidade global que foi sendo trabalhada, ao longo dos meses, até se tornar um hábito. “Começámos a perceber que a coisa funciona de modo remoto, as equipas até aumentaram algumas coisas muito importantes como o sentido de pertença, o próprio compromisso com a empresa e a identificação com a cultura. A frase do Paulo ficou porque a flexibilidade era global, as pessoas tinham completa flexibilidade — sobretudo com a gestão doméstica coordenada com o trabalho a partir de casa — para fazerem o que quisessem”, detalha.
Durante o segundo confinamento, a OutSystems ofereceu a todos os trabalhadores com filhos até aos 12 anos, a possibilidade de tirarem oito horas por semana para lhes prestarem um acompanhamento mais próximo.
“Não fizemos nada para ir atrás de pessoas que estavam remotas, mas também não fizemos nada para descartar pessoas com talento que tivesse esta propensão para trabalhar a partir de outro sítio. Neste momento temos já algumas pessoas com contratos remote e tudo indica, ou é expectável, que este contexto se continue a adensar”, assinala.
Por ser uma tendência, a OutSystems tem olhado, com outros olhos, para as equipas “completamente distribuídas pelo mundo”. A empresa conta com equipas remotas em Espanha, Reino Unido, Índia e Estados Unidos, entre outras localizações, por isso “não fazia sentido deixar para trás” as questões ligadas à cultura de trabalho remoto. Para materializar essa realidade, a OutSystems preparou o “Guia para o novo normal”, com recomendações e partilha de uma visão de futuro. “Está a ser pensado um conceito de ‘polos’, espalhados pelos países onde estamos, e esses escritórios não terão mesas de trabalho, ou seja, vão ser todos transformados em salas de reunião e de brainstorming onde as equipas vão pontualmente para iniciarem algum projeto, tratar de planeamento, etc.. Depois voltam para suas casas para fazer o trabalho do dia-a-dia, mais operacional”, detalha Eduardo. Ainda assim, a equipa de gestão de pessoas enviou para as equipas uma diretriz que recomenda às equipas encontrarem-se com alguma cadência para “manterem o tal sense of belonging“. No entanto, assegura Eduardo, “a verdade é que quanto mais se estende a pandemia no tempo mais nós aprendemos a fazer nutrir esse sentimento de pertença remotamente”.
Diferentes localizações, o mesmo salário
Outra das novidades implementadas pela empresa durante os últimos meses foi a equalização das bandas salariais: os valores de salários são públicos na área tecnológica mas, até há um ano e meio, os trabalhadores da OutSystems em Portugal eram pagos de forma diferente, consoante a localização. “Tínhamos uma banda para Lisboa, uma para Braga e uma para Proença-a-Nova. A de Braga era 10% abaixo da de Lisboa, a de Proença-a-Nova era 25% abaixo da de Lisboa. Já em contexto pandémico, tomámos a decisão de haver uma única banda salarial para Portugal. Isto significa um passo em frente em direção a este contexto remoto”, sublinha.
Com a medida, explica Eduardo, a OutSystems “assume que há uma tábua rasa do ponto de vista de custo de vida”, ao mesmo tempo que dá às pessoas “a liberdade de escolherem, de acordo com o que querem gastar, o sítio a partir de onde querem trabalhar”. “Podem escolher um sítio mais barato para viver fora de uma metrópole, ou viver numa cidade, mas o referencial de salário é o mesmo”.
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