Jorge Coelho, o “estratega” da política e das empresas
O antigo governante sofreu um ataque cardíaco fulminante. Político que nunca quis ser líder do PS, fez amigos à esquerda e à direita. "Foi um estratega", recorda António Mota.
Morreu esta quarta-feira Jorge Coelho, o histórico do Partido Socialista, ministro em dois governos liderados por António Guterres e que chegou a presidente executivo da Mota-Engil. O antigo governante e gestor de empresas, de 66 anos, sofreu um ataque cardíaco fulminante na Figueira da Foz quando visitava uma casa na zona turística da cidade, de acordo com a Lusa. O presidente da República e o primeiro-ministro estiveram entre os primeiros a reagir, sublinhando o “choque” em relação ao falecimento.
Em declarações ao ECO, o presidente do Conselho de Administração da Mota-Engil recorda Jorge Coelho como “um grande amigo“, referindo que é “com grande pesar, mágoa e saudade” que recebe a notícia. Ao mesmo tempo, António Mota destaca que o antigo ministro socialista era “um homem com uma qualidade extraordinária“, “um estratega” e “um homem a quem a Mota-Engil deve muito na sua última fase de internacionalização“. Jorge Coelho “deixou uma marca enorme só ultrapassável pelo fundador da empresa“. É “uma marca que ficará cá sempre”, sublinha o chairman da construtora e patriarca da família.
Nascido em julho de 1954 em Mangualde, Jorge Coelho formou-se em gestão de empresas na Universidade de Coimbra e, após o 25 de abril, foi um dos fundadores da União Democrática Popular. Oito anos mais tarde filiou-se no PS, onde fez carreira, tendo sido muito próximo de António Guterres, a quem ajudou a chegar à liderança do partido e, mais tarde, a primeiro-ministro.
Jorge Coelho foi ministro de três pastas nos governos de Guterres: ministro Adjunto, ministro da Administração Interna e ministro da Presidência e do Equipamento Social. Em 2001, era ministro com o pelouro das infraestruturas quando a queda da Ponte de Entre-os-Rios, em Castelo de Paiva (provocando a morte de 67 pessoas) levou à sua saída do Governo. Assumiu a responsabilidade política pelo acidente e demitiu-se, afirmando que a culpa não podia ficar solteira e “não ficaria bem com a minha consciência se não o fizesse”.
Além dos mandatos como ministro, na carreira política foi também deputado, coordenador da Comissão Permanente do PS e membro do Secretariado Nacional do partido, bem como comentador político. Em simultâneo, foi também consultor, administrador e gestor de empresas, tendo-se destacado o cargo de CEO da Mota-Engil. Mais recentemente, tinha-se dedicado a negócios próprios em Viseu.
Marcelo e Costa em “choque” com morte de “amigo”
“Não posso esconder o choque do conhecimento desta morte inesperada”, disse o presidente da República, em declarações à SIC, na reação à notícia. “Ao mesmo tempo recordar o amigo e, mais do que isso, a figura que esteve presente na vida pública durante três décadas como parlamentar, como dirigente político e mais recentemente como gestor empresarial“.
Marcelo Rebelo de Sousa lembrou o estilo próprio e antecipação das correntes da opinião pública de Jorge Coelho. “Criou laços pessoais que ultrapassavam as barreiras do seu partido, o círculo amplo dos seus amigos e teve uma influência muito grande na vida nacional”, disse. “Não tendo exercido cargos de liderança, esteve tão próximo dos centros de poder que influenciou o país”.
Após prestar estas declarações, o Presidente da República fez divulgar uma nota no sítio oficial da Presidência da República na Internet em que lamenta “o dramático falecimento” de Jorge Coelho. “Deixou na memória dos portugueses o gesto singular de assumir, em plenitude, a responsabilidade pela tragédia de Entre-os-Rios e a capacidade rara de antecipar o sentir do cidadão comum”, lê-se na nota.
Também o primeiro-ministro disse estar chocado e sublinhou a amizade com o político, em declarações a partir do Largo do Rato. “Para todos nós socialistas é um momento particularmente doloroso porque Jorge Coelho não era só um camarada, mas um amigo de todos nós e poucos foram aqueles que conseguiram expressar tão bem a alma dos socialistas”, afirmou.
Costa apontou a energia e força de Jorge Coelho, tal como a capacidade de ação nos momentos mais difíceis, mas também dar uma palavra de serenidade e bom senso nos momentos de maior exaltação. “Jorge Coelho foi sempre um fator de unidade entre nós nos momentos em que as divisões nos atravessaram”, disse. “Foi um amigo de todos nós. Naqueles anos duros de oposição, na década de 90, uma força da natureza que ajudou a reerguer [o PS]“.
Antigo adversário Marques Mendes destaca “exemplo notável” de democracia
António Guterres foi um dos políticos mais próximos de Coelho. O atual secretário-geral da ONU referiu que “era um amigo queridíssimo” com “enorme dedicação à causa pública”, afirmando também o choque com a notícia. “Um homem que me acompanhou e para com quem tenho uma dívida que nunca vou poder pagar“, afirmou. “É uma grande perda para o país e sobretudo uma grande perda para os amigos. Estamos todos desolados”.
O presidente da Assembleia da República e ex-líder socialista Eduardo Ferro Rodrigues recebeu “com choque e muita tristeza”, a notícia do falecimento de Jorge Coelho, “um amigo de há longas décadas”. Lembra-o como um “homem bom e solidário”, que foi “sempre alguém que se bateu por causas, em especial pela democracia e pela igualdade” e ainda “um sobrevivente, com quem aprendi a enfrentar as adversidades”, segundo afirmou numa nota enviada à agência Lusa.
Do lado do PSD, Luís Marques Mendes e Rui Rio também lamentaram a morte. O atual líder dos social-democratas usou o Twitter para dizer que lamenta “profundamente o súbito desaparecimento” de Jorge Coelho, que diz ter sido uma “pessoa afável e de excelente trato”, com quem tinha uma “agradável” relação pessoal. “Presto-lhe sentida homenagem e envio as minhas condolências à sua família e ao Partido Socialista”, afirmou Rio.
Já o comentador político recorda o socialista como “um político carismático, determinado, convicto e que não deixava ninguém indiferente”, em declarações à SIC Notícias. “Quando há 20 anos caiu a ponte de Entre-os-Rios, ele teve uma atitude politicamente notável, que foi não se agarrar ao lugar, demitir-se, assumir responsabilidades, apesar de ele não ter culpa nenhuma naquela situação. É um exemplo notável que a democracia teve e que pouca gente, ao longo destas décadas, tem seguido“, acrescentou.
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(Notícia atualizada com as declarações do Presidente do Conselho de Administração da Mota-Engil às 21h48)
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