TAP e Novo Banco são riscos orçamentais para os próximos anos
A UTAO aponta vários riscos orçamentais para os próximos anos, como a TAP, o Novo Banco ou as moratórias. E denuncia falta de informação prestada pelo Ministério das Finanças.
Os orçamentos dos próximos anos enfrentam riscos decorrentes das necessidades de fundos para a TAP e o Novo Banco, entre outros e serão “tema incontornável nos próximos quatro anos”, alerta a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO). Esta informação consta da apreciação da UTAO sobre Programa de Estabilidade 2021-2025 (PE/2021-25), a que a Lusa teve acesso.
“As responsabilidades contingentes são o tema em destaque neste relatório”, começa por sublinhar a Unidade Técnica de Apoio Orçamental, referindo que o objeto do mesmo são a estratégia orçamental e as projeções de médio prazo para a economia e as finanças públicas.
“A emergência da pandemia levou a que o Estado português tivesse de assumir responsabilidades excecionais muito expressivas, em vários domínios, que, embora contingentes podem transformar-se em responsabilidades futuras exigíveis às Administrações Públicas”, salienta.
Entre a diversidade das responsabilidades contigentes estão as moratórias públicas e privadas, garantias públicas concedidas ao abrigo da pandemia de covid-19, as com origem em parcerias público-privadas (PPP), futuro da TAP e capitalização do Novo Banco.
“As responsabilidades contingentes são obrigações cuja materialização ou concretização como perda efetiva é tida como incerta numa determinada data” e “neste relatório apresenta-se as responsabilidades contingentes que pesam sobre as Administrações Públicas e que se podem tornar exigíveis em 2021 e nos anos seguintes”, refere a UTAO, salientando que o documento do Ministério das Finanças “é parco em informação sobre estes riscos”.
As responsabilidades contingentes “irão, muito provavelmente, ser um tema incontornável nos próximos quatro anos da vida coletiva por causa da acumulação muito expressiva de riscos para o equilíbrio orçamental ao longo do período de projeção”.
A UTAO explica que a importância deste tema “não decorre do espaço nem das qualificações encontrados no Programa de Estabilidade, aliás limitados a um pequeno quadro de reporte obrigatório à UE [União Europeia]”, mas antes “da enorme materialidade de novos passivos decorrente das medidas de política tomadas para proteger a liquidez das famílias e das empresas em 2020 e também dos compromissos assumidos e em perspetiva face aos grupos empresariais TAP e Novo Banco”.
As moratórias de crédito e as garantias de Estado a empréstimos do sistema financeiro, “assim como o futuro da TAP num contexto de recessão, enorme incerteza sobre o rumo da recuperação económica e indefinição perante os agentes envolvidos quanto à evolução do enquadramento regulatório europeu, constituem fatores de preocupação a ter em conta no painel de controlo da política económica em geral, da política orçamental e da estabilidade do sistema financeiro”, salienta.
“Há ainda um conjunto de responsabilidades contingentes que podem vir a ser exigidas ao setor público decorrentes da execução de contratos de parceria público-privada”, aponta a UTAO.
“Estes passivos resultam de litígios entre as partes e pedidos de reequilíbrio financeiro das concessões”, prossegue, salientando que o valor global das contingências decorrentes de contratos de PPP “ascende a cerca de 878 milhões de euros”. Deste montante, 368 milhões de euros dizem respeito ao setor rodoviário, 192 milhões de euros ao setor ferroviário e 48 milhões de euros ao setor da saúde. “Existem ainda outros litígios para os quais não existe uma estimativa financeira atribuída”, considera ainda.
Relativamente às moratórias, a UTAO refere que apesar de não serem responsabilidades contingentes, podem vir a originá-las. “Com efeito, os montantes dos empréstimos em moratória poderão tornar-se responsabilidades contingentes para o setor das Administrações Públicas no sentido em que no futuro podem ocorrer imparidades significativas nas instituições financeiras, que por sua vez registarão perdas nos rácios de capital”, explica.
Nesse sentido, “poderá ser necessária a intervenção do setor público no sentido de assegurar a reposição do capital das instituições financeiras”.
Atualmente, “não é possível prever o montante de imparidades futuras, mas é necessário reconhecer que na eventualidade de se concretizar um cenário pessimista, as imparidades poderão ter efeitos orçamentais e na dívida pública”.
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