Preços da eletricidade vão subir para empresas e indústria, dizem elétricas
Os primeiros a sentir o aumento de preços têm contratos de energia de curta duração ou indexados ao mercado. Para as famílias, EDP, Endesa e Galp não mexem na fatura, Iberdrola vai rever valores.
Se é certo que os preços da eletricidade vão mesmo subir, em média, 3% já no próximo mês de julho para quase um milhão de portugueses, que ainda permanecem no mercado regulado, por decisão da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, o mesmo cenário também é garantido para empresas e consumidores industriais.
Quem o diz são as comercializadoras de energia EDP Comercial e Iberdrola. A primeira lidera no mercado residencial, com 76% dos 5,4 milhões de clientes em mercado livre e quase 70% do consumo, e a segunda surge em primeiro lugar no segmento de grandes consumidores com 26% da quota de mercado em consumo abastecido em fevereiro de 2021, de acordo com a ERSE. Já nos clientes industriais, quem lidera é a concorrente espanhola Endesa, com 26% do consumo.
De acordo com fonte oficial da EDP, tanto no segmento dos grandes consumidores como no segmento dos industriais, os primeiros a sofrer com os atuais preços diários de 91 euros por MWh registados no Mercado Ibérico de Eletricidade serão aqueles que têm contratos de fornecimento de eletricidade diretamente indexados ao mercado spot diário e cujas faturas oscilam ao sabor dos preços grossistas em alta ou em baixa (algo que também já é possível para os consumidores domésticos).
O mesmo é válido para as empresas e indústrias que estão neste preciso momento a renovar os seus contratos. Dita a tradição que este segmento de mercado tradicionalmente opta por contratos de mais curta duração.
“No caso dos clientes empresariais, a EDP Comercial tem vários tipos de contratos – com valor indexado ao mercado grossista, cujos clientes sentem agora a volatilidade dos preços, mas que também já beneficiaram recentemente de preços mais reduzidos; e contratos com valor fixo até ao momento da renovação contratual”, refere a mesma fonte.
No entanto, a elétrica garante que “não está a renegociar contratos em vigor, apesar da subida dos preços, estando apenas a sentir a volatilidade atual, no preço grossista, os grandes clientes indexados ao mercado ou os que têm, agora, o seu momento de renovação contratual”.
Endesa e Galp mantêm preços, Iberdrola admite aumentos para clientes residenciais e empresariais
Já a Iberdrola garante que “segue uma estratégia de aprovisionamento que protege o cliente durante o período contratual”, mas não descarta um aumento dos preços das suas oferta de eletricidade para as famílias no mercado liberalizado, ao contrário do que anunciou já esta semana a EDP Comercial. Perante o aumento da tarifa de Energia por parte da ERSE no mercado regulado, a elétrica nacional deixou claro que não mexerá nos preços dos seus mais de quatro milhões consumidores domésticos em 2021.
A congénere espanhola, que tem 6% dos clientes em mercado livre e 6,3% do consumo no setor residencial, não dá a mesma garantia: “No início de cada novo período propõem-se novos preços de mercado que contemplam não só o presente como a evolução futura. A manter-se este cenário de preços grossistas elevados, haverá uma revisão de valores”, diz fonte oficial da Iberdrola ao ECO/Capital Verde.
Por seu lado, a Endesa, que entretanto chegou à marca de meio milhão de clientes em Portugal (7,7% do mercado livre e 9,2% do consumo residencial), diz apenas que “neste momento, não estamos a considerar um aumento nos preços de venda”.
“A política de preços da Endesa não é definida apenas com base nos preços de compra de energia, mas também com base no preço da tarifa transitória do mercado regulado, e da concorrência. É importante que os clientes que mudam para o mercado livre tenham uma poupança real em relação ao mercado regulado; pelo que os preços do mercado BTN (Baixa Tensão Normal) da Endesa, sempre ficarão abaixo da tarifa transitória, que o regulador deverá modificar levando em consideração os preços de aquisição de energia”, diz a segunda maior elétrica que opera no mercado português.
Também a Galp garantiu ao ECO/Capital Verde que “não está a refletir qualquer aumento do custo de energia nos clientes domésticos. A tabela de preços mantém-se para já, apesar do acréscimo do preço da eletricidade no mercado grossista”.
Quanto ao segmento empresarial, a Iberdrola defende que apesar de existirem diferenças, nomeadamente no que respeita à adaptação e negociação direta com cada cliente, “ambos comungam da mesma matéria-prima, que é a energia, e são diretamente afetados pela evolução dos preços grossistas no mercado”. Ou seja, também para as empresas abastecidas pela Iberdrola os preços da energia elétrica vão aumentar.
A Endesa diz apenas que os contratos empresariais “seguem uma política de manutenção das condições comerciais e económicas registadas no momento da sua assinatura e perdurarão durante toda a validade do contrato”, sem alteração de preços.
Quanto à Galp, a empresa explica que “a oferta para os clientes empresariais é customizada às suas necessidades, perfil de consumo, serviços abrangidos e prazo contratual, pelo que há vários fatores que influenciam a proposta de valor oferecida a estes clientes”.
“Os preços da eletricidade são normalmente atualizados anualmente, em linha com a revisão anual das tarifas e com a evolução dos custos da energia elétrica”, diz fonte da petrolífera.
Empresas devem negociar contratos de energia a longo prazo e poupar na fatura
De acordo com fonte oficial da EDP, os clientes empresariais e industriais preferem, tradicionalmente, contratos de curta duração. No entanto, refere a empresa “há cada vez mais empresas que preferem garantir uma estabilidade de preços, por exemplo, com contratos a cinco anos, em que o preço é fixo e que, adicionalmente, chegam a representar uma poupança de 20% no seu custo com eletricidade”.
“É cada vez mais importante que comercializadoras como a EDP Comercial tenham um espetro alargado de produtos de energia que permitam às empresas adaptar a sua estratégia a uma maior ou menor exposição aos preços do mercado grossista. São exemplo disso os contratos PPA, com visibilidade sobre os preços por um longo período e que, adicionalmente, permitem o desenvolvimento de um novo parque eólico ou solar, contribuindo para a transição energética”, explica a mesma fonte.
Outro exemplo, acrescenta ainda a EDP, são as medidas de eficiência energética que possibilitam às empresas reduzir o seu consumo, ou mesmo a produção de energia solar localmente que permite diminuir o consumo de energia da rede e, consequentemente, a exposição ao mercado.
“Estas medidas agregadas – contratos de longo prazo, medidas de eficiência e autoconsumo de energia produzida – podem levar a poupanças de até 40% no consumo das empresas”, remata.
(Notícia atualizada com as respostas da Galp)
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