“É imperativo que Portugal não fique para trás nas finanças sustentáveis”
Na primeira edição do ESG Portugal Forum 2021, promovido pelo ECO e o Capital Verde, a presidente da CMVM apelou a uma abordagem construtiva e global ao desenvolvimento de metodologias.
A pandemia evidenciou desigualdades e fragilidades globais e nacionais, levando a uma crescente consciência de que é necessária uma ação conjunta relativa ao ambiente, segundo a presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Na primeira edição do ESG Portugal Forum 2021, promovido pelo ECO e o Capital Verde, Gabriela Figueiredo Dias alertou para o risco de incapacidade de resolver crises, garantir o bem-estar e a estabilidade económica, social e política a longo prazo.
“A agenda das Finanças Sustentáveis vinha a ganhar peso mesmo antes da pandemia. E esta é mais uma razão pela qual o debate de hoje é fundamental: é imperativo que Portugal não fique para trás“, sublinhou a representante do supervisor. “No plano internacional, os produtos financeiros associados a fatores de sustentabilidade passaram de um nicho para o centro do mercado”.
Estes produtos representavam em 2020 um terço dos ativos sob gestão nos Estados Unidos. Só este ano, os fundos de obrigações ESG a nível global receberam cerca de 54 mil milhões de dólares até maio, o que compara com um total de 68 mil milhões em todo o ano de 2020. E os ativos sob gestão nos fundos de dívida ESG atingem já os 374 mil milhões de dólares. Na Zona Euro, o investimento em obrigações verdes foi de 197 mil milhões de euros em 2020 e a Comissão Europeia prevê investimentos de cerca de 170 a 290 mil milhões euros por ano para atingir emissões líquidas nulas na economia.
“Em Portugal, os dados são menos impressionantes, mas têm vindo apesar de tudo a ganhar expressão”, explica. No ano passado, existiam cinco fundos ESG, com 303 milhões de euros de ativos sob gestão e cerca de 20.500 investidores envolvidos, enquanto oito empresas portuguesas já recorreram a dívida verde para se financiar em 6,5 mil milhões de euros e o Plano de Recuperação e Resiliência português estabelece que cerca de 37% dos gastos têm de contribuir positivamente para os objetivos climáticos.
Presidente da CMVM alerta para desafios regulatórios
“A tendência é clara e resulta, também, de um movimento regulatório global favorável às finanças sustentáveis”, sublinha Gabriela Figueiredo Dias. “É urgente que todos aqueles que operam no mercado, e em particular as empresas emitentes ou cotadas e as gestoras de ativos – e de resto também nós, reguladores – se preparem adequadamente para os desafios regulatórios que enfrentarão, particularmente em 2022 e 2023, porque são expressivos e diferentes dos desafios regulatórios até aqui enfrentados”.
A presidente da CMVM refere-se à implementação da taxonomia europeia em 2022, mas também à adoção do Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis (SFDR) com impacto na gestão de ativos e à Diretiva de Divulgação de Informações sobre Sustentabilidade das Empresas (CSDR). Sublinha a importância de uma abordagem construtiva global ao desenvolvimento de metodologias comuns.
“Temos assistido à definição de uma multiplicidade de standards, princípios e critérios de divulgação de informação de adoção voluntária, o que cria dificuldades em termos de consistência e comparabilidade da informação empresarial. Efetivamente, muito embora a Europa lidere no enquadramento regulatório em matéria de financiamento sustentável, as urgências climáticas, ambientais e sociais com que nos confrontamos têm de ser encaradas a nível global“, acrescenta.
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