Detenção de Vieira cria ruído na emissão do Benfica
SAD terá de acrescentar adenda ao prospeto para clarificar situação do presidente. Medidas de coação devem ser conhecidas hoje. Investidores têm até dia 16 para revogar ordens.
A notícia da detenção do presidente do Benfica chegou na semana em que arrancou a emissão de 35 milhões de euros de obrigações pela SAD. Um facto que obrigará o clube a prestar informação adicional aos investidores e pode mexer com o seu apetite pela operação. As ordens podem ser revogadas até dia 16 de julho.
Os emitentes, neste caso a SAD do clube da Luz, têm sempre que elencar os riscos que os investidores enfrentam. E, neste caso, já lá figuram os casos na justiça, que têm sido frequentes nos últimos anos. No prospeto, o Benfica avisa que “qualquer processo de natureza judicial, arbitral ou administrativa pendente ou que venha a ser instaurado no futuro contra o Emitente, tendo em consideração, nomeadamente, aspetos tais como a respetiva relevância e duração, poderá ter impactos na reputação e imagem do emitente e implicar consequências adversas a vários níveis no desenvolvimento das suas atividades.”
A detenção de Luís Filipe Vieira esta quarta-feira, por suspeitas de burla qualificada, abuso de confiança agravada, falsificação de documentos, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada, é uma materialização do risco referido no prospeto, introduzindo uma incerteza sobre a liderança futura do clube.
A relevância do facto obrigou, de resto, a que a SAD emitisse, ainda na quarta-feira ao final do dia, um comunicado de informação privilegiada a dar conta de que iria ser feita uma adenda ao prospeto da emissão, cujo período de subscrição termina a 23 de julho. Uma adenda que só deverá ser introduzida quando existir maior clareza sobre a situação em que ficará Luís Filipe Vieira, nomeadamente as medidas de coação e o número de crimes de que será acusado.
Os investidores, que já deram ordem de compra, têm até às 15h00 de sexta-feira da próxima semana, dia 16, para anulá-la se assim o entenderem. As cenas dos próximos capítulos podem ser determinantes.
Menor apetite dos investidores?
As emissões de obrigações dos clubes são habitualmente concorridas, com as ordens a superarem o montante da oferta, permitindo ao emitente aumentar o valor global. Foi o que aconteceu na operação anterior, em julho de 2020, quando o Benfica aumentou o montante de 35 para 50 milhões. Desta vez, as notícias dos últimos dias podem mexer com o apetite dos aforradores, já que veem criar ruído sobre a gestão futura do clube. Na bolsa, os títulos da SAD recuaram ontem 5,5%, na maior queda desde março de 2020, e mais 0,7% na quinta-feira.
Pelas declarações do CEO do Benfica em entrevista à TVI24/ECO, a intenção da SAD seria, também desta vez, incrementar a oferta, já que considera que os 35 milhões seriam o valor inicial. “Nós vamos tentar avançar com este empréstimo obrigacionista no início da próxima semana, ainda há pequenos pormenores a acertar, mas o valor inicial de oferta é de 35 milhões de euros e terá uma taxa de juro de 4%”, disse Domingos Soares de Oliveira. A possibilidade de aumentar o montante pode ser exercida até dia 13.
"Nós vamos tentar avançar com este empréstimo obrigacionista no início da próxima semana, ainda há pequenos pormenores a acertar, mas o valor inicial de oferta é de 35 milhões de euros e terá uma taxa de juro de 4%.”
A operação é importante para a SAD, já que tem de reembolsar, no dia 16 de julho, 19,98 milhões de uma emissão de 2018, que em dezembro de 2019 tinha sido alvo de uma amortização antecipada de 25,02 milhões. A liquidez conseguida pode ser relevante também para o período de transferências de jogadores, permitindo ter dinheiro em caixa entre pagamentos e recebimentos.
A possibilidade de Luís Filipe Vieira ser destituído já era levantada no documento, a propósito da ação movida por Jorge Mattamouros para a anulação da última assembleia geral que elegeu os novos órgãos sociais, com consequente perda de mandato e convocação de novo ato eleitoral. Para já, a SAD não dá qualquer indicação sobre mudanças na liderança, mas sublinha que nem ela própria, nem o clube, são arguidos neste processo.
As relações entre Vieira e José António dos Santos, da Valouro, também estão no prospeto, no capítulo referente aos conflitos de interesse. O presidente do Benfica é sócio numa empresa com a filha do “rei dos frango” e o seu filho é sócio de José António dos Santos noutra sociedade. O mesmo capítulo descreve também como a dívida de Vieira ao Novo Banco acabou comprada por José António dos Santos, também detido na operação judicial levada a cabo na quarta-feira.
Os outros arguidos são o filho de Luís Filipe Vieira, Tiago Vieira, e o empresário Bruno Macedo.
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