Centeno defende redução da carga fiscal sobre os salários
Perante uma plateia de jovens, num evento da Comissão Europeia, o governador do Banco de Portugal defendeu a redução da carga fiscal sobre os salários. Sobre a inflação, vê uma normalização em 2022.
O ex-ministro das Finanças defende que Portugal deve diminuir os impostos que incidem sobre os rendimentos, assim que a normalidade das finanças públicas regresse no pós-pandemia. Tal contribuirá para que os jovens –a maioria na plateia da escola de verão Summer CEmp em que Mário Centeno falou — tenham o “retorno legítimo” do investimento na sua educação.
“É legítimo esperar que a regularização financeira e das finanças públicas em Portugal permita, num contexto de estabilidade orçamental e também fiscal, a redução daquilo que ainda é hoje a carga que incide sobre os rendimentos em particular das famílias e dos jovens“, afirmou o governador do Banco de Portugal na quarta edição do Summer CEmp, numa intervenção à distância no painel “Made In Alcoutim” uma vez que a sua família tens raízes no município que acolhe este ano a escola de verão da representação portuguesa da Comissão Europeia em Portugal. Esta declaração surge numa altura em que o Governo discute uma redução do IRS e um alargamento do IRS Jovem nas negociações do Orçamento do Estado para 2022 (OE 2022).
Mário Centeno admitiu que a expectativa salarial está “associada” ao investimento realizado na educação, a qual deve ser uma prioridade, e o “retorno legítimo” que se espera obter nos anos seguintes. Esse problema “deve resolver-se seguramente pela via fiscal“, afirmou, assinalando que esse foi um caminho que “se começou a desenhar”, nomeadamente quando era ministro das Finanças e chegou ao primeiro excedente orçamental da democracia, “e que não pode ser perdido”.
Numa mensagem dirigida aos jovens presentes, Centeno destacou a importância de aumentar o conhecimento, dado que é daí que surge a inovação, e a preparação para que estejam capazes de “aproveitar as oportunidades que se nos colocam”. Isto é, “busquem a vossa sorte”, apelou, deixando uma mensagem positiva sobre a evolução do país nas últimas décadas.
“Nos anos 80, apenas 2% dos trabalhadores em empresas tinham licenciaturas. No espaço de duas gerações chegamos a 20%”, notou, reconhecendo, porém, que o país “perdeu o século da educação”. “Carregamos connosco uma história pouco satisfatória“, confessou. Contudo, “estamos hoje numa posição privilegiada para aproveitar as oportunidades uma vez que Portugal é um estado respeitado na dimensão financeira”, concluiu.
Entrada no euro deu “influência imensa” a Portugal
Desafiado pelos participantes da escola de verão a falar sobre a entrada de Portugal no euro e o método de decisão do Banco Central Europeu (BCE), do qual agora faz parte enquanto governador, Mário Centeno defendeu que o país “ganhou uma influência imensa no desenho das políticas”, algo que não tinha até então uma vez que a influência do Bundesbank (banco central alemão) e a moeda alemã já era “muito grande” sobre as economias europeias. “A Alemanha liderava a Europa económica, monetária e financeiramente nos anos anteriores à criação do euro“, relembrou.
Com a criação do euro e do BCE, Centeno defende que Portugal até ganhou maior poder de decisão em termos monetários uma vez que as decisões deixaram de ser feitas apenas com base na situação económica alemã, mas com o agregado do panorama económico dos 19 países da Zona Euro, incluindo Portugal. Além disso, as decisões do conselho de governadores do BCE são feitas por unanimidade e não há “votos ponderados” pela dimensão da economia da cada país, acrescentou.
E deu um exemplo atual em que a taxa de inflação na Alemanha está acima dos 2% (meta do BCE) e poderá chegar aos 5%, apesar de ser por efeitos temporários, e isso não levou a uma mudança na política monetária do BCE dado que a inflação na Zona Euro ainda está abaixo de 2%. A expectativa do governador do Banco de Portugal é que a inflação vai atingir valores próximo de 2% até ao final do ano, mas depois vai cair para cerca de 1,5% no próximo ano, retomando a trajetória pré-pandémica.
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