Primark muda design para roupas poderem ser recicladas

A marca de vestuário vai passar a vender peças que duram mais tempo e feitas a partir de materiais reciclados ou de origem sustentável. Nova estratégia vai dos campos de algodão às fábricas e lojas.

Chama-se Primark Cares, tem um horizonte a dez anos e é nova estratégia de sustentabilidade da conhecida retalhista de moda, que se compromete a “mudar a forma como são produzidas as roupas sem que isso altere os seus preços acessíveis, permitindo que todos possam fazer opções de compra mais sustentáveis”.

A marca de origem irlandesa e que tem dez lojas em Portugal – a primeira abriu em 2009 no antigo Dolce Vita Tejo, renovada no ano passado –, anunciou esta quarta-feira que vai avançar com mudanças no processo de design para reduzir o desperdício têxtil e garantir que as roupas possam ser recicladas quando deixarem de ser usadas.

Por outro lado, os novos compromissos assumidos pela empresa vão fazer com que, até 2030, toda a roupa da empresa seja produzida a partir de materiais reciclados ou de origem mais sustentável. Atualmente, apenas um em cada quatro artigos vendidos nas lojas pertence a esta gama de produtos mais amigos do ambiente.

Conhecida por comercializar artigos menos resistentes e mais baratos do que a concorrência, a Primark diz-se agora “empenhada em reforçar a durabilidade das suas roupas para que possam ser apreciadas e usadas durante mais tempo”. E garante que já está a definir novas diretrizes em conjunto com a Circular Economy & Resource Efficiency Experts (WRAP), uma organização britânica dedicada a acelerar a transição da indústria da moda para a circularidade.

“A nossa ambição é oferecer aos clientes os preços acessíveis pelos quais eles nos conhecem e adoram, mas com produtos feitos de uma forma que seja mais favorável para o planeta e para as pessoas que os produzem. (…) A sustentabilidade não deve ter um preço de luxo, apenas acessível a uma minoria. Por sermos quem somos, temos a oportunidade de tornar as escolhas de moda mais sustentáveis e acessíveis a todos”, refere o CEO, Paul Marchant, citado num comunicado em que fala de um “capítulo novo e empolgante” para a empresa fundada em 1969 com o nome Penney.

Dos campos de algodão às fábricas e lojas

Estas mudanças vão começar a ser também visíveis nas 397 lojas da marca espalhadas por 14 países da Europa e da América do Norte. Com a campanha How Change Looks, a Primark quer envolver os clientes nesta mudança, com iniciativas que vão desde aumentar os recipientes de reciclagem para recolher e reciclar roupas que já não são usadas, até educar os consumidores sobre técnicas para prolongar a vida útil do seu guarda-roupa, incluindo conhecimentos de costura e dicas de lavagem.

Advertindo igualmente que “uma escolha sustentável não tem de ser cara”, o diretor de vendas em Portugal, Nelson Ribeiro, acredita que “as mudanças trazidas por estes novos compromissos vão ser muito bem recebidas pelos clientes” portugueses. Até porque, acrescenta, “as pessoas querem sentir que fazem escolhas acertadas, sustentáveis e com durabilidade, e que isso lhes está acessível”.

"A sustentabilidade não deve ter um preço de luxo, apenas acessível a uma minoria. Por sermos quem somos, temos a oportunidade de tornar as escolhas de moda mais sustentáveis e acessíveis a todos.”

Paul Marchant

CEO da Primark

Além das alterações no processo produtivo do vestuário, a multinacional fixou também como meta trabalhar com os fornecedores industriais para reduzir para metade as emissões de carbono da cadeia de valor e acabar com todos os plásticos de uso único em toda a operação, calculando já ter eliminado mais de 500 milhões de itens ao longo dos últimos anos.

Reclamando ter aquele que é o maior programa de algodão sustentável da indústria da moda a nível mundial – lançado em 2013, já abastece 14% desta matéria-prima utilizada pela marca –, a Primark, que emprega mais de 70 mil pessoas em todo o mundo, vai dar formação aos agricultores para utilizarem mais práticas agrícolas regenerativas e utilizarem menos água e produtos químicos.

Do campo para a fábrica, assume o compromisso de “melhorar as condições de vida das pessoas que produzem as roupas, proporcionando um salário justo para os trabalhadores da sua cadeia de fornecimento e investindo em programas de formação que proporcionem melhores oportunidades para as mulheres”.

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