Berlinenses apoiam expropriação de grandes proprietários para conter preços da habitação
Medida pode significar a transferência de cerca de 226.000 apartamentos para o Estado. Setor alerta para "paralisação imediata da maioria dos planos de investimento".
Os eleitores em Berlim apoiaram um referendo não vinculativo para expropriar as propriedades de grandes empresas imobiliárias na capital alemã, no meio de uma revolta pública com o aumento do valor dos arrendamentos.
Segundo a Bloomberg, mais de 56% dos eleitores apoiaram a proposta, segundo o conselho eleitoral da cidade. Embora a medida não seja juridicamente vinculativa, pode significar a transferência de cerca de 226.000 apartamentos para mãos públicas, se promulgada — incluindo os da Deutsche Wohnen SE, que possui mais de 100.000 unidades em Berlim.
A votação local, que se aplica a empresas imobiliárias que possuem mais de 3.000 unidades de aluguer, sublinha a crescente divisão entre as pessoas que se sentem excluídas de um mercado de arrendamento cada vez mais caro, e aquelas que querem manter Berlim como um centro que atrai empresas, capital e investimento habitacional.
“Não é um bom sinal para a Alemanha como um lugar para investimentos”, disse o diretor de avaliação residencial da agência imobiliária JLL Germany, Roman Heidrich, citado pela Bloomberg. “Provavelmente, pode levar à paralisação imediata da maioria dos planos de investimento e modernização”.
Os defensores do referendo argumentam que o governo é mais capaz, para conter o aumento dos custos da habitação. A porta-voz dos organizadores do referendo, Joanna Kusiak, disse que a votação pressiona os políticos para que avancem com a medida. “Nós, berlinenses, decidimos que ninguém deve ter permissão para especular com os nossos apartamentos”, considerou, em comunicado.
Desde a queda do Muro de Berlim, há mais de 30 anos, a outrora dividida capital transformou-se numa próspera metrópole, atraindo empresas que oferecem empregos bem remunerados. Os valores do mercado de arrendamento dispararam ao longo dos anos, complicando a vida de muitos, numa cidade onde 84% da população são inquilinos. Berlim estima que a cidade precise de 20.000 novas casas anualmente para acomodar a população.
A gigante imobiliária Vonovia SE considerou esta segunda-feira que, embora o referendo seja um sinal de que a situação no mercado imobiliário de Berlim precise de mudar, a desapropriação só pioraria as coisas. “Nem um único apartamento novo seria criado e os investimentos em modernização seriam interrompidos”, defendeu a imobiliária. A Vonovia e a Deutsche Wohnen, no início deste mês, concordaram em vender 14.750 apartamentos em Berlim como parte dos seus esforços de fusão.
Com 75% de participação, a votação coincidiu com as eleições para o Parlamento da Alemanha e o Governo da cidade de Berlim. Os sociais-democratas ultrapassaram os verdes nas eleições locais em Berlim, o que significa que terão a oportunidade de nomear o próximo presidente da câmara na cidade mais populosa do país.
Pagar por uma transferência de propriedade também é uma questão controversa. Enquanto os defensores do referendo argumentam que o governo pode arcar com o ónus de reembolsar as empresas imobiliárias, os oponentes dizem que o custo para aplicar esta medida seria enorme — entre 29 mil milhões de euros e 39 mil milhões de euros, recursos que, defendem, deveriam ser disponibilizados para outros projetos.
Berlim teve resultados mistos ao tentar limitar os preços dos alugueres. O governo da cidade impôs um teto para o aluguer há alguns anos, mas acabou por ver um tribunal anular a decisão.
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