Aumento de contágios “embrulha” negócio da animação de Natal
A subida dos casos de Covid travou a contratação de serviços de animação natalícia, apesar da retoma no setor da iluminação. Empresas descrevem falta de matérias-primas, cabos elétricos ou gruas.
Em Vilar do Pinheiro, no concelho de Vila do Conde, Conceição Amorim estava a fazer contas a um “aumento significativo” nos projetos de decoração para este Natal, depois da redução das encomendas que tinha registado no ano passado devido à situação de pandemia. No entanto, os 96 contratos que acabou por fechar – cerca de metade em Espanha – acabaram por ficar em linha com a performance da anterior época festiva devido ao aumento dos contágios.
Em declarações ao ECO, a presidente da Bee Plan, que intervém nestes projetos desde a criatividade, passando pela projeção, produção, acompanhamento e montagem de cada espaço – e que, a par da decoração costuma complementar a oferta aos clientes com programas de animação –, refere que “com os números da pandemia a crescer novamente, alguns dos projetos que [apresentou] acabaram por ficar em stand-by, nomeadamente aqueles que envolviam animação e a presença física do Pai Natal”.
Com os números da pandemia a crescer novamente, alguns dos projetos que [apresentou] acabaram por ficar em stand-by, nomeadamente aqueles que envolviam animação e a presença física do Pai Natal.
“Em 2021 prevíamos regressar aos números de 2019, mas por questões de prudência, decorrente da evolução negativa da situação pandémica, os espaços infantis foram anulados, bem como algumas animações de dinamização, habituais nesta quadra festiva. A queda de neve, por exemplo, atividade que, por norma, gera elevada afluência de público, saiu das nossas propostas de Natal, de modo a evitar a concentração de pessoas”, relatou a empresária nortenha, que na lista de clientes tem 84 centros comerciais e também alguns hotéis, mercados e câmaras municipais.
Nos 16 centros comerciais geridos pela Sonae Sierra, por exemplo, até 24 de dezembro, em vez do clássico encontro na poltrona dos shoppings, as crianças apenas vão poder ver o Pai Natal em videochamada, através da plataforma Zoom. Recebem um postal com uma dedicatória e um QR Code com um vídeo do “velhinho das barbas” em teletrabalho, tal como no ano passado, em que fez mais de cinco mil chamadas.
Joana Moura e Castro, diretora de marketing da empresa do setor imobiliário que vai às compras no Brasil e na Colômbia, detalhou, citada numa nota de imprensa, que o propósito da dona do Colombo ou do NorteShopping é “evitar contactos físicos” e, adaptando a tradição aos tempos atuais, não “comprometer a segurança das crianças, das suas famílias e do próprio Pai Natal”.
Também a AM Illumination & Arts, com sede e armazém em Braga, sentiu que, se na área da iluminação a maior parte dos espaços comerciais mantiveram ou até aumentaram os orçamentos em relação aos anos anteriores –- até porque “não podem descurar algo que é uma imagem de marca do seu espaço e que efetivamente tem impacto na atração de footfall” –-, “noutras áreas, nomeadamente da animação, houve algum decréscimo nos orçamentos disponíveis”, reconheceu ao ECO o diretor do grupo, João Amaral.
Espanha começa a iluminar retoma
Fundada há pouco mais de duas décadas por Pedro Martins, numa altura em que trabalhava na Telepizza de Braga e fazia truques de magia enquanto estudava num seminário, a empresa está este ano responsável por 50 projetos relacionados com iluminação, decoração e animação de Natal em Portugal, Espanha e Andorra, tendo conseguido angariar 25 novos clientes à custa do reforço das equipas, que aumentaram o número de briefings recebidos e a capacidade de resposta.
Este Natal, o volume de negócios deve ultrapassar os 2,5 milhões de euros. Quase dobra (+93,3%) a performance na época festiva de 2020 e fica já acima dos 1,9 milhões faturados no Natal de 2019, antes do surgimento do novo coronavírus. “O maior crescimento foi, sem dúvida em Espanha, onde angariámos mais clientes e, portanto, mais projetos”, frisou João Amaral, que aponta como “objetivo alcançável a curto e médio prazo” a expansão fora da Península Ibérica, em particular no resto da Europa e em países de língua oficial portuguesa.
O nosso objetivo é expandir-nos sobretudo para outros mercados europeus e países de língua portuguesa. Acreditamos que é alcançável a curto e médio prazo.
Com 90% da atividade concentrada no período natalício, a AM Illumination & Arts tem no portefólio alguns projetos conhecidos na cidade de Lisboa, como a estrela que há vários anos é a imagem de marca do Amoreiras – “uma vez mais, estudámos ao pormenor a sua instalação com o cliente” – ou a “Árvore dos Abraços” criada para os Armazéns do Chiado e que venceu um troféu de marketing atribuído pelo International Council of Shopping Centers.
Na lista de clientes, a empresa minhota tem alguns dos maiores operadores ibéricos, como a Klépierre, Mundicenter, CBRE, Merlin Properties, MVGM, Cushman and Wakefield, Savills Aguirre Newman, Sonae RP ou Sonae Sierra; mas também alguns edifícios de escritórios e parques empresariais, a Câmara Municipal de Braga ou o World Of Wine (WoW), em Vila Nova de Gaia.
O grupo especializado em experiências de entretenimento familiar está atualmente a integrar três novos acionistas, que fazem parte da equipa de gestão: João Amaral, Bruno Galvão e Nuno Barbot, que é o atual CEO. Além da empresa de iluminação e decoração, integra outras três áreas: conceção de espetáculos teatrais musicais no gelo (AM LIVE); experiências em pistas de gelo, de aventura e parques de diversão temáticos (AM Fun Play & Ice); e instalações de arte multimédia, exposições e experiências imersivas (AM Immersive & Digital).
Faltam luzes, cabos elétricos e gruas
A atravessar o pico daquela que é a época alta para esta indústria, a AM Illumination & Arts reforçou a equipa com mais uma centena de pessoas. Também a vila-condense Bee Plan, que tem metade do ano um núcleo de 20 pessoas a assegurar a execução do serviço e nos outros seis meses alarga a equipa para 60 pessoas, entre profissionais de engenharia, marketing, design, recursos humanos e artísticos, neste mês de novembro chega a ter mais de 220 trabalhadores, dos quais cerca de 160 afetos à montagem das decorações de Natal.
Diferente este ano foram os “significativos constrangimentos” provocados pela falta e pelo aumento do preço das matérias-primas e dos transportes. “Sentimos grande escassez de materiais, nomeadamente luzes, cabos elétricos e outros materiais técnicos, e ao mesmo tempo assistimos à subida dos preços na ordem dos 30%. Os camiões e as gruas, de que necessitamos para executar os projetos, também sofreram aumentos significativos, notando-se também algum desinvestimento neste tipo de maquinaria”, descreveu a empresária.
No shopping Cidade do Porto, situado na zona da Boavista, as restrições no acesso a vários materiais obrigaram mesmo a empresa a transformar aquela decoração natalícia, que começou a ser pensada logo no início do ano, num “exercício artístico sustentável”. Por exemplo, sem plumas e penas no mercado para cobrir pavões, anjos e pássaros, teve de utilizar materiais reciclados, na maioria reutilizados, como alumínio, rede metálica, tapetes de ioga ou flores e vegetação artificial.
A pouco mais de um mês do final do ano, Conceição Amorim, que tem como sócios Conceição Lopes, Renato Silva e Sofia Silva, prevê uma faturação idêntica à de 2020, a rondar os 2,2 milhões de euros. No ano passado, com a pandemia de Covid-19 a impossibilitar a presença da empresa noutros mercados, como a França e o Cazaquistão, as vendas tinham caído perto de 30% em termos homólogos.
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