Corticeira Amorim tenta cobrar dívidas na Rússia
Com as vendas para o mercado russo bloqueadas, António Amorim diz ao ECO que as prioridades da gigante da cortiça são a segurança dos 30 trabalhadores locais e o pagamento das encomendas pré-guerra.
Pessoas e dinheiro. Estas são as duas maiores preocupações da Corticeira Amorim em relação aos negócios com os mercados da Rússia, da Bielorrússia e da Ucrânia, que no ano passado representaram vendas de cerca de 12 milhões de euros. Com a atividade comercial totalmente bloqueada naquelas geografias, o presidente executivo adianta ao ECO que as prioridades neste momento envolvem a segurança dos perto de 30 trabalhadores que tem naquelas geografias e a tentativa de recuperar os montantes “relevantes” em aberto, que não estavam vencidos à data do início da guerra.
“Estamos a tentar fazer a cobrança, que é uma atividade muito importante. A venda só acaba quando o dinheiro entra na conta e não entrou ainda. O canal financeiro está bloqueado. Grande parte das transferências são difíceis de realizar porque tudo o que vem daqueles países neste momento não é bem visto. Os [departamentos de] compliance dos bancos têm dificuldade em dar sequência. Estamos a ver se conseguimos receber os montantes que tínhamos em aberto para conseguir manter a nossa solvabilidade financeira com esses mercados”, descreve António Rios Amorim, sem concretizar o valor em dívida.
Em conjunto, a Rússia, a Bielorrússia e a Ucrânia representaram 1,5% da faturação de 2021 da empresa sediada em Mozelos (Santa Maria da Feira), que pela primeira vez ultrapassou os 800 milhões de euros em 2021, ascendendo a 837,8 milhões. Rumo a estes destinos de Leste, em que “a atividade está completamente parada” desde há três semanas, seguiam rolhas de cortiça, pavimentos e materiais compósitos. Sobretudo para a Rússia, onde emprega à volta de 30 pessoas e tem duas empresas de distribuição para estes últimos dois produtos.
"Estamos a ver se conseguimos receber os montantes que tínhamos em aberto para conseguir manter a nossa solvabilidade financeira com esses mercados.”
Recusando dar já como totalmente perdidos os negócios nestes mercados no médio prazo – “em princípio sim, mas ainda não podemos ter uma visão do que vai acontecer porque isto está a mudar todos os dias” –, António Rios Amorim sublinha que “neste momento, a principal preocupação é social e tem a ver com as pessoas que trabalham para a Corticeira Amorim nessas geografias [e] que estão a passar momentos extremamente difíceis e complicados com toda esta situação, [incluindo] a sua própria posição pessoal com este tipo de eventos”.
Em 2021, a cortiça foi a principal fonte de receita nas exportações portuguesas de mercadorias para a Rússia, equivalendo a 26,9 milhões de euros. Além da Corticeira Amorim, na lista das dez maiores exportadoras para aquele mercado nos últimos dois anos estão também a Unicor, de Lourosa, e a Sedacor (JPS Cork Group), de Santa Maria da Feira. Segundo os dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística INE), a “cortiça e suas obras” foi também a categoria de bens mais vendida por Portugal para a Ucrânia, embora num montante muito inferior em 2020: cerca de cinco milhões de euros.
Borrachas russas e efeitos de médio prazo
Em termos comerciais, o abastecimento dos produtos que a Corticeira Amorim fazia para a Rússia, assim como para a Bielorrússia e para a Ucrânia, era “sobretudo para consumo doméstico” nesses países. O gestor desabafa que “felizmente não era um mercado assim tão relevante, mas [o grupo vai] ter consequências disso”. É que, explica, além de contabilizar os prejuízos diretos, é preciso calcular também as perdas indiretas, uma vez que “os clientes vendiam vinhos com as rolhas” da Amorim. Em 2021, as exportações de vinho para o mercado russo aumentaram 61% face ao ano anterior, ascendendo a um total de 45 milhões de euros.
António Rios Amorim recorda que “a atividade começou o ano bastante forte” e mantém um otimismo moderado. “Temos sempre uma visão positiva, que a inteligência humana vai vingar no final de tudo isto. Mas perante tudo aquilo que vimos, de vez em quando duvidamos”, contrapõe. Face à “marginalidade” destes mercados e ao facto de “tudo isto [ser] relativamente recente”, não antecipa um reflexo “imediato” da invasão militar nos resultados relativos ao primeiro trimestre, mas avisa que “são coisas que vão impactar o negócio durante o resto do ano”.
Parte das borrachas para misturar com a cortiça vinham da Rússia. Estamos a mudar de geografia para a Ásia [no fornecimento destes materiais].
Finalmente, o impacto da guerra que rebentou na Ucrânia a 24 de fevereiro faz-se também sentir ao nível do fornecimento de “uma ou outra matéria-prima”, em que já está a procurar um “abastecimento alternativo” por parte de operadores de outros países. É o caso das borrachas para misturar com a cortiça, que vinham da Rússia e para as quais a Corticeira Amorim já está a “mudar de geografia para a Ásia”, recorrendo a outros fornecedores com quem também já trabalhava.
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