100 mil famílias já assinaram contrato com a EDP este ano. Preço da luz continua a aumentar
No caso das empresas e da indústria, o caso muda de figura, diz a CEO da EDP Comercial. "Continuamos também a contratar, mas as condições do ponto de vista do preço não são tão favoráveis".
Não há como fugir. Seja no mercado regulado ou no mercado livre, os preços da energia vão mesmo ficar mais caros. A começar pelas tarifas de luz e gás para os clientes no mercado regulado, que vão subir em média 3% já a partir de 1 de abril, decidiu a ERSE. Depois disso serão os clientes da Galp a sentir aumentos mensais que variam entre 1,6 e os 3 euros no gás e entre um a dois euros na eletricidade a partir de 15 de abril. Também no próximo mês, a Endesa fará uma atualização dos preços na ordem dos 3%.
Resta a EDP, que “fará uma atualização da tarifa de eletricidade para os seus atuais clientes residenciais que vigorará a partir de maio e representa uma variação média de 3%”. Este é já o segundo aumento de preços anunciado pela elétrica com a maior carteira de clientes em Portugal, depois de em janeiro ter feito uma atualização de 2,4%.
Ainda assim, Vera Pinto Pereira, administradora executiva da EDP Comercial, garante em entrevista ao ECO que o aumento dos preços cobrados ao consumidor final (fruto dos valores recorde atingidos nos mercados grossistas em 2021 e 2022) não tem resultado em menos contratos.
“Não há nenhum bloqueio. Desde o início do ano, entraram para a EDP Comercial, no segmento residencial, mais de 100 mil famílias, o que representa um crescimento de 6% das nossas angariações face ao período homólogo. Isto no contexto absolutamente extraordinário em que vivemos, do ponto de vista do mercado grossista, e tendo em consideração que anunciamos mais um aumento de preços, o que tipicamente não fazemos nesta altura do ano”, diz a responsável.
E acrescenta: “Não dizemos assim ‘se contratar agora vai pagar mais caro’. Mas parece-nos responsável e prudente avisar, quando um novo cliente celebra um contrato, que os preços subiram, porque não queremos que seja surpreendido com uma fatura que não estava à espera, porque achava que ia pagar menos”.
E energia elétrica suficiente (seja ela fóssil ou renovável) para abastecer toda a gente, há que chegue? “Com as circunstâncias que estão em cima da mesa, neste momento, eu diria que não temos um risco de ficar sem energia. Se amanhã temos uma terceira guerra mundial, não sei, as circunstâncias poderão ser outras, mas acho que nenhum de nós está preparado para o que isso queira dizer”.
Para as empresas “as condições do ponto de vista do preço não são tão favoráveis”
No caso das empresas e da indústria, o caso muda de figura, diz a CEO da EDP Comercial. “Continuamos também a contratar, mas as condições do ponto de vista do preço não são tão favoráveis, daí também a necessidade de dar algum contexto de mercado”, diz Vera Pinto Pereira.
Em cima da mesa, para empresas e indústria a EDP tem “contratos de maior duração como uma melhor opção, nesta altura do campeonato, do ponto de vista de preço”. No entanto, há sempre a possibilidade de optar pela indexação ao mercado spot ou durações mais curtas, de 12 meses (com um ou dois preços diferentes durante esse período).
A maior procura vai, no entanto, para contratos a 5, 7 e 10 anos. “Toda a maturidade da nossa carteira tem vindo a alargar-se bastante porque é, de facto, a melhor opção para o cliente e garante uma maior estabilidade de preço”.
Outra opção passa pela instalação de energia solar em autoconsumo, que poderá cobrir entre 15% a 40% das necessidades de uma empresa, complementada com contratos de longa duração de energia verde (com preço fixo), por exemplo. “Garante um preço fixo, previsibilidade e proteção contra a volatilidade dos mercados, mas também um preço mais baixo porque alisamos a tendência decrescente do preço ao longo do tempo”, remata.
Com uma visão mais pessimista do atual contexto energético nacional e europeu está Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa em Portugal. No segmento doméstico a elétrica espanhola, que por sua vez é detida pela italiana Enel, vai também fazer uma atualização de preços de 3% agora em abril.
“O problema é que de repente aparecem grandes empresas e grandes consumidores de eletricidade que de repente ficaram sem contrato e querem condições a mais longo prazo. Aí corremos riscos, mas partilhamos os riscos com os clientes: contratamos a cinco anos e fazemos um preço que não é tão alto como se fosse ao dia de hoje, na expectativa que o mercado estabilize. Agora podemos estar a vender abaixo do preço de mercado que pagamos, mas no futuro pode inverter, compensando o que agora já adiantamos, explicou o presidente da Endesa em declarações ao ECO.
Para as empresas e para a indústria os contratos a preços indexados são possíveis, mas a três ou seis meses, um ano, dois ou três anos “já não é possível com preços comportáveis para os clientes”.
“Ninguém consegue”, garante Nuno Ribeiro da Silva, explicando que a Endesa tem mais mercado do que geração, por isso, para realizar novos contratos a elétrica tem de de ir buscar energia ao mercado e garantir cobertura com futuros “para não ser um tiro no escuro”.
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