Portugal paga mais para emitir 750 milhões a 8 anos
Numa altura em que os juros estão a subir, o IGCP foi esta quarta-feira aos mercados financeiros para emitir dívida pública a oito anos. Juro é mais elevado do que emissões anteriores a 9 ou 10 anos.
A agência que gere a dívida pública emitiu 750 milhões de euros de obrigações com uma maturidade de oito anos a um juro de 1,767%, acima dos 1,008% que registou a emissão a 9 anos em fevereiro, de acordo com os dados divulgados esta quarta-feira pela Reuters.
Apesar da subida do juro, a procura por dívida portuguesa aumentou face a esse leilão de fevereiro, com as ofertas dos investidores a superarem em 1,86 vezes a oferta do IGCP, o que compara com 1,27 vezes em fevereiro.
Não há uma emissão a oito anos recente que seja comparável com esta, daí a comparação com a emissão a 9 anos. A 9 de fevereiro, Portugal obteve 706 milhões de euros em Obrigações do Tesouro com maturidade em outubro de 2031 (nove anos), pelas quais pagou um juro de 1,008%, o que compara com o juro de 0,127% do anterior leilão comparável a nove anos realizado em julho de 2021.
O juro pedido pelos investidores no leilão desta quarta-feira é também superior aos 1,154% que tinham exigido em março quando o IGCP foi ao mercado emitir 500 milhões de euros com maturidade de 12 anos, superior aos 0,841% do leilão anterior comparável.
A 10 anos, que é a maturidade de referência para as dívidas soberanos, o juro pedido na última emissão sindicada realizada no início de abril foi de 1,7%, ligeiramente abaixo do valor agora exigido a oito anos.
Esta evolução resulta da aceleração da taxa de inflação na Zona Euro para máximos históricos e a expectável normalização da política monetária nos próximos meses, com o fim do programa de compra de ativos e o eventual arranque da subida dos juros em julho ou em setembro.
A agência que gere a dívida pública portuguesa conseguiu captar o montante máximo pretendido de 750 milhões de euros, tal como anunciado. Na semana passada, o IGCP anunciou que ia realizar um leilão esta quarta-feira para emitir Obrigações do Tesouro (OT) com uma maturidade de oito anos (18 de outubro de 2030), com um montante indicativo entre 500 a 750 milhões de euros.
No mercado secundário, a yield da dívida portuguesa a oito anos está a negociar nos 1,8%, mas na passada sexta-feira atingiu 2%, um máximo de 2017.
“A yield obtida foi de 1,767% e é para já a mais alta quando comparada com todos os leilões feitos este ano em dívida com maturidades mais longas”, comenta Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa, em reação aos resultados do leilão, explicando que “a subida que estamos a assistir no prémio de risco de Portugal não é um caso isolado e está diretamente associado aos fatores disruptivos que estamos a viver atualmente“.
“A guerra na Ucrânia, bem como os confinamentos na China, acabam por não deixar normalizar os problemas que temos tido nas cadeias de abastecimento, elevando ainda mais a inflação e ao mesmo tempo, aumentando a pressão sobre os bancos centrais”, recorda, admitindo que a retira dos estímulos e a subida dos juros “acabam por penalizar mais os países mais endividados”. Daí que o diferencial dos países da periferia face à Alemanha tenha aumentado.
Para o diretor de investimento do Banco Carregosa “se os bancos centrais têm um desafio ao ter de subir taxas e adotar medidas, que não coloquem em causa o crescimento das economias, os governos irão ter outro com a subida do custo para emitir divida e o impacto que o mesmo terá nas finanças nacionais”.
Perante a subida dos juros nos mercados, a presidente do IGCP, Cristina Casalinho, reforçou a mensagem de confiança que tem vindo a transmitir desde que a inflação começou a acelerar. “Estamos preparados para a subida de taxas de juro, visto nos últimos anos se ter procedido ao aumento da maturidade média da emissão de obrigações de médio e longo prazo, de modo a beneficiar de taxas de juro baixas durante o período de tempo o mais longo possível“, explicou a gestora da dívida recentemente ao ECO.
(Notícia atualizada às 11h37 com o comentário do analista Filipe Silva)
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