Economia portuguesa é “vulnerável ao ambiente geopolítico”, diz MEE
A elevada dependência energética externa de Portugal e o aumento dos preços internos da energia deixam o país vulnerável ao ambiente geopolítico, considera o Mecanismo Europeu de Estabilidade.
O Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) destaca que, apesar do reforço previsto para a atividade económica em Portugal este ano, a incerteza “aumentou significativamente”, dado que o país é “vulnerável ao ambiente geopolítico”, nomeadamente na área da energia.
“Apesar das limitadas ligações comerciais e financeiras diretas com a Rússia e a Ucrânia e de uma quota moderada de importação direta de gás da Rússia, a elevada dependência energética externa de Portugal e o consequente aumento dos preços internos da energia deixam o país vulnerável ao ambiente geopolítico”, afirma o MEE no relatório anual de 2021 hoje divulgado, no dia em que o seu Conselho de Governadores se reúne no Luxemburgo.
Na parte do documento referente a Portugal – que teve um programa de ajustamento macroeconómico entre 2011 e 2014 –, o MEE acrescenta que “a incerteza aumentou significativamente nos últimos tempos”, pela invasão russa da Ucrânia em fevereiro passado, que acentuou a crise energética anteriormente existente.
Numa mensagem no relatório, o diretor executivo do MEE, Klaus Regling, aponta que a guerra da Ucrânia implica “uma nova crise grave” na Zona Euro.
“O conflito causou grande incerteza sobre a evolução económica futura, exacerbando a rutura das cadeias de abastecimento e contribuindo para uma inflação mais elevada, já observada no aumento acentuado dos preços da energia e dos alimentos”, salienta Klaus Regling, reconhecendo que “o impacto económico do conflito poderá ser duradouro”.
Klaus Regling reconhece que, “para os países importadores de energia, o aumento dos preços da energia provoca uma transferência de rendimentos e de riqueza para o estrangeiro”.
No conjunto da zona euro, esta perda ascendeu a cerca de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) até ao primeiro trimestre de 2022, “a maior perda de termos de troca de que há registo”, adianta o diretor executivo do MEE.
Ainda no que toca a Portugal, o relatório indica que se “prevê que a atividade económica se reforce em 2022, apesar dos riscos de deterioração das perspetivas, e as reformas e investimentos financiados pelo Fundo de Recuperação poderão aumentar ainda mais a capacidade de Portugal para responder a choques futuros”.
Outro dos avisos da instituição criada pelos Estados-membros da área do euro para garantir estabilidade financeira é que “o elevado peso da dívida pública de Portugal continua a ser uma importante fonte de vulnerabilidade”, embora reconheça melhorias no ano passado.
“Enquanto o apoio orçamental necessário para enfrentar os impactos negativos da pandemia de covid-19 continuou a pesar no orçamento, o Governo manteve o seu compromisso de reforçar a consolidação orçamental, uma vez que a dívida pública diminuiu ligeiramente de 135,2% do PIB no ano anterior para 127,4% do PIB”, indica o organismo no relatório.
Ainda no que toca a 2021, o MEE observa que, no ano passado, “o consumo privado e o investimento apoiaram a recuperação parcial de Portugal da recessão económica induzida pela pandemia de covid-19”.
“Uma recuperação das receitas orçamentais levou a uma redução do défice primário. Os rendimentos das obrigações do Governo aumentaram devido ao aumento das expectativas de inflação na zona euro, mas as condições de acesso ao mercado permaneceram favoráveis, principalmente graças a uma política monetária acomodatícia”, elenca.
Além disso, “a rentabilidade dos bancos portugueses recuperou e o crédito não produtivo [malparado] diminuiu ainda mais”, conclui o MEE.
Sediado no Luxemburgo, o MEE é uma organização intergovernamental criada pelos Estados-membros da zona euro para evitar e superar crises financeiras e manter a estabilidade financeira e a prosperidade a longo prazo, concedendo empréstimos e outros tipos de assistência financeira aos países em graves dificuldades financeiras.
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