ANA diz que responsabilidade por cancelamentos é das companhias aéreas e não do aeroporto
O presidente executivo da concessionária dos aeroportos diz que ranking que colocou Humberto Delgado em último é uma "montagem coxa realizada por uma empresa comercial".
O presidente da ANA justifica os constrangimentos no aeroporto com as dificuldades dos diferentes agentes que nele atuam, face à rápida recuperação do tráfego aéreo. Garante que a concessionária cumpre quase na íntegra os níveis de serviço e que situação no controlo de fronteiras está “normalizada”. Os cancelamentos são, sobretudo, responsabilidade das companhias aéreas, defende.
“Portugal é o país que lidera a recuperação de tráfego na Europa”, garante Thierry Ligonnière. Essa é também uma razão porque os aeroportos estão a enfrentar constrangimentos. “Passámos da situação em que todos os aviões estavam no chão, em 2020, para uma situação de retoma do tráfego muito dinâmica. Em alguns aeroportos estamos acima de 2019 e portanto esta evolução muito rápida do tráfego, acima das previsões do setor, acabou por surpreender uma parte dos atores do transporte aéreo”.
O CEO da ANA reconheceu que existiram “problemas graves com alguns subsistemas, um deles é o controlo de fronteiras, do SEF”. Mas salientou que “o trabalho que foi feito com o ministério e a direção nacional do SEF produziu resultados muito tangíveis durante as últimas semanas”. “Há uma melhoria notável no tempo de espera no controlo de fronteira desde 18 de junho. A situação está normalizada”, garantiu.
Defende, por isso, que os cancelamentos que têm existido no Humberto Delgado são responsabilidade sobretudo das companhias aéreas. “As dificuldades que temos observado no aeroporto de Lisboa, elas não têm a ver com a natureza da infraestrutura, ou seja com a questão do controlo de fronteiras ou o número de postos instalados”, afirmou o responsável. “Os cancelamentos que temos visto agora, a resposta é mais do lado das companhias áreas, porque os cancelamentos são decididos pelas companhias aéreas“, acrescentou.
Thierry Ligonnière afirmou que a ANA está a cumprir os níveis de serviço, nomeadamente no controlo de segurança ou na entrega das bagagens (que tem intervenção também dos handlers). Só ficou abaixo na disponibilidade de tapetes rolantes, que foi de cerca de 96% em vez dos 98% a que está obrigada.
O responsável foi também muito crítico do ranking que considerou o Humberto Delgado como o pior aeroporto da Europa. “É uma montagem coxa realizada por uma empresa comercial que se alimenta de indemnizações reclamadas às companhias aéreas”, afirmou. Thierry Ligonnière considerou que a classificação feita pela AirHelp usa “fontes obscuras”, “sem indicação da amostragem ou discrição da metodologia”, que usa critérios ponderados de “forma arbitrária”. Salientou ainda que os aeroportos portugueses venceram vários prémios nos últimos anos, com o Sá Carneiro a ser já este ano considerado o melhor da Europa pela ACI, uma “entidade credível e independente”.
A solução para o novo aeroporto também foi abordada, com José Luís Arnault, chairman da concessionária, a dizer que “não cabe à ANA tomar opções sobre decisões aeroportuárias. É ao Governo. Não há nenhuma decisão. Não vamos entrar nesse debate. Vamos colaborar para que a decisão tomada seja a melhor para o país. Há um sentido de urgência grande”. “Estamos disponíveis para investir o mais rapidamente possível na expansão da capacidade aeroportuária na região de Lisboa”, disse, por sua vez, o CEO da ANA.
O presidente do conselho de administração da ANA, José Luís Arnault, e o CEO, Thierry Ligonnière, estão a ser ouvidos esta manhã na Comissão de Economia, Obras. Públicas, Planeamento e Habitação do Parlamento, a pedido do PSD.
A solicitação surgiu na sequência da divulgação de um ranking mundial dos aeroportos, elaborado pelo site alemão AirHelp, que se dedica à defesa dos passageiros aéreos, onde o Humberto Delgado surge na última posição em 132 aeroportos. O Sá Carneiro, no Porto, é o oitavo pior.
Nos últimos dias têm sido frequentes os cancelamentos no aeroporto de Lisboa. Entre sábado e terça-feira a ANA contabilizava cerca de 160 cancelamentos. Um cenário que não é exclusivo de Portugal e está a acontecer um pouco por toda a Europa.
Os constrangimentos têm sido justificados com as dificuldades operacionais sentidas por companhias áreas, empresas de handling e serviços de emigração devido à falta de pessoal, numa altura em que o tráfego aéreo está muito perto e em alguns casos mesmo acima dos níveis de 2019. Segundo cálculos da Oxford Economics, citados pelo Financial Times, em setembro de 2021 havia menos 2,3 milhões de trabalhadores na indústria da aviação do que no início da pandemia.
A exigência do trabalho, o salário pago e a concorrência de outros setores como a restauração e o turismo têm dificultado a contratação de pessoal. A sobrecarga sobre os que estão empregados no setor tem sido pretexto para greves em vários países europeus, que também provocam atrasos e cancelamentos.
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