Corticeira Amorim conta perder mais de um milhão com exposição à Rússia
Totalidade dos saldos de clientes e stocks com a Rússia foram considerados imparidades pela Corticeira Amorim, que tem empresas de distribuição em Moscovo e São Petersburgo.
A Corticeira Amorim reconheceu resultados não recorrentes no valor de 1,1 milhões de euros no primeiro semestre deste ano, que “decorrem essencialmente do registo de imparidades (inventários e clientes) que reflete uma abordagem prudente à exposição a Rússia, Ucrânia e Bielorrússia”. Nessa rubrica estão representados saldos de clientes (637 mil euros) e stocks (420 mil euros) com a Rússia, que “foram considerados imparidade”.
Em conjunto, estes três mercados valeram vendas de cerca de 12 milhões de euros no ano passado, equivalente a 1,5% da faturação da empresa sediada em Santa Maria da Feira, que pela primeira vez ultrapassou os 800 milhões de euros em 2021. Rumo a estes destinos de Leste, sobretudo ao mercado russo, seguiam rolhas de cortiça, pavimentos e materiais compósitos.
No relatório & contas consolidado, o grupo liderado por António Rios de Amorim adianta que no fecho das contas relativas à primeira metade de 2022 “toda a exposição com a Rússia foi alvo de registo de imparidades”. No país de Vladimir Putin, onde empregava perto de 30 pessoas, tem duas empresas de distribuição na área dos pavimentos (em Moscovo) e dos materiais compósitos (São Petersburgo).
Em meados de março, ainda na fase inicial da guerra na Ucrânia, o presidente executivo da líder mundial no setor da cortiça disse ao ECO que estava a tentar recuperar os montantes “relevantes” em aberto no mercado russo, que não estavam vencidos à data do início da guerra, “para conseguir manter a solvabilidade financeira com esses mercados”.
Ainda no capítulo do risco de crédito, cujo montante máximo é o que resulta do não recebimento da totalidade dos ativos financeiros (junho 2022: 415 milhões de euros e dezembro 2021: 341 milhões de euros), a Corticeira Amorim diz estar “atenta à questão das cobranças de contas a receber”. Ainda assim, frisa que, num universo de quase 30 mil clientes, o risco está “significativamente repartido”.
“O risco de crédito está naturalmente diminuído face à dispersão das vendas por um número muito elevado de clientes, espalhados por todos os continentes, não representando qualquer um mais do que 2% das vendas totais”, lê-se no documento enviado esta semana à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
Provisões de 42,4 milhões para contingências fiscais
Depois de um primeiro semestre em que registou lucros de 48 milhões de euros, uma subida de 20,6% que beneficiou da consolidação da italiana Saci – a quem pagou no início de julho os 23 milhões que faltavam relativos à aquisição de 50% do grupo conhecido pela produção de muselets – e em que as vendas subiram 26%, atingindo 546 milhões de euros até junho, a Corticeira admite que “é expectável que este ritmo de crescimento de vendas abrande” na segunda metade do ano.
“Um dos desafios para o segundo semestre é perceber os impactos que o ambiente inflacionista poderá ter no consumo mundial. Ao nível dos gastos de transportes e das matérias subsidiárias, apesar de se esperar um alívio da pressão de aumento de preços, não é esperado um regresso aos níveis verificados anteriormente. Tal como não é expectável que se invertam, de forma significativa, os aumentos dos preços no mercado da energia”, resume.
Outra novidade é que, como estava previsto no contrato de aquisição, o grupo nortenho comprou em julho os 10% adicionais na Bourrassé pelo valor de cinco milhões de euros. É a quarta e última tranche (que tinha ficado acordada logo em 2017, quando começou por adquirir 60% da concorrente por 29 milhões), o que faz com que passe agora a deter a totalidade do capital desta produtora de rolhas francesa.
Nesta comunicação ao mercado, a Corticeira Amorim calcula ainda que as provisões para contingências fiscais, que correspondem a situações que indiciam que possa haver um desfecho desfavorável para a empresa, finalizaram o semestre com um valor de 42,4 milhões de euros, relacionadas com o imposto sobre o rendimento.
“Estes processos têm origem, basicamente, em questões relacionadas com a prestação de garantias não remuneradas entre empresas do grupo, em empréstimos entre empresas do grupo (Imposto de Selo), com a dedutibilidade de juros de sociedades gestoras de participações sociais (SGPS), com a não aceitação de gastos como gastos fiscais e com perdas relativas a liquidações de subsidiárias”, conclui.
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