Adidas prepara despedimento de até 300 pessoas na Maia
Adidas vai reestruturação o centro de serviços na Maia, que levará à saída de até 300 pessoas. Autarquia e TecMaia apanhados de surpresa. AICEP não tem registo de contratos de investimento.
A Adidas está a preparar alterações na estrutura da unidade de serviços partilhados que tem na Maia, num plano que pode levar ao despedimento de cerca de 300 trabalhadores. A notícia foi avançada pelo Jornal de Negócios e confirmada ao ECO por fonte oficial da empresa.
Contactada, a multinacional de origem alemã explica que o plano afeta cerca de três centenas de funcionários do chamado Adidas Global Business Services (GBS) e está previsto ser implementado até ao verão de 2023.
“Os trabalhadores afetados [na região do] Porto já foram informados das medidas planeadas. A Adidas lamenta o impacto que a decisão pode ter nos trabalhadores e está a tentar encontrar soluções justas para todos os funcionários afetados, em conversações pessoais. Será dada prioridade à transferência para outra posição no Porto”, afirma, através de fonte oficial.
Segundo apurou o ECO junto de fonte próxima da empresa, nas últimas semanas já tinha sido comunicado aos colaboradores deste centro de serviços partilhados, instalado desde 2009 no Parque de Ciência e Tecnologia da Maia (TecMaia), que as novas contratações estavam congeladas.
Vários jornais escrevem que a denúncia partiu de um e-mail anónimo enviado este domingo par algumas redações. Numa declaração divulgada após a notícia, a Adidas “confirma que vão ocorrer alterações na estrutura organizacional no Porto em ligação com o desenvolvimento dos serviços partilhados na Adidas”.
“No futuro, algumas funções vão ser desempenhadas noutras localizações fora de Portugal e, numa segunda fase, serão criadas novas responsabilidades no Porto. O objetivo é agrupar competências de forma mais uniforme nos vários locais. A unidade do Porto vai continuar a desempenhar um papel importante na companhia”, frisa a empresa.
Contabilidade sai de Portugal, AICEP garante zero apoios
Fonte oficial da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), liderada por Luís Castro Henriques, indicou ao ECO que a agência pública, que este ano já atraiu 42 novas empresas estrangeiras para o país, num total de investimento de 2.500 milhões de euros, “não tem nenhum contrato de investimento assinado com a Adidas”.
Questionada sobre quais os serviços que vão deixar de ser prestados a partir de Portugal, fonte oficial da Adidas respondeu ao ECO que “várias áreas vão ser deslocalizadas, como as relacionadas com a contabilidade”. Quanto às novas que podem vir para Portugal, foi mais evasiva: “Isso ainda está sob revisão, por isso não conseguimos partilhar informação sobre isso nesta fase”.
“O objetivo é agrupar as competências de forma mais uniforme nos vários locais. O escritório no Porto vai continuar, assim, a desempenhar um papel importante para a empresa”, insiste o grupo germânico, recusando associar esta decisão à atual conjuntura económica.
Autarquia e TecMaia apanhados de surpresa
A Câmara Municipal da Maia diz ao ECO que “não tem conhecimento da intenção da Adidas em fazer despedimentos na sua unidade” instalada no concelho. “Estamos a tentar obter a informação necessária, através de canais próprios e, a confirmar-se, apesar de se tratar de uma empresa privada, iremos acompanhar a situação com natural preocupação“, acrescenta a autarquia liderada por António Silva Tiago.
Estamos a tentar obter a informação necessária, através de canais próprios e, a confirmar-se, apesar de se tratar de uma empresa privada, iremos acompanhar a situação com natural preocupação.
Também o presidente do conselho de administração da Espaço Municipal, a empresa que gere o TecMaia, reconhece ao ECO que não tinha conhecimento dos planos da multinacional alemã, acreditando ser uma “reestruturação que vai abandonar algumas áreas e avançar para outras”. Fialho de Almeida mostra-se até surpreendido por esta decisão, uma vez que a empresa “continua com muitas oportunidades de carreira em aberto para várias áreas”, como tecnologias, contabilidade ou recursos humanos.
O gestor municipal desabafa que “é evidente que uma pessoa que está na Maia e que sabe da reestruturação de uma empresa com a dimensão da Adidas fica preocupada porque há gente que fica sem emprego”. No entanto, espera que este inquilino do parque tecnológico maiato, onde emprega cerca de 700 pessoas, esteja apenas a “dar um passo atrás para depois dar dois em frente”.
É evidente que uma pessoa que está na Maia e que sabe da reestruturação de uma empresa com a dimensão da Adidas fica preocupada porque há gente que fica sem emprego.
“Sempre tivemos uma ótima relação e foi uma empresa muito preocupada com a vertente social. Isto leva-me a pensar que muitas vezes, se não se faz a reestruturação, os resultados podem ser ainda piores, em termos sociais. Se não o fizer, não tem a capacidade de funcionamento e de alargamento que teria. Conhecendo a pessoas que lá trabalham e forma como atuam, leva-me a pensar nisso”, sublinha Fialho de Almeida.
O presidente da empresa gestora do TecMaia, onde estão instaladas 63 empresas que asseguram 2.500 postos de trabalho, insiste, em declarações ao ECO, que “nada fazia crer” neste desfecho, que “é uma surpresa”, supondo que “pode também ter a ver com a questão da recessão na Alemanha”. A Adidas Global Business Services ocupa atualmente um edifício com cerca de 7.300 metros quadrados, para onde se mudou em 2020. “Mudaram de espaço porque cresceram para o dobro em três anos, em termos de equipa”, justifica Fialho de Almeida.
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