Diretor da PJ diz que ninguém o “calará” porque tem obrigação de “agitar as águas”
O diretor da PJ disse que ninguém o “calará” porque tem “obrigação, idade e estatuto para poder agitar as águas”, depois do bastonário dos advogados ter apresentado uma participação disciplinar.
O diretor da Polícia Judiciária (PJ) disse na terça-feira que ninguém o “calará” porque tem “obrigação, idade e estatuto para poder agitar as águas”, depois do bastonário da Ordem dos Advogados ter apresentado uma participação disciplinar devido a declarações suas.
“Trabalhei 23 anos e meio na área do crime violento, tratei de decisões muito duras e corajosas para salvar vidas, estive em situações operacionais de elevada perigosidade (…) e não era agora uma situação destas que me iria causar qualquer rebuço, qualquer receio, até porque, eu tenho obrigação, idade e estatuto para poder agitar as águas”, afirmou Luís Neves.
O bastonário dos Advogados reagiu e, nas suas redes sociais, escreveu que “o senhor Diretor Nacional da Polícia Judiciária tem que perceber que a sua função não é ser “agitador de águas” e que, se a cédula profissional lhe deu trabalho a conquistar, também dá trabalho a manter, como sucede com todos os advogados. Se quer manter-se como advogado, tem que cumprir os deveres deontológicos da advocacia, e entre eles inclui-se o de não prejudicar os fins e prestígio da Ordem dos Advogados e da advocacia.”
O diretor da PJ reagia ao facto do Conselho de Deontologia de Lisboa da Ordem dos Advogados (CDLOA) ter criticado declarações suas e confirmado que a participação disciplinar apresentada pelo bastonário Luís Menezes Leitão “seguirá agora a devida tramitação”.
Em causa estão declarações de Luís Neves numa entrevista ao Observador em 17 de outubro, na qual disse que nos processos de criminalidade económico-financeira há um “terrorismo judiciário, com recursos permanentes e incidentes processuais que entorpecem os autos” até uma decisão final, responsabilizando os advogados por essa situação e considerando que é uma das causas para a morosidade da justiça.
No final da cerimónia comemorativa do 77.º aniversário da PJ, no Porto, Luís Neves realçou que “todos” têm responsabilidades nos atrasos processuais, por isso, que “ninguém se ponha de fora”.
Luís Neves garantiu que “nunca quis faltar ao respeito, nem falta ao respeito a ninguém” recordando que, antes de ingressar na PJ, foi advogado com “muita honra e orgulho”, tendo a cédula profissional dado trabalho a conquistar.
“Eu digo e repito, a nós, polícias, só nos move uma coisa que é a descoberta da verdade material, mas há quem queira fugir dessa descoberta da verdade material. Nós nunca nos desviaremos desse caminho”, frisou.
O diretor da PJ salientou que ninguém o calará, nem lhe tirará o bem mais precioso que tem “que é a liberdade”, liberdade essa que, disse, exercita “para contribuir para que as coisas no país possam ser cada vez melhores”.
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