OIT prevê menos ofertas de trabalho no último trimestre do ano
Um novo relatório da OIT nota que o aumento do desemprego e das desigualdades no mercado de trabalho contribuirá para a disparidade entre economias desenvolvidas e economias em desenvolvimento.
As ofertas de trabalho irão diminuir e o crescimento do emprego irá deteriorar-se a nível global no último trimestre deste ano, prevê a 10.ª edição do ILO Monitor sobre o Mundo do Trabalho. De acordo com o relatório, elaborado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), o desemprego e as desigualdades no mercado de trabalho deverão aumentar, em resultado de múltiplas e sobrepostas crises económicas e políticas, o que contribuirá para uma “disparidade contínua” entre economias desenvolvidas e economias em desenvolvimento.
Embora o impacto da Covid-19 tenha diminuído na maioria dos países, essa crise está a ameaçar a recuperação do mercado de trabalho, alerta a OIT. Desde logo com o aumento da inflação, que começou ainda em 2021 e está agora a provocar a queda dos salários reais em várias economias, situação que vem juntar-se a quebras significativas nos rendimentos durante a pandemia – que, em muitos países, afetaram sobretudo os trabalhadores que auferem os salários mais baixos.
Segundo o relatório divulgado esta segunda-feira, o número de horas globais de trabalho estava a recuperar fortemente no início de 2022, nomeadamente nas profissões mais qualificadas e no emprego feminino. Porém, tal deveu-se a um aumento dos empregos informais, pondo em risco a tendência de 15 anos para a formalização.
Assim, o agravamento das condições do mercado de trabalho está a perturbar tanto a criação de emprego como a qualidade dos empregos, salientando o documento que “já existem dados que sugerem um forte abrandamento do mercado de trabalho”. Entre eles constam as estimativas do nível de horas trabalhadas no período entre julho e setembro, que, segundo a OIT, foi 1,5% inferior aos níveis pré-pandemia, o que representa um défice de 40 milhões de empregos a tempo inteiro.
Com as sucessivas crises, agravadas pelo conflito na Ucrânia, os efeitos estão a ser sentidos através da inflação nos preços dos alimentos e da energia, no declínio dos salários reais, na desigualdade crescente, políticas de contração económica e maior endividamento dos países em desenvolvimento. Nesse sentido, um abrandamento no crescimento económico e na procura agregada irá contribuir também para reduzir a procura de mão-de-obra, uma vez que a incerteza e o agravamento das expectativas afetam a contratação de trabalhadores, alerta ainda o ILO Monitor sobre o Mundo do Trabalho.
“Fazer face a esta profundamente preocupante situação de emprego global, e evitar uma quebra significativa do mercado de trabalho mundial, exigirá políticas abrangentes, integradas e equilibradas tanto a nível nacional como mundial”, afirmou o diretor-geral da agência das Nações Unidas, Gilbert F. Houngbo, citado no relatório.
Detalhando o tipo de políticas necessárias para combater o agravamento das condições do mercado de trabalho, Houngbo sugere que os governos intervenham nos preços dos bens públicos; redistribuam os lucros inesperados das grandes empresas; reforcem a segurança dos rendimentos através da proteção social; aumentem o apoio ao rendimento; e medidas específicas para ajudar as pessoas e empresas mais vulneráveis.
Por isso, o relatório da OIT adverte que políticas económicas excessivamente restritivas podem causar “danos consideráveis ao emprego e aos rendimentos tanto nos países avançados como nos países em desenvolvimento”.
O diretor-geral da agência da ONU apelou ainda a um “forte empenho” em iniciativas como o Acelerador Global para o Emprego e Proteção Social das Nações Unidas, bem como ao “rápido fim do conflito na Ucrânia”. “Ajudaria os países a criar 400 milhões de empregos e a estender a proteção social aos quatro mil milhões de pessoas que atualmente estão desprotegidas”, assinala.
Emprego na Ucrânia deverá diminuir em 15,5% este ano
No relatório divulgado esta segunda-feira, a OIT apresenta uma melhoria das estimativas para a Ucrânia relativamente às projeções de abril. Agora, a expectativa é que a Ucrânia registe um decréscimo do emprego em 2022 de 15,5% em relação aos níveis do ano passado, o que se traduz numa perda de 2,4 milhões de postos de trabalho, quando em abril previa uma diminuição de 4,8 milhões de empregos.
Esta evolução positiva é uma consequência da redução do número de regiões na Ucrânia sob ocupação ou onde se verificam conflitos armados. No entanto, esta recuperação parcial do mercado de trabalho é modesta e altamente frágil, alerta o ILO Monitor, notando que o grande número de pessoas deslocadas e refugiadas à procura de emprego na Ucrânia e noutros locais aumenta as dificuldades e é provável que conduza a uma pressão descendente sobre os salários.
A OIT estima que 1,6 milhões, ou 10,4%, das pessoas que constituíam a mão-de-obra total do país no período anterior à invasão russa, são refugiadas noutros países. Este grupo é esmagadoramente constituído por mulheres, cujos empregos eram nos setores da educação, saúde e social. Recentemente, um inquérito revelou que, até à data, 28% dos refugiados ucranianos tinham encontrado emprego ou estavam a trabalhar como independentes nos países de acolhimento.
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