“O setor automóvel é muito cético quanto à massificação dos elétricos”, garante secretário-geral da ANECRA
ACEA estima que Europa irá voltar a liderar na eletrificação até 2030, mas sublinha necessidade de um investimento 22 vezes superior ao atual. Roberto Gaspar, da ANECRA, questiona rumo da transição.
A Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA) estima que o mercado europeu de veículos elétricos a bateria (BEV) irá assumir a liderança no processo de eletrificação do mercado automóvel. No entanto, atualmente, quase 20% de todos os novos carros registados na China são BEV, pelo que o país oriental se encontra à frente tanto da Europa como dos EUA.
A entidade europeia prevê que o mercado europeu de BEV fique pouco aquém dos 30% em 2025 e ultrapasse os 70% até 2030, altura onde irá assumir novamente a liderança mundial no processo de eletrificação. Contudo, a ACEA garante que o principal obstáculo à eletrificação diz respeito à implantação de postos de carregamento no território europeu, sendo esta uma barreira que só pode ser ultrapassada se os governos intensificarem os seus investimentos em infraestrutura.
De momento, quase metade dos postos de carregamento elétrico europeus encontram-se em apenas dois países: os Países Baixos (90 mil carregadores) e a Alemanha (60 mil). Para atingir o objetivo de uma redução de 55% dos níveis de CO2 provenientes dos automóveis de passageiros, a ACEA estima que sejam necessários 6,8 milhões de postos de carregamento públicos, em toda a Europa, até 2030.
Isto significa que, com base nos dados atuais, é necessário um investimento europeu 22 vezes superior ao atual em menos de 10 anos.
Postos de carregamento elétrico por país e por percentagem face ao total da Europa (2021)
Em 2021, Portugal dispunha de apenas 1,3% (4.124) do total de postos de carregamento elétrico na Europa, embora seja o quarto país com mais carregadores por cada 100km.
No entanto, para Roberto Gaspar, secretário-geral da Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel (ANECRA), “estamos nesta lógica da eletrificação não porque a indústria decidiu que o futuro é elétrico, mas porque os políticos, nomeadamente a comissão europeia, decidiu que até 2035 os carros serão elétricos ou 0% emissões”.
Em entrevista ao ECO, Roberto Gaspar não esconde o sentimento do setor automóvel face à eletrificação. “O setor automóvel, de uma forma geral, é muito cético quanto à massificação dos elétricos”, sendo que para o responsável, este segmento de veículos é pressionado em várias frentes, nomeadamente na infraestrutura e na disponibilidade das matérias-primas necessárias.
Neste sentido, a aposta nos combustíveis baixos em carbono (dos quais se incluem os combustíveis sintéticos e biocombustíveis) representa uma das melhores apostas para baixar as emissões de CO2, pois “não estaríamos à espera dos novos carros para baixar as emissões, seria possível intervir numa boa parte dos carros do atual parque circulante”, assegura o secretário-geral.
Para este fim, Roberto Gaspar defende a necessidade de uma “coordenação de vontades” dos diferentes intervenientes do mercado, “seja dos principais atores da distribuição, combustíveis, ou mesmo com o Estado a incentivar este tipo de projetos”.
O secretário-geral da ANECRA refere mesmo que o investimento neste modelo alternativo possibilita uma redução das emissões de CO2 mais efetiva, sendo esta compatível com o investimento na eletrificação, já que fabricantes como a Audi se encontram a apostar em motores com combustíveis sintéticos.
Adicionalmente, a possibilidade de usar combustíveis sintéticos nos atuais veículos em circulação iria implicar “mudanças mínimas na sua mecânica”, além de “não ser necessário criar toda uma nova geração de motores”, esclarece Gaspar.
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