Reorganização das urgências pediátricas em Lisboa será diferente do Porto
"Não vamos fazer nada que se assemelhe com o que foi feito no Porto, pois reconhecemos que é um processo que tem de estar alicerçado a um fortalecimento" dos centros de saúde, disse o ministro.
O ministro da Saúde garantiu esta quarta-feira que a reorganização das urgências de pediatria na região de Lisboa e Vale do Tejo não se vai assemelhar ao que foi feito no Porto, que tem uma resposta melhor nos cuidados primários.
“Não vamos fazer nada que se assemelhe com o que foi feito no Porto, pois reconhecemos que é um processo que tem de estar alicerçado a um fortalecimento dos cuidados de saúde primários“, afirmou Manuel Pizarro.
O governante, que falava na Comissão Parlamentar de Saúde, onde está a ser ouvido sobre a reorganização dos serviços de urgência de Ginecologia e Obstetrícia na região de Lisboa e Vale do Tejo, assim como nos serviços de psiquiatria e nível nacional e das urgências gerais, reconheceu que o modelo de urgência pediátrica do Porto “funciona bem”.
“Havia três urgências, agora há só uma e funciona de forma organizada”, disse Manuel Pizarro, apontando a fusão das urgências pediátricas dos hospitais de Santo António, Maria Pia e São João.
Quanto às urgências pediátricas de Lisboa e Vale do Tejo, cujo plano de funcionamento está a ser trabalhado pela Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS), afirmou: “Não antecipemos o debate. Do ponto de vista técnico, temos propostas dos profissionais que são bastante mais radicais do que o que a Direção Executiva está a preparar“.
“Isto nada tem que ver com o encerramento das urgências de pediatria de Loures”, afirmou o responsável, sublinhado que tal decisão foi imposta pela carência de profissionais no hospital.
Segundo explicou, “o diretor do serviço de pediatria de Loures disse que, últimos três anos — e isto nada tem que ver com a PPP [parceria público-privada], que terminou há menos de um ano – cada pediatra fez mais de 700 horas extra [limite legal], o que explica a exaustão que motivou esta situação”.
“Vamos organizar o melhor modelo possível. Mas não criemos a ideia de que ter estas urgências abertas 24 horas por dia é a única forma” de atender às necessidades desta população, disse o ministro, explicando que “75% [das crianças que vão às urgências] são triadas como não urgentes e a esmagadora maioria dos atendimentos é feita até às 20h00”,
Questionado sobre o funcionamento das urgências obstétricas em Lisboa de forma rotativa, como está atualmente, deu o exemplo dos períodos de Natal e Ano Novo, lembrando que nestes dois fins de semana nasceram 849 bebés e não foram identificadas dificuldades.
“No primeiro trimestre identificámos um problema com uma senhora indevidamente conduzida de Torres Vedras para Abrantes, quando a maternidade mais próxima era Santarém”, disse o ministro, salvaguardando: “Mas quando chegou, foi vista por um obstetra – uma maternidade encerrada tem lá um obstetra — e tranquilamente conduzida a Santarém, onde foi internada e correu tudo bem”.
O ministro disse ainda que o processo de reorganização destas urgências “é transitório até que haja recursos humanos suficientes”.
Sobre a formação de novos obstetras, disse que em janeiro esta formação começou com “o maior número de sempre”, com 54 no serviço público e um na Defesa Nacional. “Sabemos que este sistema é imperfeito, mas muitíssimo melhor do que o sistema de encerramentos que não eram programados e geravam alarme e insegurança nas pessoas e nos profissionais”, acrescentou.
Ministro respeita greve dos médicos e mantém disponibilidade total para negociar
O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, afirmou ainda que respeita “em absoluto” a greve de dois dias dos médicos, iniciada esta quarta-feira, e que a disponibilidade para continuar a negociar com os sindicatos “é total”.
“A intenção do Governo é negociar de boa-fé com os sindicatos dos médicos, como temos feito com os sindicatos das outras carreiras profissionais do Serviço Nacional de Saúde”, afirmou Manuel Pizarro em resposta a questões levantadas por deputados na Comissão de Saúde, onde está a ser ouvido por requerimento do Chega e do PCP sobre as urgências.
A greve foi convocada pelos sindicatos que integram a Federação Nacional dos Médicos (FNAM), que marcou também para esta quarta-feira uma concentração junto ao Ministério da Saúde, em Lisboa, mas não conta com o apoio do Sindicato Independente do Médicos (SIM), que se demarcou do protesto, alegando que não se justifica enquanto decorrem negociações com o Governo.
Entre as reivindicações da FNAM consta a renegociação da carreira médica e da respetiva grelha salarial, que inclua um horário base de 35 horas, a dedicação exclusiva opcional e majorada e a consideração do internato médico como primeiro grau da carreira.
“O facto de haver uma greve que respeito em absoluto não muda nada” nas negociações que estão a decorrer com os sindicatos representativos dos médicos, vincou o governante, assegurando que “a disponibilidade de dialogo é total”.
Manuel Pizarro disse, contudo, que o facto de a paralisação ser promovida apenas “por uma das partes dos sindicatos”, significa que “há pelo menos um sindicato que entende que o protocolo negocial que foi acordado pelos dois sindicatos com o Governo tem um conjunto de temas e um calendário” que estão a “respeitar mutuamente”.
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