Há muito trabalho ainda a fazer ao nível da literacia digital, alerta Pedro Siza Vieira
O antigo ministro da Economia e presidente do 32.º Congresso da APDC defende que é preciso alargar a literacia digital à população mais velha.
O presidente do 32.º Congresso da APDC, Pedro Siza Vieira, considera que “há muito trabalho a fazer ao nível da literacia digital” e o presidente da associação, Rogério Carapuça, destaca o caminho a percorrer “em determinadas faixas da população”.
Em entrevista à Lusa, em antecipação do congresso anual que decorre em 09 e 10 de maio, Pedro Siza Vieira destacou que “nos últimos anos houve” uma “transformação muito grande” no número de pessoas em Portugal que passou a usar com regularidade a Internet.
“Os anos da covid, os anos da pandemia foram anos em que os segmentos muito significativos da nossa população passaram, por exemplo, a fazer pagamentos à distância, a fazer compras à distância, compras eletrónicas, onde muitas empresas passaram a ter uma presença digital e a relacionar-se com os seus clientes através desses canais”, exemplifica.
E, portanto, “houve um acelerar muito grande e outra coisa muito curiosa é que parte muito significativa da nossa população, que era muito renitente na utilização das tecnologias digitais, passou a ter que funcionar nesse sentido”, prossegue o ex-ministro da Economia e da Transição Digital.
No entanto, “acho que há muito trabalho ainda a fazer ao nível da literacia digital”, […]”por exemplo, na população mais velha”, afirma. Ou seja, “se queremos (…) oferecer ao mais vasto número de cidadãos possível a possibilidade de operar no relacionamento com empresas ou com a Administração Pública, através de tecnologias digitais, nós vamos ter que familiarizar uma grande parte da nossa população com estes canais digitais”, aponta.
Um dos programas que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) procura é “a tentativa de dar noções básicas de utilização de tecnologia digital como fazer um pagamento bancário, fazer uma comunicação vídeo com familiares a 800 mil pessoas no nosso país, não são propriamente trabalhadores no ativo, mas são pessoas mais velhas, com mais tempo disponível e que, eventualmente, temos que arranjar canais de grande escala para conseguirmos fazer chegar isso”, refere o presidente do congresso, que este ano tem como tema ‘The Great Digital Tech Disruptions’ (as grandes disrupções digitais).
Esse “é um desafio, mas eu estou convencido que os portugueses têm uma boa capacidade de lidar com coisas novas”, remata.
“Eu concordo com o diagnóstico, nós temos de facto um trabalho a fazer, sobretudo em determinadas faixas da nossa população”, acrescenta o presidente da APDC, Rogério Carapuça, na entrevista à Lusa.
“Dou-lhe só um exemplo: quando eu terminei a minha licenciatura cerca de 8% das pessoas chegavam à universidade, 8% dos alunos. E hoje (…) mais de 35% dos nossos alunos chegam à universidade, o que significa que nas faixas mais novas da nossa população temos uma literacia muito superior como nunca tivemos, não só digital, como nas outras áreas”, aponta.
Porque “o digital tem essa característica também, como vai alterando todas as áreas da nossa vida, vai exigindo mais literacia, não só digital propriamente dita, mas literacia em todas as áreas“, acrescenta Rogério Carapuça.
E, se “queremos defender melhor uma sociedade futura das várias ameaças, a única resposta é termos mais literacia para as pessoas e a nossa dificuldade é precisamente em faixas mais idosas da nossa população, quer na população ativa, quer na população que já não está a trabalhar neste momento, mas que obviamente participa na sociedade e essa zona que nós temos que conseguir atingir de uma forma mais forte, com novas competências, quer digitais, quer outras, porque, reforço, o facto de dispormos hoje das tecnologias digitais obrigam-nos a ser mais literados também em todas as outras áreas”, sublinha o presidente da APDC.
“É também um objetivo (…) que é fundamental para o nosso país, além de outros como aumentar naturalmente a capacidade que as empresas têm de aproveitar a tecnologia digital” para melhorar a produtividade, a eficiência, “porque é uma coisa que a nossa economia precisa muito”.
A ‘tokenização’, representação de ativos físicos por digitais, os avanços da inteligência artificial e o potencial de ganhos da Administração Pública com o digital são alguns dos temas em debate na 32.ª edição do congresso da APDC, que vai realizar-se nos dias 09 e 10 de maio.
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