Texas tem investidores com “muito interesse em Portugal”
Portugal é visto como potencial destino para filmagens e captar investidores daquele estado norte-americano. Problemas com a banca não afastam interessados.
O secretário de Estado da Internacionalização, Bernardo Ivo Cruz, disse à Lusa que há investidores no Texas interessados em oportunidades em Portugal, no rescaldo da sua primeira visita oficial a este estado norte-americano.
“Tivemos reuniões com potenciais investidores que têm muito interesse em Portugal, não só pelo que tem para oferecer mas também Portugal como plataforma de negócios para a Europa e para os países de língua portuguesa”, afirmou o governante.
Bernardo Ivo Cruz disse que também “há boas oportunidades para as empresas portuguesas” no Texas, que seria a nona maior economia do mundo se fosse um país independente.
O secretário de Estado esteve em Houston depois de passar por Austin, onde a AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal teve, pela primeira vez, um espaço no grande evento de indústrias criativas South by Southwest (SXSW).
“O objetivo era estabelecer um conjunto de contactos com vários setores do Texas que têm interesse para a economia e empresas portuguesas e que, por sua vez, têm interesse em Portugal e na economia portuguesa”, descreveu.
“Os contactos que estabelecemos foram muito interessantes e com potencialidade, nomeadamente nas áreas das tecnologias de informação, cinema e televisão”, salientou.
Bernardo Ivo Cruz disse que Portugal é reconhecido pelas empresas destas áreas como um país com condições naturais “excelentes” e com muita imaginação e capacidade de inovar.
“Tivemos conversas interessantes com produtores de televisão que estão a olhar para Portugal como potencial destino de filmagens”, disse. “O facto de termos um filme português nos Óscares também ajudou a chamar a atenção para o nosso país”, frisou, referindo-se a “Ice Merchants”, de João Gonzalez, que foi nomeado para o Óscar de Melhor Curta-Metragem de Animação.
O governante referiu que Portugal já tem uma relação económica com o estado, nomeadamente ao nível da energia, sendo que há empresas portuguesas com relevo na economia texana.
“A EDP Renováveis é um bom exemplo de uma empresa portuguesa que tem um papel muito importante no Texas“, afirmou o secretário de Estado. “Se nós temos interesse no gás natural do Texas, o Texas tem muito interesse nas nossas energias renováveis”, acrescentou.
Nas reuniões com responsáveis estaduais e da cidade de Houston, Portugal foi identificado com “um bom caso de estudo e de investimento, tecnologia e conhecimento” nas energias renováveis, disse Bernardo Ivo Cruz. “Há um interesse mútuo nesse setor que é importante para nós e para o Texas”, sublinhou.
Em Houston, a visita incluiu uma ida à Rice University, que tem um centro importante de desenvolvimento de tecnologia, e ao Texas Medical Center, descrito como o maior centro de investigação científica aplicada para a medicina do mundo. “Têm muito interesse em algumas empresas portuguesas e nas nossas universidades, nos nossos centros de investigação e fundações”, realçou o secretário de Estado.
Houve ainda reuniões com empresas tecnológicas e uma paragem na agência espacial norte-americana. “Tivemos boas reuniões com departamentos importantes na NASA para aquilo que são as nossas ambições de desenvolvimento do setor aeroespacial”, frisou o governante.
Há a perceção de que Portugal é um país aliado e integrado na NATO e com quem os Estados Unidos confortavelmente podem trabalhar em áreas mais sensíveis nos setores ligados à Defesa e aeroespacial, sublinhou.
Por outro lado, “há a perceção de que Portugal é um país moderno, voltado para o futuro, com boas empresas e boas universidades, com boas oportunidades que é preciso identificar e explorar”, acrescentou Bernardo Ivo Cruz.
A visita terminou com uma receção à comunidade portuguesa em Houston, que está “bem instalada” e pode contribuir para o estreitar dos laços com Portugal, disse.
“Estamos a passar por uma boa fase no nosso relacionamento económico com os Estados Unidos e empresas americanas que escolhem Portugal para se instalarem na sua entrada no mercado europeu”, disse ainda o governante, referindo que não é só Califórnia e Costa Leste que têm oportunidades.
“Há um continente inteiro entre a Costa Oeste e a Costa Leste dos Estados Unidos”, sublinhou.
Colapso de bancos não assusta
O colapso de dois bancos nos Estados Unidos é fonte de preocupação mas não assusta investidores norte-americanos interessados em Portugal.
“Foi tema de preocupação dos investidores americanos”, disse o secretário de Estado. “Quando fizemos as reuniões com os investidores no início da visita, tinha acabado de se dar a falência do Silicon Valley Bank” (SVB), explicou.
O colapso do banco, a que se juntou o encerramento do Signature Bank, causou alarme esta semana pelo receio de contágio no sistema financeiro. A situação levou a que 11 bancos se organizassem na quinta-feira para resgatar o banco First Republic e dar um sinal de confiança.
“Houve perguntas sobre a solidez do sistema bancário europeu e português”, indicou o secretário de Estado. “Mas acho que os nossos interlocutores ficaram esclarecidos, principalmente com o facto de que nós fazemos parte da zona euro e o nosso sistema bancário é regulado duplamente”, frisou.
“É regulado pelo Banco Central Europeu e pelo Banco de Portugal, e portanto isso deixou os investidores mais descansados”, continuou. Bernardo Ivo Cruz salientou que não foram perguntas de “grande angústia” mas sim sobre o funcionamento do sistema de regulação do setor financeiro em Portugal.
O encerramento pelas autoridades do SVB tem levantado questões sobre regulação e o seu impacto no segmento das start-ups, em especial ‘fintechs’ (tecnologia para a área financeira) foi imediato, devido ao peso do banco no setor.
Este foi um “revés para toda a indústria”, disse à Lusa Marius Galdikas, CEO (presidente executivo) da ConnectPay, uma plataforma tudo-em-um de soluções financeiras. Embora a empresa não tenha exposição ao banco, Galdikas referiu que o colapso será sentido por todo o setor, especialmente pelas novas empresas ‘fintech’.
“A confiança é uma moeda importante no setor financeiro e sofre um golpe sério de cada vez que um evento destes ocorre”, disse Galdikas. “Isto vai atrasar o desenvolvimento do setor ‘fintech’, em especial no que toca a negócios de ativos virtuais”, disse o CEO, que considerou que será mais difícil para as start-ups obterem financiamento.
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