CFP agrava previsões para inflação e desemprego. Preços sobem 5,9% em 2023
Conselho das Finanças Públicas (CFP) reviu em alta previsões da inflação para 5,9% em 2023 e da taxa de desemprego para 6,4% até ao próximo ano.
Ainda num contexto de muita incerteza, o Conselho das Finanças Públicas (CFP) não mexeu na estimativa de crescimento do PIB este ano, mas reviu em alta as previsões para a inflação e o desemprego. Vê agora o índice harmonizado de preços acelerar 5,9% em 2023 e 3,1% em 2024, enquanto a taxa de desemprego se deverá fixar nos 6,4% nos dois anos.
Estes números representam um agravamento face à taxa de inflação de 5,1% e 2,2% em 2023 e 2024, respetivamente, antecipada pelo CFP nas projeções de setembro. O organismo liderado por Nazaré da Costa Cabral sinaliza que a “normalização da política monetária por parte do Banco Central Europeu, assim como o progressivo desvanecimento das restrições na oferta deverão contribuir para a redução das pressões inflacionistas ao longo do horizonte de projeção”.
A previsão para a aceleração da inflação neste ano fica, assim, ainda mais acima daquela estimada pelo Governo no Orçamento do Estado, de 4% em 2023.
A previsão da taxa de desemprego é também mais elevada face à estimativa de 5,3% e 5,1% no cenário divulgado no ano passado. Tal reflete “a manutenção de uma trajetória de ligeiro aumento na taxa de participação no curto prazo, em linha com a evolução recente desse indicador”, indica o CFP. No entanto, no médio prazo “projeta-se a manutenção do emprego e a redução gradual da taxa de desemprego até 5,8% da população ativa”.
Já no que diz respeito à evolução da economia, o CFP continua a ver um crescimento do PIB de 1,2% em 2023. Já para 2024 a previsão é revista em baixa, de 2% para 1,8%, mas em alta para 2025 de 1,8% para 2%.
“O abrandamento projetado para 2023 resulta da redução quer no contributo da procura interna, quer no contributo das exportações líquidas”, explica o organismo, tendo na base a “desaceleração expressiva do consumo privado” e do investimento. Isto numa altura em que continua a incerteza e a inflação em níveis elevados, tendo também a influência do “agravamento das condições de financiamento, que contribuem para a erosão do poder de compra dos consumidores e para o adiamento das decisões de investimento por parte dos empresários”.
Ainda assim, a “aceleração na absorção dos fundos europeus associados ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)” deve ajudar a impulsionar o crescimento do investimento, ainda que maioritariamente por via na componente pública.
É de sinalizar que esta projeção é feita num cenário de políticas invariantes, ou seja, não considera as novas medidas de política, nem medidas já anunciadas mas não legisladas nem quantificadas. Além disso, estas projeções foram finalizadas antes dos recentes desenvolvimentos em instituições bancárias nos EUA e Suíça e da mais recente decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), alerta o CFP.
Guerra, reabertura da China e fraca execução do PRR são riscos ao cenário
O CFP identifica alguns riscos para este cenário macroeconómico que se prendem em grande medida com a elevada incerteza. Fatores como a guerra na Ucrânia, o impacto da reabertura da China nos preços e a fraca execução do PRR podem comprometer o abrandamento da inflação e dificultar o crescimento económico.
“A continuação da guerra na Ucrânia, o aumento do preço das matérias-primas devido ao processo de reabertura da China, a possível desancoragem das expectativas de inflação no médio prazo e a transmissão da dinâmica inflacionista às componentes menos voláteis do IPC poderão levar a uma taxa de inflação mais elevada e persistente do que a atualmente considerada pelo CFP”, alerta o organismo, sendo estes os principais riscos sobre os preços.
Como consequência, os bancos centrais podem decidir “acelerar os processos de normalização da política monetária, prejudicando quer a procura interna devido ao impacto que a subida das taxas de juro tem numa economia com um elevado grau de endividamento como a portuguesa, quer a procura externa dirigida a Portugal, devido ao abrandamento da atividade económica dos principais parceiros comerciais nacionais”, salienta o CFP.
Além disso, apesar do organismo já estar a prever uma taxa de execução do PRR abaixo dos 100%, essa pode ficar ainda mais abaixo do que o esperado, prejudicando a evolução do investimento e, por sua vez, o crescimento económico.
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