Certificados de Aforro e fundos de tesouraria pressionam depósitos bancários
Nos últimos seis meses, o investimento em ativos concorrentes aos depósitos a prazo tem aumentado significativamente, com os particulares a procurarem soluções mais rentáveis para as suas poupanças.
Os bancos estão a ser fortemente pressionados por aforradores e investidores a aumentarem a remuneração dos depósitos a prazo. Um dos sinais de alerta é dado por uma queda de 4,6 mil milhões de euros de depósitos nos dois primeiros meses do ano. Nunca o volume de depósitos bancários registou uma contração tão grande quanto a que se está a assistir este ano.
Como resultado de uma contínua oferta de baixas taxas de juro dos depósitos, os particulares estão a procurar outras soluções de investimento com nível de risco e de liquidez semelhantes aos depósitos para aplicaram as suas poupanças.
Um dos portos de abrigo tem sido os Certificados de Aforro. Só nos primeiros três meses deste ano, as famílias aplicaram mais de 9 mil milhões de euros das suas poupanças em Certificados de Aforro; e, nos últimos seis meses, o stock de Certificados de Aforro aumentou mais de 14 mil milhões de euros, o equivalente a 50% dos 28,6 mil milhões de euros contabilizados no final de março.
A forte subida da taxa de juro destes títulos de dívida desenhados para o retalho, particularmente desde meados do ano passado, ajuda a explicar o aumento da procura: atualmente, os Certificados de Aforro estão a pagar 3,5% contra uma taxa de juro de 0,65% para os novos depósitos.
Mas não são apenas os aforradores que estão a transferir parte das suas poupanças do banco para outro destino. Também os investidores estão a ter o mesmo comportamento.
Desde outubro do ano passado que os fundos de tesouraria, marcadamente constituídos por fundos de curto prazo e fundos do mercado monetário, que investem sobretudo em ativos com muita liquidez, como sejam Bilhetes do Tesouro e papel comercial, estão a assistir a um forte aumento de subscrições de unidades de participação.
O impacto tem sido de tal forma que as subscrições líquidas dos últimos 12 meses destes fundos passaram de um valor negativo de 298 milhões de euros em outubro de 2022 (o valor mais baixo de junho de 2020) para um valor acumulado dos últimos 12 meses de apenas -6 milhões de euros em março.
Os últimos dados divulgados pela Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios (APFIPP) revelam que nos últimos cinco meses entraram nestes fundos 108 milhões de euros – só em fevereiro os pequenos investidores aplicaram cerca de 50 milhões de euros, o valor mensal mais elevado desde março de 2021.
É certo que os bancos continuam a apresentar uma almofada bastante confortável. De acordo com cálculos do ECO, o rácio de transformação da banca está atualmente no valor mais baixo desde março de 1998: no final do ano passado, por cada 100 euros que captam em depósitos, os bancos emprestam atualmente 79 euros.
Mas as atuais dinâmicas de transferência de poupanças por parte de aforradores e investidores podem rapidamente mudar este panorama. Nos EUA, os recentes fluxos de capital dos depósitos para os fundos do mercado monetário chamaram a atenção da secretária do Tesouro Janet Yellen que chegou a apontar para “vulnerabilidades estruturais” do setor bancário norte-americano, como resultado destas dinâmicas.
“Se há algum lugar de onde as vulnerabilidades do sistema podem surgir é através dos fundos do mercado monetário”, referiu Janet Yellen num discurso numa conferência organizada pela National Association for Business Economics. “Os riscos para a estabilidade financeira colocados pelo mercado monetário e pelos fundos abertos não foram suficientemente abordados”.
Em Portugal, os montantes de subscrições dos fundos de tesouraria ainda são pouco significativos face à dimensão dos depósitos, que em fevereiro situava-se a nos 177,8 mil milhões de euros. No entanto, não são os únicos fundos a registar um aumento da procura.
Só este ano, as subscrições líquidas dos fundos de obrigações aumentaram 218 milhões de euros. Tanto os fundos de obrigações como os fundos de curto prazo e do mercado monetário são maioritariamente procurados por investidores conservadores, dada a natureza dos ativos em que investem.
E segundo os últimos dados da APFIPP, são justamente os fundos mais conservadores que estão a registar um crescimento significativa das subscrições líquidas ao longo dos últimos meses.
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