Avaliação aprofundada à Manutenção no Brasil só foi feita após a compra
PSD vai pedir auditoria feita pela Inspeção-Geral de Finanças ao negócio de Manutenção e Engenharia no Brasil.
Lacerda Machado, antigo administrador não executivo da TAP, revelou que a avaliação financeira aprofundada ao negócio de Manutenção e Engenharia no Brasil só foi feita após a compra. Companhia portuguesa recebeu uma “herança pesadíssima”, reconheceu na comissão parlamentar de inquérito esta quinta-feira.
A avaliação aprofundada à situação da Varig Manutenção e Engenharia (VEM), um processo conhecido como due diligence, só foi realizada após o acordo de compra para o negócio que acabaria por provocar perdas de cerca de mil milhões de euros à TAP e que está em processo de liquidação. O acordo foi celebrado em novembro de 2005.
“Havia uma informação sumária”, afirmou Lacerda Machado. O jurista explicou que ele e o administrador Jorge Sobral, o único executivo português e que tinha responsabilidade sobre a área de manutenção, só depois ganharam “consciência da herança pesadíssima” que a VEM trouxe para a TAP.
Uma herança que para Lacerda Machado resultou das muitas contingências laborais e fiscais deixadas pela Varig e o facto de a VEM ter na altura 4.500 trabalhadores. Explicou também que a empresa, por ter contratos de manutenção com outras companhias aéreas, tinha a tesouraria que mantinha a Varig a voar. “Era a única empresa do grupo Varig que tinha cash“, disse.
“Ninguém foi iludido ao enganado. O problema era começar a detalhar contingências e depois ter informações díspares de sociedades de advogados”, disse aos deputados, considerando que a “realidade mostrou que perspetivas mais assustadoras não se confirmaram”.
Bruno Dias, do PCP, assinalou que o passivo a descoberto da VEM começou por ser de 218 milhões de reais e subiu para 1.581 milhões. As imparidades começaram em 13 milhões de reais e subiram para 1,856 milhões.
O plano da TAP “era que em sete ou oito anos não só recuperaria como seria uma unidade lucrativa. Correu pior do que o esperado”, assumiu Lacerda Machado, que tal como na audição de terça-feira na Comissão de Economia, afirmou que a VEM, entretanto rebatizada para TAP ME Brasil, “foi o melhor investimento que a TAP fez em 50 anos”, por ter aberto o lucrativo mercado brasileiro à companhia. Um argumento disputado pelo deputado Bruno Dias, que salientou que em 2005 o Brasil já pesava mais de 30% nas receitas com a transportadora a operar várias rotas. “Não foi a VEM que abriu a porta do Brasil, porque a TAP já lá estava”, disse.
O PSD vai solicitar à Inspeção-Geral de Finanças uma auditoria feita por esta entidade à TAP ME Brasil, que o antigo administrador executivo disse desconhecer.
O negócio da Varig Manutenção & Engenharia nasceu para tentar salvar a companhia de bandeira brasileira, através da sua compra pela TAP. A ideia partiu de Fernando Pinto, então CEO da transportadora aérea portuguesa e que tinha exercido o mesmo cargo na congénere brasileira, contou Lacerda Machado.
O jurista participou no negócio como advogado e depois administrador da Geocapital, que ajudou a financiar a aquisição da VEM. Lacerda Machado explicou que os 63 milhões pagos pela TAP para comprar a VEM e a Varig Log (logística) foram financiados pelo BNDES (42 milhões), o banco de desenvolvimento brasileiro, e pela Geocapital (21 milhões).
A Geocapital, que teve Stanley Ho entre os acionistas, chegou ao contacto com Fernando Pinto no âmbito de conversações para a venda da participação da TAP na Air Macau. A companhia tinha investidores em comum com a Geocapital.
Aquela holding ficou com 85% do capital da Reaching Force, a sociedade que comprou a VEM, e a TAP os restantes 15%. Gorada a possibilidade de salvar a Varig, a Geocapital afastou-se do negócio e a TAP devolveu o financiamento. Lacerda Machado garantiu que Geocapital não recebeu qualquer prémio, mas apenas os 21 milhões emprestados acrescidos de um juro de 7%, e “nem mais um cêntimo”. A Varig Log foi vendida com uma mais-valia de sete milhões para a TAP, garantiu.
Jurista, amigo do primeiro-ministro, Diogo Lacerda Machado liderou a negociação que resultou na reversão parcial da privatização da transportadora aérea, permitindo à Parpública ficar com 50% dos direitos de voto, com a Atlantic Gateway a baixar a participação dos 61% para os 45%. Foi na sequência da recompra das ações pelo Estado, em 2017, que Lacerda Machado entrou para a administração, saindo em abril de 2021. É atualmente diretor da Geocapital e da Mystic Invest, uma holding de investimentos no turismo.
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