Combustíveis fósseis continuarão a definir preços da eletricidade para lá de 2030

Apesar de as energias renováveis passarem a ser responsáveis pela produção de um terço da eletricidade até 2030, o carvão e o gás continuarão a ser determinantes no preço da energia elétrica.

Miguel Gil Tertre
Painel “Mudanças estruturais nos mercados da energia e implicações para a inflação” (da esquerda para a direita): Javier Blas, colunista da Bloomberg; Christiane Baumeister, professor da universidade de Notre Dame; Isabel Schnabel, membro da administração executiva do BCE; Ida Wolden Bache, governadora do Banco da Noruega; e Miguel Gil Tertre, economista-chefe da Comissão Europeia

Ainda está longe o dia em que a Europa conseguirá livrar-se da volatilidade dos preços dos combustíveis fósseis. Miguel Gil Tertre, economista-chefe da Comissão Europeia, antevê que “os combustíveis fósseis continuem a fixar os preços da eletricidade durante um número significativo de horas em 2030.”

Apesar dessa realidade, Miguel Gil Tertre estima que, dentro de sete anos, “as energias renováveis vão ser responsáveis pela produção de um terço da eletricidade.” À margem do Fórum do BCE, que está a decorrer entre esta terça e quarta-feira em Sintra, o responsável da Comissão Europeia adianta ainda que antevê uma redução do consumo de energia até 2030 em cerca de um terço face aos números de hoje.

Energias renovaveis

Todas essas variáveis contribuirão para o processo de descarbonização da Europa e teriam sido bastante úteis na proteção da economia europeia durante o último ano contra a subida dos preços dos combustíveis fósseis, que promoveram a galopante subida da taxa de inflação no espaço do euro. “O aumento da capacidade instalada de fontes de energia renováveis pode ajudar a limitar os picos de preços, minimizando o papel do gás na produção de eletricidade. Mas levará tempo a produzir efeitos muito dramáticos e variará de país para país”, nota o economista.

Para os quatro participantes do painel de discussão “Mudanças estruturais nos mercados da energia e implicações para a inflação”, é notório que a crise de preços 2021-2022 não foi provocada pelas tecnologias verdes/limpas. O foco principal da escalada da inflação prendeu-se a três variáveis: redução do fornecimento de gás natural da Rússia, incerteza e receio de escassez (grande pico entre junho de 2021 e setembro de 2022), como documenta Miguel Gil Tertre na sua intervenção.

Na economia norte-americana e da Zona Euro, a escalada da inflação foi sentida com muitas semelhanças. Christiane Baumeister, professora da universidade de Notre Dame, relata que tanto a inflação dos EUA como a da Zona Euro registaram saltos semelhantes em termos de impacto face ao choque da oferta no mercado dos combustíveis fósseis no último ano.

No entanto, nota que a “repercussão foi muito mais rápida nos EUA, enquanto as consequências inflacionistas são mais persistentes na zona euro, o que aponta para importantes efeitos de segunda ordem.”

Christiane Baumeister salienta, por exemplo, que “as expectativas de inflação das famílias reagem mais fortemente ao impacto nos EUA, mas o aumento inicial desvanece-se rapidamente”. Enquanto que as expectativas em redor da inflação aumentam mais gradualmente na região da moeda única, “o que indica que o aumento dos preços do petróleo está mais enraizado nas expectativas.”

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