Novo relatório da comissão de inquérito já não ignora caso Galamba
Novo relatório da comissão parlamentar de inquérito já inclui desacatos no Ministério das Infraestruturas, mas ficam fora das conclusões.
Os desacatos no Ministério das Infraestruturas que envolveram o ex-adjunto de João Galamba já constam do relatório da comissão parlamentar de inquérito (CPI), bem como a reunião preparatória com a ex-CEO, mas estão fora das conclusões. Já a existência de ingerência política na gestão da TAP continua excluída da nova versão.
Foram acolhidas propostas do PS, Chega, Bloco de Esquerda e PCP, sobretudo no que toca às recomendações. Ao que o ECO apurou, a nova versão documento da responsabilidade da deputada socialista Ana Paula Bernardo, considera total ou parcialmente cerca de 40% das propostas de alteração.
O documento já não passa por cima do chamado “caso Galamba”. “Os acontecimentos ocorridos no dia 26 de abril de 2023 no Ministério das Infraestruturas e seus desenvolvimentos, que foram objeto de várias audições na CPI, são de uma enorme gravidade”, lê-se na introdução.
Considera, no entanto, que “o facto destes acontecimentos – designadamente quanto ao envolvimento dos Serviços de Informação e Segurança (SIS) – não se situarem no âmbito que foi definido para a ‘CPI à gestão política da TAP’ obriga a própria Assembleia da República, e outras instâncias, a tomarem as respetivas iniciativas para que exista um cabal esclarecimento sobre o que se passou, o apuramento das responsabilidades e das respetivas consequências políticas e legais”.
A reunião preparatória com a ex-CEO a 17 de janeiro, antes de comparecer na Comissão de Economia e Obras Públicas, também passa a constar do texto, embora para salientar que “não cai no objeto desta CPI”. Nenhum destes casos consta das conclusões ou sobre eles são assacadas responsabilidades.
Há temas que geraram fricção e que continuam ausentes e as principais conclusões não são alteradas. É o caso da rejeição de ingerência política por parte do Governo na companhia ou a desvalorização das responsabilidades de ex-governantes na indemnização a Alexandra Reis.
As alterações às conclusões são sobretudo de pormenor. No primeiro capítulo é incluída a referência ao processo de recrutamento internacional da ex-CEO, Christine Ourmières-Widener, conduzido pela Kornferry. “Este recrutamento teve um custo de 180 mil euros, o equivalente a 30 meses de salário de um gestor público de topo, numa prática que o Estado deve evitar“, sublinha agora o documento a que o ECO teve acesso.
Ainda a respeito da antiga gestora, passa a constar nas conclusões a “alegação de que em determinado momento, a ex-CEO da TAP poderia ter colocado à disposição da sua família, um carro e motorista da empresa“.
Há também mudanças no que toca ao processo de saída de Alexandra Reis da TAP e à sua entrada na NAV, com um sublinhado sobre as datas do processo. “Alexandra Reis negociou a sua saída da TAP entre 25 de janeiro e 4 de fevereiro de 2022, materializando a saída a 28 de fevereiro e sendo contactada a 22 de março para a possibilidade de assumir a Presidência da NAV”.
Por proposta do PS, é evidenciado que “aquando do seu regresso ao exercício de funções públicas, com a sua nomeação para a presidência do Conselho de Administração da NAV, quatro meses depois, Alexandra Reis não procedeu à devolução da parte da indemnização prevista nos termos do EGP“. Além disso, a CPI apurou que “nenhuma entidade pública detetou o incumprimento da devolução da parte da indemnização prevista nos termos do EGP”.
O papel dos “Fundos Airbus” na capitalização da TAP após a privatização em 2015 é também apresentado com maior pormenor nas conclusões, indicando que a DGN, de David Neeleman, assinou um memorando de entendimento com a Airbus que libertou os 226,5 milhões usados pela Atlantic Gateway para colocar na companhia aérea.
Uma cedência parcial à oposição é a inclusão nas conclusões de que “mesmo com a reconfiguração acionista, o processo entre 2015 e 2020 não resultou numa alteração substancial dos capitais próprios” da TAP. Ou seja, a recompra de 50% do capital pelo Governo PS em 2017 não alterou, nesse prisma, a situação da companhia.
Finanças instadas a publicar relatório sobre privatização
As alterações mais substanciais estão nas recomendações, cujo número é alargado. Nas direcionadas ao Governo está o apelo para que seja pedido à Inspeção-Geral de Finanças uma auditoria ao negócio da TAP no Brasil e aos “Fundos Airbus”, bem como que seja iniciada uma investigação europeia.
“O Ministério das Finanças deve realizar a publicação do Relatório Final da Comissão Especial de Acompanhamento à Privatização da TAP, criada em 2015, cumprindo a legislação”, recomenda-se também.
Nas recomendações às empresas públicas passou a constar que estas “têm que ser particularmente exemplares no respeito dos direitos dos trabalhadores”. “Recomenda-se um especial acompanhamento das matérias sinalizadas pelas estruturas representativas dos trabalhadores, sindicatos e Comissão de Trabalhadores, nomeadamente quando ao efetivo envolvimento à promoção de uma livre e justa negociação coletiva das condições de trabalho e ao reforço de debilitados quadros operacionais da companhia”, lê-se ainda.
O relatório passa ainda a apontar “uma excessiva classificação de documentos como confidenciais, secretos ou de acesso restrito“. “Todas estas situações devem ser comunicadas às respetivas entidades competentes para que se atue e apure cabalmente todas as responsabilidades, incluindo responsabilidades criminais”, pede o documento.
A versão distribuída esta noite aos deputados será a base para a discussão e votação esta quinta-feira, na derradeira reunião da CPI. PSD e Iniciativa Liberal já anunciaram antecipadamente o chumbo do relatório. Resta saber se as alterações introduzidas vão levar os restantes partidos a abster-se ou mesmo a aprovar o documento.
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